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Notícias de Bonito MS

No mundo inteiro, a forma de turismo que mais cresce é a ecológica. E no Brasil, ele tem revelado tesouros.

Descidas geladas, subidas de suar. Retrato do inferno? Não. Álbum de férias.

Botas surradas, mochila e cantil. Ecoturista não embarca no óbvio, faz o próprio mapa.

Ecoturismo é trilha sem fim. Passa numa Amazônia inundada de surpresas: 80 cachoeiras a 100 quilômetros de Manaus.

Praias salgadas ou doces, à sua escolha, em Marajó. Cânions imponentes na Serra Gaúcha. Belezas de um nordeste longe da praia - incrustadas nas rochas da Chapada Diamantina.

Um paraíso, naturalmente lindo, bem preservado, maravilhoso, chamar de bonito é até pouco, mas é o nome do lugar. Bonito, é uma espécie de capital nacional do ecoturismo, no Mato Grosso do Sul. Um lugar que só foi descoberto pelos turistas há pouco mais de 10 anos, mas já virou ponto de referência e bom exemplo de utilização responsável e sustentável daquilo que a natureza deu.

De tão bonito, todo mundo queria ver.

"Vieram primeiro os parentes, os amigos. Todo mundo gostando e trazendo mais", conta o fazendeiro Geraldo Majella Pinheiro.

Começaram a cobrar. Acabaram transformando a velha sede da fazenda em centro de visitantes. Agora, um século de pecuária convive com turistas em roupas de borracha. Um terço do faturamento já vem destes estranhos com suas estranhas montarias.

As inglesas fugiram do asfalto para descobrir: não é só Copacabana e Ipanema. O Brasil tem muito mais a oferecer.

Nesse rastro, vieram a Bonito dez mil estrangeiros - só no ano passado. E 200 mil brasileiros. Uma multidão em busca das cavernas belíssimas, das águas transparentes, de cachoeiras e aventuras. Com o ecoturismo, a economia decolou.

Dez anos atrás, sete pousadas. Agora, 77 opções de hospedagem. Podia ser um desastre: receber uma invasão anual de 12 vezes a população do município inteiro. Mas o pessoal fez bonito:

"Fazendo um comparativo da viagem que nós viemos em 95 e hoje, acho que evoluiu bastante. Acho que os lugares estão bem cuidados", afirma um turista do Rio Grande do Sul.

O olho do pecuarista engorda o turismo: 90% das 37 atrações da região estão em fazendas. Mesmo assim, turista só entra com guia credenciado e autorização oficial.

Os vouchers, controlados pela prefeitura, limitam as visitas. A Gruta Azul, por exemplo, só abre para 305 pessoas por dia.

"Reverte em benefício do município na questão da arrecadação e no meio ambiente na questão da conservação", ensina Aldenir Martins, guia e secretário de turismo de Bonito.

Não por acaso, o atual secretário de turismo é guia - o cargo sempre é de alguém eleito pelo setor.

Hoje, um em cada três moradores da cidade trabalha com ecoturismo. Metade dos alunos da única faculdade estuda turismo. Um aeroporto em construção mostra que a cidade entrou na rota do ecoturismo. Mas quem pousar aqui vai encontrar o mesmo cuidado.

"Nós nos acostumamos desde cedo que, para crescer de forma sustentada e organizada, nós precisávamos criar regras bastante rígidas, pra não depredar o meio ambiente, que é nossa riqueza maior", avisa Henrique Ruas, dono de uma pousada.

Um tesouro que os bonitenses aceitam dividir, desde que as visitas o mantenham como é: mais que bonito.

ANA CAROLINA SACOMAN

BONITO - Longa, a viagem de 278 quilômetros entre Campo Grande e Bonito parece ter um único propósito: elevar a níveis industriais a ansiedade de quem sabe que está a dois passos do paraíso. A cidade, que ganhou o nome-adjetivo por acaso - era a mesma denominação de uma fazenda daquelas bandas -, parece incansável na arte de surpreender.

Na chegada a Bonito, a expectativa ganha doses de apreensão. Numa rápida olhada, apenas ruazinhas tímidas e uma via principal compõem o campo de visão. A inevitável pergunta martela na cabeça: mas onde estão todas as divulgadas maravilhas naturais? Bem, em poucos lugares a máxima "a pressa é inimiga da perfeição" tem tanto sentido.

Nada de avaliar a cidade, com seus pouco mais de 16 mil habitantes, pela primeira impressão. Se o perímetro urbano tem pouco a oferecer, a área rural beira o deslumbre. A dica, então, é partir, sem perda de tempo, para um dos 34 atrativos turísticos catalogados pelo Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio). Todos a pelo menos 10 quilômetros do centro e alcançáveis por estradas com trechos de terra. Nada, porém, que desanime.

  

Sem medo de ser feliz - Priorizar um destino pode ser uma tarefa para lá de árdua, principalmente se o tempo for curto. Uma idéia é diversificar os tipos de tour e incluir um passeio radical e uma ida às cachoeiras. Mas, em hipótese alguma, deixe de lado as duas atrações que fizeram a fama da pequena cidade sul-mato-grossense: a visita a grutas e cavernas e a flutuação pelos límpidos rios locais.

No primeiro quesito inclua, sem medo de ser feliz, a obrigatória Gruta do Lago Azul, a cerca de 20 quilômetros do centro da cidade e destino de 98% dos visitantes que passam por Bonito. Na hora de encarar as águas mais do que transparentes, siga para o Parque Ecológico Baía Bonita que, com seu surpreendente aquário natural, conquista desde o primeiro minuto de mergulho.

É sempre bom lembrar - ou avisar, para quem não sabe - que os passeios são controlados, o número de visitantes restrito e os preços dos tours tabelados. As propriedades em que estão os atrativos são particulares e, na alta temporada, a reserva antecipada é imprescindível. Tudo em nome da preservação deste patrimônio natural - o que, por enquanto, tem dado resultados.

Nem adianta, portanto, pensar em seguir para lá de mãos abanando. O melhor é agendar, antes da viagem, todos os passeios desejados, sob pena de ficar num hotel o dia todo sem nada para fazer. Na Ygarapé Tours ( 0--67-255-1733; www.ygarape.com.br), há pelo menos 25 opções - dos mais tranqüilos aos radicalíssimos.

Aeroporto - Até o começo de outubro, para horror dos preservacionistas, deverá ser inaugurado o aeroporto da cidade. A idéia é que apenas aeronaves de pequeno porte aterrissem por lá. "Nunca deram atenção para isso aqui; a proposta é continuar preservando, sempre tendo em vista a preocupação ambiental", diz o governador do Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT.

Com certeza, a ida até Bonito ficará bem mais prática e rápida. Mas, sem dúvida, perderá o suspense e a ansiedade partilhados secretamente entre os turistas durante as três horas e meia de estrada desde Campo Grande.

Taboa vira estrela quando a noite cai

BONITO - Verdade que a vida em Bonito se resume quase que exclusivamente ao dia. Há até alguns passeios, como o de bote de borracha no Rio Formoso, que podem ser feitos durante a noite, porém, a maioria obedece à luz do sol. Mas nem tudo está perdido para os "baladeiros". À noite, o "quente" da cidade atende pelo nome de Taboa - o bar e a cachaça.

Simpático, o lugar mistura doses de rusticidade e sofisticação e costuma ficar abarrotado na alta temporada, quando a entrada sai a R$ 15,00, sem consumação. E vale a pena. A estrutura do prédio foi montada com materiais da região, como bambu e palha de sapé, num clima meio cidade, meio praia (!). Nos fundos, há uma pequena pista de dança, com música ao vivo nos fins de semana. Todos os que passam por lá deixam alguma impressão rabiscada nas paredes, no melhor estilo do Bodeguita del Medio, o famoso bar de Havana, em Cuba.

A estrela, porém, é a Taboa, cachaça fabricada artesanalmente, com uma receita secreta, mistura que leva, entre outros ingredientes, guaraná em pó, ervas, mel e canela. E, detalhe: a bebida é servida gelada. É um resultado bem interessante e suave. "Inventei essa mistura há oito anos, quando abri o bar e virou um sucesso", conta a proprietária das Taboas, Andréa Braga Fontoura. "Eu mesma preparo a receita, que não foi modificada ao longo dos anos. É o meu lazer."

Apesar de a Taboa ser vendida (R$ 15,00 a garrafinha de 350 ml) em qualquer lojinha da cidade, a dose é servida somente no Taboa. Custa R$ 2,50. No bar, a pinga ganha outras combinações, com frutas por exemplo, num total de 20 drinques.

Boa causa - A cachaça, definitivamente, virou uma mania e também uma boa lembrança de Bonito. É difícil resistir e não levar para casa pelo menos um exemplar da pinguinha adocicada.

Nas lojas, a garrafinha ganha uma embalagem de palha - material também chamado Taboa. O interessante é que esse trabalho é executado por meninos e senhoras carentes da comunidade. Eles recebem R$ 1,10 por garrafa embalada.

"Tinha de inventar algo para que as pessoas participassem do meu trabalho, das minhas conquistas", diz Andréa. Se for por uma boa causa, então, o segredo é pegar leve na dose e levar para casa uma lembrancinha para o pai, a tia, o avô, aquele amigo que adora uma "marvada"... (A.C.S.)

Indígenas modela utensílios com estilo

BONITO - Quem não resiste em rechear a mala de lembranças, pode abrir um grande sorriso. Em Bonito, esqueça as camisetas, os ímãs de geladeira e as canetas de sempre. O melhor de lá é o artesanato produzido pelos povos indígenas da região. De encher os olhos e baratíssimo.

São três as principais tribos que comercializam suas peças: os kadiwéu, os kinikinao e os terena. O artesanato dos dois primeiros povos guarda muitas semelhanças. Explica-se: no passado, os kadiwéu, conhecidos como "índios cavaleiros" e temidos pela belicosidade, dominaram os ancestrais dos kinikinao. Hoje, eles vivem numa mesma reserva, a São João, no norte do município de Porto Murtinho.

Estima-se em 1.500 os remanescentes kadiwéu - muitos moram na região da Serra da Bodoquena, a poucos quilômetros de Bonito. Esses índios lutaram ao lado do Brasil na Guerra do Paraguai (1864- 1870) e, por isso, receberam essas terras do governo.

Somente as mulheres produzem a cerâmica, que é decorada por um padrão fixo e facilmente identificável. Parece um mosaico preenchido com cores fortes e variadas. As pinturas dos desenhos são feitas com tintas naturais, geralmente extraídas de areias de variados tons.

Uma delicadeza do trabalho desses índios são os detalhes brilhantes nas peças. Isso é conseguido com a utilização de resina de árvores. As índias fazem, na maioria, utensílios, como vasos de diversos tamanhos e formatos, pratos, enfeites de parede e também jarros.

Sutilezas - Os kinikinao - estima-se que existam apenas 60 índios dessa tribo em todo o Estado e não muito mais que isso no resto do País - seguem, digamos, a mesma tendência artística dos kadiwéu. As peças de cerâmica trazem desenhos geométricos e as índias também utilizam tintas naturais para a pintura. A diferença chega a ser sutil: as tonalidades usadas na coloração são puxadas para os tons pastéis.

Bem diferente dos anteriores é a arte dos terena - estudos apontam que há 15 mil pessoas pertencentes a essa tribo no Brasil, espalhadas por Mato Grosso do Sul e São Paulo. Eles não costumam fabricar utensílios, preferindo objetos de decoração - representando animais, na maioria.

A cerâmica tem uma tonalidade mais escura, mas não leva pintura e é de uma simplicidade desconcertante. Todas as peças são bem graciosas e o dilema reside no que escolher para decorar a casa. A vontade, na verdade, é levar todas as peças.

Diversidade - Na loja Berô Can (Rua Coronel Pilad Rebuá, 1845; 0--67-255-2294), uma das mais charmosas de Bonito, há artesanato indígena de todo o País, mas o destaque fica mesmo para as tribos locais e para os kadiwéu em especial. Os preços vão de R$ 3,00 a R$ 75,00 - um vaso kadiwéu de um metro de altura.

Uma travessa kinikinao sai entre R$ 26,00 e R$ 35,00 e uma moringa terena (um dos poucos utensílios feitos por este povo) custa R$ 35,00 em média. A cerâmica é encontrada à venda também em barraquinhas dos próprios indígenas. As peças costumam ser mais baratas e mal acabadas. (A.C.S.)

Raio de sol tinge gruta de azul

BONITO ? Se o tempo ajudar, o espetáculo é nada menos do que monumental. As belas formações com idade estimada em 500 milhões de anos da Gruta do Lago Azul ganham contornos quase fantasmagóricos num brilho de sol. A delicadeza, porém, não é testemunhada pela maioria dos visitantes. Afinal, o sutil, mas arrebatador show da natureza tem vez apenas entre os meses de dezembro e janeiro, de manhãzinha ? e dura pouquíssimas horas, duas, no máximo.

É quando o sol incide diretamente no lago que dá nome à gruta e realça o inacreditável azul de suas águas. Bom, na verdade, não é para acreditar naquela coloração mesmo. As águas, claro, são transparentes, mas uma ilusão de ótica as deixa numa tonalidade inesquecível.

Mesmo sem esse privilégio, o passeio fica por muito tempo na memória. Durante os exatos 320 degraus de descida na caverna ? ou 100 metros ?, o guia leva os visitantes a uma espécie de alucinação coletiva. Explica-se: as muitas estalactites (formações rochosas que saem do teto em direção ao chão) e estalagmites (formações do chão ao teto) criam curiosos desenhos. É só deixar a imaginação voar.

Controle ? O passeio até a gruta ? tombada pelo Patrimônio da União em 1978 ? leva mais ou menos duas horas e são permitidos, no máximo, 15 visitantes de cada vez. E nem pensar em encostar numa das paredes, tentar entrar com objetos como tripé e sequer falar alto. É bronca na certa. Há ainda outra restrição: ninguém chega até o lago ? nem para molhar os pés ?, ao contrário de poucos anos atrás, quando era permitido até mergulhar por lá.

?Me impressionou o rigor e controle no turismo. Nunca vi algo assim?, diz o escritor e jornalista Zuenir Ventura, que passou por Bonito no mês passado. ?Mas tem de ter controle mesmo. Para quem gosta de ecologia e natureza, não tem lugar mais bonito.?

No fundo do Lago Azul, contam os guias, estão os fósseis de um bicho-preguiça e de um tigre. Segundo eles, os animais foram encontrados um ao lado do outro ? o que, dizem, mostra que caíram no lago durante uma luta há muitos e muitos anos. Também nas profundidades vive um tipo de camarão, albino e cego, encontrado somente por lá.

Para chegar até a gruta, a 20 quilômetros do centro da cidade, é necessário carro particular. O passeio, que também deve ser agendado, custa R$ 10,00 por pessoa ? não é permitida a entrada de crianças com menos de 5 anos.

Levitação ? Das formações rochosas diretamente para a água. A pedida é a flutuação no aquário natural do Rio Baía Bonita, a 8 quilômetros de Bonito, e que atrai aproximadamente 30 mil visitantes todos os anos. Munido de snorkel, roupa de neoprene ? imprescindível, principalmente nos meses mais frios ?, sandálias de plástico e colete salva-vidas, o visitante vai, flutuando, 800 metros rio abaixo. Na verdade, a sensação é de que se está levitando.

A companhia de piraputangas, curimbatás, dourados, lambaris e cascudos, entre outros peixes, é constante. Num ambiente em que a visibilidade se aproxima dos 100%, eles executam graciosos balés, quase sincronizados. Mas, para garantir toda essa visibilidade ? possível porque a água de lá é rica em calcário, uma espécie de purificador ?, é proibido bater pés e mãos, o que turvaria a água. O ?esforço? vale a pena. No ponto mais fundo, com cerca de 3 metros, a beleza dos peixes ganha cores ainda mais contrastantes...

Quem se cansar, pode pedir ajuda ao barqueiro, que segue os grupos para o caso de alguma emergência ? ou de cansaço mesmo ? e seguir ?viagem? do lado de fora. ?Saímos com grupos de, no máximo, nove pessoas, o que garante atenção a todos. Não há perigo?, garante o guia Li Glauber, de 36 anos, há 12 na função. Apesar da alternativa do barquinho, é bem difícil resistir a toda aquela beleza submersa.

  

Animais ? Depois da flutuação, deve-se caminhar mais 800 metros para voltar até a sede. Quem quiser, pode, ainda, conferir a Trilha dos Animais em que, de determinados pontos e munidos de binóculos, os visitantes tentam identificar espécies pantaneiras de animais em 20 hectares de área. Os passeios começam às 7h30 ? a última turma sai às 15h30, para pegar os últimos raios de sol.

Somente a flutuação custa R$ 90,00 por pessoa nos meses de alta temporada (na baixa, sai pela metade do preço). Com a Trilha dos Animais, o passeio sai a R$ 128,00 por pessoa na alta estação (e R$ 77,00 nos meses de pouco movimento). (A.C.S.)

Diversão extraída de águas límpidas da região

BONITO ? A aposta, neste passeio, é um tantinho radical. Um bote de borracha leva aventureiros num percurso de 6 quilômetros no Rio Formoso. No caminho, são ultrapassadas três cachoeiras e duas corredeiras. No final, resta um friozinho na barriga.

Antes de ?se jogar? na aventura, o guia explica algumas atitudes indispensáveis para o bom funcionamento do passeio, como a posição para se enfrentar uma cachoeira. É bom preparar braços para longas remadas ? o negócio é bem cansativo. Se estiver um pouquinho frio, então, o jeito é esquecer e tentar não sofrer muito com os pés quase congelando na água.

Mas nada disso tira a vontade de passar pelas cachoeiras, corredeiras e afins. Na maior parte do percurso, a tranqüilidade é absoluta, tempo para se apreciar pássaros e alguns animais nas margens. Nas quedas-d?água, aproveite para gritar muito. No verão, há paradas para descanso e, quem quiser, pode dar algumas braçadas na água.

O passeio termina na Ilha do Padre. O lugar, de 20.600 metros quadrados, pertence a um ex-padre, excomungado da Igreja Católica e que foi preso por envolvimento com o narcotráfico. Há dois meses, ele colocou a ilha à venda, por R$ 6 milhões ? mas, ao que consta, nada foi negociado. No fim do passeio, é comum encontrar o ex-sacerdote anunciando chocolates quentes, café e a ?pinguinha do padre?. O passeio custa R$ 50,00 na alta temporada e R$ 40,00 na baixa.

Cachoeiras ? Tour um pouco mais contemplativo, a ida até a Estância Mimosa, a 24 quilômetros de Bonito, pode ser uma dica de passeio mais ?light?. A fazenda, de 400 hectares, abriga pelo menos uma dezena de cachoeiras ? oito podem ser visitadas. No caminho, de mata ciliar, há cinco locais para banho em piscinas naturais. Para os corajosos de plantão, uma plataforma de 6 metros de altura faz as vezes de um trampolim num poço natural.

Nesta época, as águas estão bem geladas ? 17 graus, em média. Mas é um pecado deixar de entrar numa das cachoeiras. Tente pelo menos um mergulho rápido para renovar as energias. No caminho de volta à sede da fazenda, fique atento ao aparecimento de algum dos animaizinhos que costumam dar as caras por lá (já foram catalogadas 130 espécies de aves e mamíferos).

Se a fome bater, esse é o momento. Na volta, dependendo do horário, há um almoço caseiro ou um lanche especial esperando pelos visitantes. No almoço, de cardápio variado, a estrela é a sopa paraguaia que, diferentemente do que pode parecer, é um espécie de bolinho de milho, cebola e queijo. Mais uma curiosidade culinária: na mesa das saladas, um ?corredor? abastecido com água de uma nascente a um quilômetro da sede mantém verduras e legumes fresquinhos.

No lanche, é a vez de pães caseiros com manteiga e requeijão, bolos de chocolate, baunilha e cenoura, servidos com cafezinho tirado na hora, com capricho. Para se esquecer do regime. Não é à toa que lá a sesta é seguida à risca: para deleite dos comilões, várias redes estão à disposição, sob um parreiral, convidando a um cochilo. Custa R$ 45,00 na alta e R$ 37,00 na baixa estação, incluindo almoço. (A.C.S.)

Não há como ignorar o trocadilho: Bonito é realmente muito bonito. A natureza foi ímpar em suas atribuições, e os privilegiados foram os turistas, que a cada ano descobrem, no Mato Grosso do Sul, a 278 quilômetros da capital do estado, Campo Grande, esse paraíso. As atrações vão da simples contemplação - que em Bonito ganha um novo sentido - à mais pura adrenalina, especialmente concebida para os adeptos dos esportes radicais.

Bonito fica na Serra da Bodoquena - que abriga a maior extensão de florestas preservadas do Mato Grosso do Sul - e possui o maior aquário natural de água doce do Brasil. As opções de diversão e aventura são inúmeras: trekking, banhos de cachoeiras, grutas de águas cristalinas, como a belíssima Gruta do Lago Azul, flutuação nas correntezas de rios como Sucuri, da Prata e Formoso, rafting, mergulho autônomo (com cilindros de oxigênio), trilhas de bike, rapel, parapente, ultra-leve.

O santuário ecológico ainda preserva uma admirável diversidade de espécies animais e vegetais. O mais impressionante é observar a riqueza que habita o fundo de rios e lagoas. A visibilidade das águas da região, garantida pela alta concentração de calcário, que funciona como agente purificador, permite que o turista desfrute desse privilégio.

O sucesso do turismo em Bonito está intimamente ligado à preservação da natureza. Qualquer passeio nesse santuário é acompanhado por um guia local registrado.

Nesse contexto, foram criados o Parque Ecoturístico da Bodoquena e o Projeto Vivo. O primeiro é uma iniciativa da ONG Instituto Peabiru de Ecoturismo e inclui passeios em canoas canadenses, mountain bikes, cavalos e trekking. Já o segundo, promove trekking, rafting no Formoso, passeios a cavalo e atividades especiais para crianças utilizando papel reciclado e reciclagem de lixo. Ambos são empreendimentos de lazer associados à educação ambiental e procuram mostrar como é possível aliar conservação da natureza, ecoturismo e geração de empregos.

A exuberância do Pantanal foi apresentada em 1990 para a grande massa de brasileiros pela novela homônima, de Benedito Ruy Barbosa. Passados 13 anos, muita coisa mudou na região. Áreas como a Gruta do Lago Azul, em Bonito, tiveram de ser preservadas para poderem continuar com a mesma beleza de antes. Entretanto, parece que a diferença mais radical está no fluxo de turistas. O editor Mario Toledo e os repórteres Suzana Velasco e Fernando Quevedo foram conferir que os brasileiros estão cada vez mais descobrindo o Pantanal sul-matogrossense. Se antes a proporção de visitantes estrangeiros era de sete para um brasileiro, agora está em meio a meio. Todos vão buscar uma das regiões mais ricas do país, onde um dia nunca é igual ao outro.

Mato Grosso do Sul, estado pantaneiro

Suzana Velasco
Enviada especial, Campo Grande

O imaginário Mar de Xaraés, que teria originado o Pantanal, é na verdade a maior área úmida continental do planeta, com cerca de 210 mil quilômetros quadrados no Brasil, na Bolívia e no Paraguai. No Mato Grosso do Sul estão 65% dessa imensidão de terras alagadas, banhadas pela Bacia do Alto Paraguai. Imensidão que revela, além das centenas de espécies de animais e de plantas, preciosidades que não podem ser mensuradas: uma história que o nativo pantaneiro conta, uma roda de viola no fim do dia, um pássaro que pousa repentinamente. E, no sul do estado, a transparência das águas de Bonito e Bodoquena é lente de aumento para a já grandiosa natureza.

Ao passear de barco no Pantanal, peça para desligarem o motor e deslize rio abaixo, apenas com a ajuda do remo. É assim, vagarosamente, num passeio que pode durar até quatro horas, que o visitante consegue aproveitar tanta variedade de fauna e flora. Além da lentidão, não usar o motor é ainda um presente às águas, porque não há qualquer risco de vazamento de combustível. É por esse motivo que muitos barcos no Pantanal hoje têm motor elétrico, a serviço da ecologia.

Para o turista, o presente é também para os ouvidos. Sem o barulho do motor, ouvem-se os jacarés ? estrelas pantaneiras ? mergulhando nas águas e o canto dos pássaros, que vai sendo percebido aos poucos por gente da cidade, tão desabituada com os ruídos do mato.

Mas o legítimo pantaneiro reconhece de longe os barulhos e as cores das 652 espécies de aves encontradas no Pantanal, diferenciando o grito agudo do gavião belo do canto da saracura, que, como dizem por lá, indica que vai chover. Sons que poderiam passar despercebidos, se não fosse o olhar local habituado à natureza.

É assim que se entende o porquê da frase que se costuma ouvir na região, estampada até em camisetas: ?No Pantanal, siga o pantaneiro?. Em algumas fazendas, os nativos trabalham em conjunto com guias especializados, avistando os animais e contando histórias locais.

? O Pantanal é lindo, principalmente as pessoas daqui, que nos fazem sentir parte de uma família. O guia foi extraordinário ? conta o australiano Andrew Eastwood, referindo-se ao pantaneiro Carlos Antônio Soares, da Pousada Rio Vermelho, no Pantanal do Abobral, região tão plana que é alagada mesmo na seca.

Pantanal do Abobral? Sim, são dez ?pantanais? em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, cada um com características específicas de relevo e fauna, e vegetação típica da Amazônia, do cerrado, do Chaco e até da caatinga.

No Hotel Recanto Barra Mansa, onde todos os guias são pantaneiros, o turista passeia nas límpidas águas do Rio Negro, navegáveis o ano todo ? durante a seca ele fica raso, mas não seca ? e encontra pássaros como o biguá, a biguatinga e o colorido martim-pescador, que se alimentam de algumas das 264 espécies de peixes da região. Afluente do Rio Paraguai, o Negro é um dos mais preservados do Pantanal, devido a seu difícil acesso.

? O pior pescador daqui é o jacaré. Ele não mergulha para pescar. Fica parado se fingindo de morto e esperando o peixe chegar, para dar o bote de lado ? explica Daniel Rondon, que administra o hotel, no Pantanal do Rio Negro.

Segundo o biólogo Ricardo Soares, que trabalha na Pousada Araraúna, para que o turista tenha a chance de ver mais e diferentes animais deve fazer o passeio de manhã cedo ou à tardinha, horários em que o sol não é tão forte ? já que, mesmo no inverno, a fauna se recolhe para se proteger do calor intenso do sol. Se o rio tem margens largas como o Miranda, precisa-se de ainda mais atenção para ver os animais, às vezes escondidos em meio à vegetação, como o pássaro arapapá e o bugio (espécie de macaco), que raramente desce ao solo.

Mas não se preocupe, pois os jacarés estão em toda parte, imóveis, com a cabeça empinada e os olhos arregalados e fixos em algum ponto que desconhecemos. Sem precisar de sorte, 30 deles são vistos em apenas cinco minutos.

? A mata ciliar, que fica às margens dos rios, impede seu assoreamento, pois sustenta os barrancos. Os frutos caem das árvores e alimentam os peixes ? explica Ricardo, durante passeio pelo Rio Correntoso, também no Pantanal do Rio Negro.

Profundo e de leito bem definido, o Correntoso tem trechos margeados por cambarás, árvores típicas de regiões alagadas, que roubam a cena dos tradicionais aguapés da beira dos rios. Seu amarelo se mistura com as cores dos pássaros, como o cor-de-rosa do colhereiro, com bico em forma de colher. Além das aves, podem-se ver capivaras ? os maiores roedores do mundo ? e ariranhas.

O espetáculo começa antes de o sol raiar

O dia no Pantanal começa cedo. E ele, o dia, será sempre anunciado por um personagem que vai acompanhá-lo durante toda a sua estada: o arancuã. Com o seu canto, que os pantaneiros imitam dizendo ?que-ro-ca-sá?, ele vai tirar você da cama antes mesmo de o sol raiar. O arancuã canta sem parar até que o sol chegue no seu ninho. Quando isto acontece, ele bate as asas, sai do galho e o seu dia começa.

Depois do espetáculo do arancuã, que será repetido todas as manhãs, chega a hora do café da manhã que é servido em conjunto pois as atividades geralmente são feitas por todos os hóspedes, ao mesmo tempo.

Em terra, os programas durante o dia são divididos em cavalgadas, caminhadas ou safáris fotográficos. O grupo sai logo depois do café da manhã e volta antes do almoço. Depois dá uma bela descansada para fazer outro programa em terra por volta das 15h.

Durante as três horas de passeio, os turistas assistem a um desfile de animais. Um desfile real, sem as jaulas de um zoológico. Embora ameaçada de extinção, a arara-azul é figurinha fácil nas cavalgadas e caminhadas pelas fazendas.

Capivaras e porcos-do-mato também aparecem bastante, mesmo sem ter os projetos de preservação das araras-azuis.

Difícil mesmo é ver a onça-pintada, a principal estrela pantaneira. Se você não tiver a sorte de ficar frente a frente com ela, com certeza vai levar de recordação a história de ter passado pelo esqueleto de um animal, durante uma caminhada. As onças-pintadas matam cerca de 50 animais por mês. É a lei de sobrevivência da selva.

O jaburu, ou tuiuiú, surpreende pelo tamanho, bem maior do que aparenta em filmes e fotografias. O tamanduá também é grande e pode ser visto cruzando as estradas. Aliás, uma das placas de sinalização existentes nas estradas do Mato Grosso alertam os motoristas para dirigir com cuidado pois muitos animais, como o tamanduá, cruzam o asfalto, principalmente durante a noite.

Urubu-preto, jacaré, garça, garça-branca e macaco-prego serão parte da lista de animais que você viu. ( Mario Toledo).

Na seca, o acesso à região é mais fácil

Antes de ir ao Pantanal, é essencial saber um pouco sobre os períodos de seca (junho a outubro) e cheia (novembro a maio), que dão cenários diversos à região.

Durante a cheia, as chuvas descem dos planaltos que rodeiam a planície pantaneira. O Rio Paraguai, de baixa declividade, transborda, formando baías, vazantes e corixos de águas rasas, no solo poroso que não consegue absorver tanta água. Água que espalha microorganismos, fertilizando as terras e criando condições para a riqueza de ecossistemas do Pantanal.

Durante esse período, os animais se refugiam nas ?cordilheiras? ? que não são serras, e sim elevações de entre dois e três metros ? e os peixes sobem os rios para a desova, no período denominado piracema. Na cheia, só de avião se chega em grande parte das fazendas.

? O vôo no Pantanal é muito bonito. Os mono e bimotores chegam a voar com segurança a apenas cem metros de altitude. Não há redes de alta tensão nem antenas ? explica Wilson Galeano, piloto há 23 anos.

Já na seca, quando as águas baixam, o acesso ao Pantanal torna-se mais simples. Nessa época, a fauna pode ser vista mais de perto. As vazantes secam e os peixes são mais facilmente fisgados; se na cheia as piranhas são sobretudo predadores, na seca são alimento para aves e jacarés. Beneficiados são os animais típicos do cerrado, como emas, tatus e tamanduás-bandeira.

As temporadas pantaneiras também se refletem nos tipos de Pantanal. Os do Abobral e do Nabileque, de terras mais baixas, são os primeiros atingidos pelas chuvas.

? Aqui recebemos águas de Coxim, Bonito e Aquidauana, que vão para o Rio Paraguai e depois para o oceano. Se você ouvir dizer que este ano o Pantanal não vai encher e quiser ver água, pode vir para cá ? diz o legítimo pantaneiro Juvenal Sintra Lopes, o Neto, referindo-se ao Pantanal do Abobral.

Na Serra da Bodoquena, o desafio é vencer o medo e se aventurar no rapel

Ao sul do estado fica a Serra da Bodoquena ? na verdade um planalto ?, que abrange os municípios de Bonito e Bodoquena e parte de Jardim e Porto Murtinho. A 55 quilômetros de Bonito e a 34 de Bodoquena está o Boca da Onça Ecotur, com cachoeiras, trilhas, rapel e banho no Rio Salobra, assim chamado devido ao magnésio de suas águas, que dá a elas salinidade.

Quem quiser praticar rapel tem antes que treinar em uma torre de sete metros, onde os guias explicam como usar o equipamento. E quem achar que a torre já causou fortes emoções que se prepare. São 90 metros de descida num paredão de calcário, a partir de uma plataforma de onde os menos corajosos podem avistar o Vale do Rio Salobra e se animar para um mergulho em suas águas esverdeadas, onde, devido à fragilidade de seu ecossistema, não é permitida a pesca, com exceção da científica.

Mas quem desce pelas cordas do rapel percebe que o medo maior é mesmo na hora de soltar as pernas e se pendurar. Depois disso, a segurança do equipamento permite que o esportista controle quando e o quanto quer descer, dando-lhe a possibilidade de atingir o solo devagarinho, apreciando a vista, ou mais rápido, em ritmo de aventura.

Depois do esforço, a recompensa. Alguns degraus após o fim do rapel, os 156 metros da maior cachoeira do Mato Grosso do Sul esperam o aventureiro para devolver-lhe o fôlego. Embaixo da Boca da Onça ? assim chamada por causa do formato de cara de onça na rocha ?, há uma piscina natural de até três metros e meio de profundidade, onde não se recomenda mergulho, devido à grande quantidade de rochas.

? O antigo dono não tinha noção de que aqui havia uma cachoeira tão grande. Quando comprei o terreno, estava tudo sujo. Eu só limpei, não desmatei. Toda a madeira para a construção da casa veio do Norte ? conta o proprietário da fazenda, Haroldo Barbosa.

Há dez cachoeiras além da Boca da Onça, porém apenas mais uma onde se pode tomar banho: Poço da Lontra, de cinco metros. As outras, como a Cachoeira do Fantasma e a Buraco do Macaco, podem ser admiradas ao longo da trilha ecológica de quatro quilômetros, bem definida por deques e degraus de madeira.

Depois de um dia cheio de atividades, a melhor opção é nadar nas duas piscinas de águas correntes, ao lado de pintados, e fazer hidromassagem. O local ainda pretende, até o ano que vem, oferecer flutuação no Rio Salobra e passeios de bicicleta.

Quem não se contentar com as cachoeiras de Bodoquena pode visitar o Parque das Cachoeiras, a 17 quilômetros do Centro de Bonito. Lá, em passeio de cerca de três horas, o turista faz trilha, onde vê macacos-prego e cotias, e, na volta, visita grutas e seis cachoeiras formadas por tufas calcárias, com piscinas naturais. Precisa de mais alguma coisa?

Programa noturno para ver jacarés

À noite, nem todas as onças são pardas. Há as pintadas também. Ver o animal é o prêmio de ouro para quem vai ao Pantanal. Prêmio que poucos recebem, sem méritos, pois não há fórmula para que a onça seja vista durante a focagem noturna, oferecida por quase todas as fazendas da região.

Durante o passeio, o guia usa o farolete, uma grande lanterna que foca pontos da mata, procurando, além de onças, outros animais de hábitos noturnos, como a lontra e o lobo-guará. Se é raro ver onças ? não há garantias nem com o ?esturrador?, que imita seu som ?, a noite revela os olhos vermelhos dos jacarés e famílias de capivaras mergulhando nas águas.

Os turistas ficam num carro aberto e geralmente usam capas impermeáveis, pois a noite é gelada. Durante a focagem, que dura de duas a três horas, passam por áreas cada vez mais abertas, e, conseqüentemente, mais frias, mesmo que de dia o calor tenha sido grande. No inverno, a temperatura pode chegar a zero grau à noite. Na Pousada Rio Vermelho e no Passo do Lontra Parque Hotel, o passeio pode ainda ser feito de barco, respectivamente nos rios Vermelho e Miranda.

Mas a noite tem mais do que focagem. Na Pousada Araraúna, os guias nativos Arnaldo Silvério e Celso Vicente da Silva formam a dupla de violão e sanfona, que, em celebração pela temporada na região, anima a última noite dos turistas, tocando música sertaneja, xote e polca paraguaia, e contando ?causos? estranhos e assustadores sobre onças e sacis.

Na Fazenda São Francisco, quando o sol se põe, os hóspedes fazem o ?happy hour pantaneiro?, com caldo de piranha. O local também oferece churrasco em volta da fogueira, ideal para as noites frias de inverno, no céu sempre estrelado, livre da poluição das cidades.

Bonito? Que bonito nada, é lindo!

O nome já diz muito, mas não tudo. A beleza de Bonito não é uma beleza qualquer. Ao sul do Pantanal, a 278 km de Campo Grande, as águas dos rios, cachoeiras e lagos refletem o que Bonito tem de mais bonito.

A cidade não está no Pantanal, mas na última década tornou-se caminho obrigatório para quem vai à região sul-matogrossense. O turismo, que não pára de crescer, tornou impecável a infra-estrutura das atividades, a maior parte delas em propriedades particulares.

Uma das já clássicas atrações turísticas é a Reserva Ecológica Baía Bonita, com flutuação ( snorkeling ) em seu aquário natural. Lá, o visitante é preparado antes de se deparar com o mundo debaixo d?água: snorkel , roupa de neoprene para espantar o frio ? as águas do Baía Bonita têm em média 23 graus ? , sandálias especiais e coletes salva-vidas. Assim vai o turista até a piscina da reserva, para treinamento com a máscara e orientações dos guias. Depois da preparação, um grupo de até nove pessoas chega à nascente do Baía Bonita para flutuar em trecho de 900 metros.

Olhando de fora, nada de tão especial. Vêem-se alguns peixes ? são cerca de 30 espécies ? no límpido rio. Mas ao se mergulhar, o impacto das águas geladas dura segundos, o tempo de se dar conta de que os enormes dourados e a colorida vegetação estão mesmo ali, num mundo à parte. Não é exagero: por terem grande quantidade de calcário, as águas dos rios de Bonito são tão transparentes que às vezes dá para esquecer que se está dentro d?água. E o bom mesmo é isso: esquecer e deixar o curso do rio levar o corpo até o fim do percurso.

Durante a descida das águas, há trechos mais rasos, onde quase se flutua dentro da vegetação aquática. Em outros, mais fundos, as coloridas piraputangas ? em tupi-guarani, seu nome quer dizer peixe vermelho ? nadam juntas aos corpos estranhos dos turistas. Mas nem adianta tentar tocar nelas! Os peixes se afastam a qualquer sinal de maior aproximação.

Quem não quiser mergulhar pode acompanhar o trajeto num barco que segue os ?flutuadores?, porque ali não há nadadores. Pernas e braços devem mesmo flutuar, sem se mexer, para não cometerem o pecado de turvar a água tão cristalina. E se o fôlego estiver no fim, há deques de madeira em alguns pontos do rio, onde dá para colocar os pés e tomar um pouco de ar.

Ao final do trajeto, pode-se ir ao encontro dos rios Formoso, Formosinho e Baía Bonita, e fazer um curto passeio de bote pelo Formoso, de apenas 150 metros, para então relaxar na bóia com cama elástica e se pendurar na carretilha (tirolesa).

Passeios como o da Reserva Baía Bonita também podem ser feitos na Fazenda São Geraldo, onde fica a nascente do Rio Sucuri. Lá, a roupa de neoprene é opcional, apesar de recomendável no inverno, e há flutuação por quase dois quilômetros até a foz, no Rio Formoso. Outra opção é a flutuação no cristalino Rio da Prata, passeio que começa na nascente do Rio Olho D´água, a 50 km de Bonito. Os mais aventureiros podem praticar 30 minutos de mergulho com equipamento scuba , para se sentirem ainda mais perto dos peixes.

No Pantanal há dois tipos de guias: urbanos e nativos

Existem dois tipos de guias no Pantanal. Os nascidos e criados no mato, que têm um olhar de lince e sabem o que significa qualquer mudança de vento, como um galho balançando numa árvore, e que imitam todos os cantos dos pássaros. E os que chegaram na região outro dia, foram criados na cidade grande, mas trazem na bagagem um inglês fluente e cursos superiores em faculdades de biologia ou veterinária. Com a estrutura montada pelas fazendas para receber turistas, principalmente os estrangeiros, um guia acaba precisando do outro.

Ary José Viana, de 46 anos, e Gabriella Zampoli de Assis, de 21 anos, trabalham na Pousada Caiman. Ele é um autêntico pantaneiro. Anda pela pousada de calça jeans, botas, chapéu e com o facão preso à cinta de linha de lã colorida. Ele está sempre à frente do grupo, determinando o ritmo do passeio.

? Ali está um macaco-prego ? aponta seu Ary para uma árvore a metros do distância onde só se vêem os galhos mexendo.

O grupo pára imediatamente e ele, então, começa a ensinar aos urbanos turistas como descobrir o tal macaco-prego, que, na verdade, está pulando de árvore em árvore. Logo, os mais atentos começam a dar urras de satisfação e a mostrar aos que ainda não viram onde está agora o animal. Alguns chegam a falar as mesmas frases pronunciadas pelo seu Ary, como se o texto fosse oficial. E era.

Gabi, como é chamada, saiu de Bauru, no interior de São Paulo, onde trancou a matrícula na Faculdade de Biologia. Ela está sempre com o uniforme dos guias, calça verde oliva e camiseta cáqui, e com um almanaque em inglês que mostra todos os animais do planeta. Sabe preparar o tereré, tem histórias na ponta da língua e em um ano e meio trabalhando como guia, já viu seis onças-pintadas.

? Aqui nenhum dia é igual ao outro porque a natureza está sempre mudando e os turistas também ? diz.

Em comum, eles mantêm a paixão pela riqueza da fauna e flora brasileiras. E você pode até não encontrar seu Ary e Gabi, mesmo ficando hospedado na Cayman, mas certamente terá guias tão diferentes, e ao mesmo tempo, tão parecidos. (Mario Toledo)

Um passeio agradável pela gastronomia regional

Com tantas atividades no Pantanal, a alimentação reforçada é imprescindível. Que bom! Essa é a desculpa perfeita para deliciar a culinária sul-mato-grossense.

O dia começa com o ?quebra torto?, café da manhã pantaneiro que inclui frutas, leite, queijos e pães. Tudo fresquinho e produzido nas próprias fazendas. A refeição matinal pode ter até arroz-de-carreteiro, feito com carne de sol e toucinho ou bacon.

No almoço e no jantar, dá para escolher pratos com todo tipo de peixe: dourado ou pintado a urucum, costela de pacu e caldo de piranha, considerado afrodisíaco pela população local. O acompanhamento pode ser arroz com pequi, fruta típica do cerrado, também usada em licores. Opções mais audaciosas são carne de jacaré ? não tão macia quanto a do peixe, mas muito saborosa ? ou de javonteiro, fruto do cruzamento de javali com porco monteiro.

Quem for a Mato Grosso do Sul também não pode deixar de provar chipa (espécie de pão de queijo com polvilho), lingüiça de Maracaju e o vitelo do churrasco pantaneiro, servido com aipim frito e sopa paraguaia. Não se assuste: a sopa não é líquida, e sim um bolo salgado, feito com farinha de milho. Melhor ainda se for o vitelo orgânico do Pantanal, que é criado solto no campo, não é alimentado com rações e, para crescer, só mama e pasta.

Para beber, o tereré (pronuncia-se tererê) é a bebida típica vinda do Paraguai, semelhante ao chimarrão, mas tomada gelada. Corumbá tem o mate chimarrão, refrigerante verde feito a partir da erva-mate. De sobremesa, forrundu (doce de mamão e rapadura de cana) ou mesmo o brasileiríssimo doce de leite com queijo. E se, ainda depois desse cardápio a energia faltar, a solução é a cachaça Taboa, de Bonito, com mel, guaraná em pó e canela.

Corumbá revitaliza seu patrimônio histórico

Do alto, vê-se a cidade margeada pelo Rio Paraguai, o principal a banhar o Pantanal

Corumbá, cidade de 1778, a mais antiga do Mato Grosso do Sul, tem muita história para contar. Andando pelos cruzamentos da cidade, a 435 km de Campo Grande, o turista se surpreende ao olhar para o lado e, no fim da rua, ver o Rio Paraguai, o mais pantaneiro de todos ? ele é o principal da bacia hidrográfica da região ? e que, de baixo declive, transborda na época da cheia. Com 70% de áreas pantaneiras em seu território, ?a cidade branca?, de terras ricas em calcário, é também chamada pelos corumbaienses de ?capital do Pantanal?.

No Rio Paraguai, a divisão com a Bolívia se dá no Canal do Tamengo, onde a navegação só é permitida com autorização boliviana. No porto fluvial, que de 1870 a 1930 foi o terceiro mais importante da América Latina, há cerca de 70 barco-hotéis, com suítes, cozinha, sala de estar e área aberta. Essa estrutura é possibilitada pela largura média de 170 metros do Rio Paraguai, o que facilita a navegação.

Em 1865, durante a Guerra do Paraguai, Corumbá foi invadida e destruída e a navegação interrompida no Rio Paraguai. O Forte Junqueira foi construído em 1871, depois que a cidade foi retomada do Paraguai. De lá, o turista pode avistar o rei dos rios pantaneiros, que delineia a cidade.

Há cerca de cem construções históricas em Corumbá, 88 delas tombadas em 1992 pelo Patrimônio Histórico Nacional. A maior parte data do fim do século XIX e precisa de obras de revitalização, que vêm sendo impulsionadas pelo Programa Monumenta, do Ministério da Cultura, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Já estão em restauração a Praça General Rondon e a Escadinha da Praça XV, de 1923, que tem mirantes de onde se vê o Rio Paraguai e seus barcos de pesca.

A cidade tem também um aeroporto internacional, que, desativado, hoje só recebe aviões locais, os chamados ?táxis aéreos?. Também desativado, o antigo Trem do Pantanal pode voltar a funcionar no trecho Corumbá-Campo Grande, em projeto que promete revitalizar ainda mais a ?capital do Pantanal?.

O Trem do Pantanal é esperança de mais uma opção de turismo

De 1941 a 1992, o Trem do Pantanal levava passageiros e turistas de Campo Grande a Corumbá, num percurso de 459 km que, em cerca de 12 horas, passava por áreas pantaneiras. Hoje, o trem percorre o mesmo trajeto três vezes por semana, mas apenas para transporte de carga.

No ano passado, o governo do Mato Grosso do Sul fez um estudo de viabilidade, e agora espera acordo entre a União e a concessionária Novoeste, que administra o trecho. Segundo a coordenadora do Programa Trem do Pantanal, Leatrice Couto, o estudo prevê um gasto de R$ 224 milhões para recuperar a malha ferroviária e 15 das 33 estações existentes.

? Pensamos em operar com um trem mais veloz, à noite para passageiros e de dia para o turismo, com paradas mais longas nas estações. O cenário desse trecho é delirante ? exalta Leatrice.

A coordenadora não exclui o transporte de carga e ainda prevê a realização de atividades culturais e recreativas no espaço das grandes estações de trem, como a de Corumbá.

? Torço para que o trem volte logo a funcionar. Lembro as viagens de 12 horas até a capital, quando só havia bife a cavalo no cardápio. Era um trajeto lindo ? recorda a corumbaiense Fátima de Andrade.

Para o sul-matogrossense João Antônio Venturini, a construção da BR-262 foi o principal fator para a desativação do Trem do Pantanal:

? A rodovia poderia muito bem conviver com o trem. A ferrovia foi construída numa altura em que a água não chega, diferentemente da estrada, que chega a ter trechos de 100 km inundados na época da cheia.

A BR-262 é a rodovia principal, uma opção à Estrada Parque, de terra, Área Especial de Interesse Econômico desde 1993, por passar em trechos com grande variedade de fauna e flora, mas que também tem partes inundadas.

Agora, espera-se que haja mais uma opção de transporte com os vagões celebrizados na voz de Almir Sater, na música ?Trem do Pantanal?, de Geraldo Roca e Paulo Simões: ?Enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal/ As estrelas do cruzeiro fazem um sinal/ De que esse é o melhor caminho para quem é como eu/ Mais um fugitivo da guerra?.
SUZANA VELASCO e FERNANDO QUEVEDO viajaram a convite do governo do Mato Grosso do Sul, por meio da Fundação de Turismo do estado. MARIO TOLEDO viajou a convite do Refúgio Ecológico Caiman.

Eclético e barato, Festival de Inverno de Bonito vira centro de badalação nas férias

Sara Duarte ? Bonito (MS)

A moçada descolada já tem um novo ponto de encontro para a temporada de inverno. Longe da badalação de Campos do Jordão, a cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, já tem um festival de inverno de fazer inveja aos eventos do eixo Rio?São Paulo. Com shows de artistas famosos, exposições de arte, palestras com escritores e apresentações folclóricas, do sábado 12 ao sábado 19, a organização do evento esperava receber mais de 30 mil pessoas.

Localizada a 278 quilômetros de Campo Grande, Bonito é conhecida nacionalmente como o paraíso do turismo ecológico. Inscrustrada entre o Cerrado e o Pantanal, atrai turistas de todas as idades com belezas naturais como o rio da Prata, um verdadeiro aquário a céu aberto, excelente para a prática de mergulho, e a Gruta do Lago Azul, formada pela ação da chuva nas rochas de calcário. Há quatro anos, com seu festival de inverno, a cidade passou a ser o destino certo para quem quer férias com diversão e frio ? as temperaturas chegam a zero grau.

O festival de Bonito é feito para ser popular. Cerca de 90% das atrações têm entrada gratuita e naquelas em que é cobrado ingresso os bonitenses pagam meia. As atrações diurnas, como oficinas de dança e encenações folclóricas, acontecem na praça da Liberdade, no centro, enquanto os shows e seminários têm lugar no circo. O rol de atrações também é bastante variado: da MPB de Toquinho e Ney Matogrosso às modas pantaneiras da Família Espíndola, passando pela música eletrônica de Fernanda Porto.

Durante os sete dias de festival, Bonito recebe turistas de todo o Brasil, especialmente da região centro-oeste, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. O resultado é um público eclético. No domingo 13, sob um frio de oito graus, garotas de minissaia pregueada e boina ? o figurino da moda teen ? rivalizavam com garotos de cabelos black power. Vindo de Campo Grande, o casal Mirelle Duailib, 20 anos, e Rodrigo Estrada, 23, era uma amostra disso.

Estudante de direito e jornalismo, ela vestia chapéu de pelúcia e sobretudo preto. O namorado, músico, exibia calça cargo, tênis e dread locks. Mesmo com estilos diferentes, os dois dançavam animados ao som pernambucano do Cordel do Fogo Encantado. ?Também vamos assistir às oficinas de música e a uma palestra do Ziraldo?, contou Rodrigo. Eles estavam hospedados em uma pousada pela pechincha de R$ 35. ?O segredo é reservar antes, porque durante o festival Bonito fica lotada e a diária chega a R$ 100?, diz Mirelle.

Para quem tem amigos ou parentes na cidade, o Festival de Inverno de Bonito já virou programa oficial das férias. Rafael Gomes Vendas e sua prima Isabella Arakaki, ambos de nove anos, passaram a semana assistindo a espetáculos de teatro, cinema e shows. Para eles, a melhor coisa de um festival de inverno numa cidade do interior é poder ir aos espetáculos sozinhos e a pé. ?Avisei a minha mãe para me ligar sempre na hora do almoço, porque durante o dia e à noite eu estaria ocupada?, conta Isabella. Uma das atrações de que mais gostaram foi a encenação do Touro Candil, uma dança em que uma pessoa se veste de boi e as outras, fantasiadas de boiadeiros, ateiam fogo aos seus chifres. ?É uma tradição daqui da região e foi criada por paraguaios que foram à Espanha e viram as touradas?, contou Rafael.

Além do Touro Candil, havia uma série de manifestações folclóricas do Mato Grosso do Sul, como a Saga do Mané do Boi ou as Danças Circulares Sagradas (as cirandas). Durante a semana, artistas e intelectuais de todo o País fizeram apresentações. O grupo Pia Fraus, de São Paulo, mostrou o espetáculo Bichos do Brasil, enquanto os brasilienses da Cia. Ruarte de Bonecos falaram sobre mitos e lendas da Amazônia. Nas oficinas, era possível adquirir noções de percussão com o grupo Maracatu do Baque Virado ou aprender técnicas de clown e mímica com os atores do grupo Lume. O tema ecologia também permeou várias atividades, como o seminário A água doce e o futuro do planeta, presidido pelo jornalista Zuenir Ventura.

Até o governador Zeca do PT entrou no clima de diversão. Sentado na arquibancada, de chapéu de boiadeiro e camisa xadrez, ele aproveitava o show de Zélia Duncan. Um dos idealizadores do evento, o político diz que a idéia é inserir a cidade no calendário de festas nacionais, assim como o Carnaval do Rio de Janeiro. ?Não queremos que Bonito seja apenas destino para ecoturismo. Vamos discutir aqui cultura, folclore e preservação ambiental?, diz. Entusiasmado com o sucesso do festival, que registra um aumento de público de 15% ao ano, ele já planeja realizar eventos semelhantes em Corumbá e Ponta Porã. ?O Mato Grosso do Sul precisa disso para reafirmar sua identidade?, afirma.

Festival de Bonito se firma como via cultural de mão dupla

BONITO, MS - Depois de uma semana de debates, shows, teatro, cinema, dança, mostras e oficinas, acaba amanhã, com apresentação de Zé Ramalho, o 4º Festival de Inverno de Bonito MS, em Mato Grosso do Sul. Fincado no Centro-Oeste do país, o evento oferece uma via cultural de mão dupla. Enquanto os bonitenses e habitantes da região aproveitam a (rara) oportunidade de desfrutar de uma programação cultural intensa - que inclui atrações de várias partes do Brasil -, os visitantes que tem mais uma motivação de montar seus pacotes para Bonito,se deslumbram com a exuberância da natureza local e se vêem diante da chance de conhecer trabalhos que são exemplos de cultura popular ou que misturam a ela referências eruditas.

Para o governo do Mato Grosso do Sul, a iniciativa atende ainda a outros importantes objetivos: o combate à prostituição e a preservação do meio ambiente.

- O festival pretende dar dimensão nacional ao potencial do ecoturismo no Estado. Antes dessa nova política, o que havia, por 25 anos, era o incentivo ao turismo de pesca, que provocou prejuízos ambientais e está ligado ao turismo sexual - diz o governador Zeca do PT.

Além da criação e manutenção do festival, que recebeu 30 mil pessoas ano passado e pretende contabilizar até amanhã 50 mil visitantes em 2003, Zeca conta que pretende investir mais em turismo cultural, com destaque para a revitalização de monumentos da Guerra do Paraguai e a criação de dois eventos como o de Bonito.

O secretário da Música e Artes Cênicas do Ministério da Cultura, Sergio Mamberti - presença constante no festival desde a primeira edição - participou este ano como representante do ministro Gilberto Gil:

- É um espaço de intercâmbio artístico importante e ressalta o cuidado com a natureza. A população usufrui mais do que em outros festivais.

Alheio a maiores discussões, o estudante Tiago Pitthan, 24 anos, que mora em Campo Grande e se muda para Bonito na época do festival, resume a importância do evento:

- A gente não tinha acesso à cultura e ao teatro antes.

Além de belas paisagens, a cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, abriga uma espécie de flor que não se via há 185 anos.

Descoberta no Paraguai em 1815, a Dimerostemma annuum é da família das margaridas e dos girassóis. Foi flagrada pela câmera de um biólogo da equipe que estudava plantas aquáticas na região. A rara margarida alcança um metro de altura e brota na seca, por entre as pedras de calcário de uma lagoa temporária. Nos meses de enchente, ela some debaixo das águas turvas da chuva.