Notícias de Bonito MS
Empreendedores comprometidos com a preservação do meio ambiente e orientados pelo poder público fazem de Bonito um modelo de desenvolvimento sustentável, com a criação de negócios e novos postos de trabalho
Modelo de desenvolvimento sustentável, com incentivo à criação de empresas em harmonia com o meio ambiente, a cidade de Bonito tem esse nome com justa razão. Fica na Serra da Bodoquena, em Mato Grosso do Sul, a 330 quilômetros da capital, Campo Grande. A abundância de lindas paisagens, onde se pode praticar esportes além da simples contemplação, faz dela um centro turístico que recebe cerca de 150 mil visitantes ao ano. Há muito que escolher, entre cachoeiras, lagos, rios, cavernas e paredões.
De seus 17 mil habitantes, quase 40% trabalham no setor, 2,5 mil diretamente (um aumento de 1.000% em relação aos 180 existentes em 1993) e 4 mil, em ocupações indiretas. Essas oportunidades de trabalho começaram a se abrir na década de 90, de maneira muito organizada, com união de esforços e competências. Até o fim do ano passado, mais de 1,6 mil pessoas haviam sido capacitadas, graças a parcerias entre a prefeitura, a Embratur e o Sebrae do Estado.
Ao mesmo tempo foram fundadas associações por segmento de serviço, como agências de viagens, hotéis, transportadoras e comércio. Essas entidades estão ligadas ao Conselho Municipal de Turismo de Bonito, criado em 1995. Nos sete anos seguintes, de acordo com o órgão, o número de agências de turismo subiu de seis para 28 e o de hotéis, de seis para 67, de maneira que a oferta de leitos, antes limitada a 300, é de 3,2 mil.
Até mesmo a quantidade de atrações turísticas foi ampliada, de menos de uma dezena para 32 pontos, a maioria deles situada em propriedades particulares. Para visitá-los, obrigatoriamente os turistas têm de estar acompanhados de um guia credenciado pela Embratur. Essa exigência consta de um decreto municipal criado para garantir a preservação da natureza. Entre os cuidados básicos há itens como a proibição de fumar em trilhas e de caminhar sobre o leito raso de certos rios, para evitar danos à vegetação submersa.
Ao mesmo tempo, as empresas procuram facilitar a vida dos turistas. Um dos instrumentos mais importantes para garantir a qualidade do atendimento, com o mínimo de movimentos para a clientela, é o voucher único, de acesso a vários locais mediante apenas um pedido e onde são centralizados os pagamentos dos passeios escolhidos. Como tudo fica registrado, é um serviço fundamental para o mapeamento do vigor da demanda. Indica, por exemplo, que a média de dispêndio diário por pessoa está na faixa dos R$ 100. Ele permite também o controle dos deslocamentos, de maneira a garantir o limite de visitas por local.
AS MAIORES ATRAÇÕES
A gruta da Lagoa Azul, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é um dos principais pontos turísticos de Bonito. Muito procurados, também, são o Abismo Anhumas, 72 metros de profundidade e um lago transparente, o Buraco das Araras, com 126 metros, e um enorme aquário natural, onde os nadadores convivem com peixes como piraputangas e dourados. O rio Formoso é outra opção muito interessante, para quem gosta de passear de bote ou fazer rafting (descida de corredeiras em barcos infláveis), pela existência de pequenas cachoeiras. Muitos turistas optam por esportes como o rapel (descem suspensos por cordas em paredões, cachoeiras ou abismos), trekking (caminhadas pela mata) e motocross (corridas de moto em caminhos
cheios de obstáculos naturais).
Os mergulhos, porém, são os campeões de preferência, tanto os livres até onde a capacidade respiratória pode suportar, como com os de maior profundidade, com equipamentos, para entrar em cavernas ou conhecer outras maravilhas do mundo subaquático.
Os empresários estão satisfeitos com suas conquistas, a julgar pela experiência de pioneiros como Valdemir Martins, que chegou à cidade há dez anos disposto a abrir uma mercearia. Em vez disso, fez um curso de turismo promovido pelo Sebrae e mergulhou no segmento a ponto de assumir a secretaria municipal dessa atividade, um cargo eletivo, cuja decisão depende da própria coletividade empresarial, a partir de uma listra tríplice. Uma de suas metas é incluir os produtores rurais na cadeira turística, com a realização de uma feira própria. Martins também pretende dar maior atenção a eventos típicos, característicos da cultura local, como a Festa da Guavira.
A carioca Vanda Lúcia Perdigão, há oito anos radicada em Bonito, também está realizada. Para ela, o segmento é instigante, um aprendizado cotidiano, porque não se trabalha com produtos acabados, mas com sonhos. É isso o que buscam os visitantes, além de conforto e acolhimento. Ao chegar, eles esperam sentir-se como se estivessem em uma segunda casa , diz, certa de que, tal como seus colegas, concorre para o progresso do município.
Essa certeza está fundamentada na evolução de resultados positivos na história recente de Bonito, que assim permanece apesar da grande movimentação de visitantes. Prova de que é possível, sim, fazer com a natureza uma parceria de respeito e ao mesmo tempo ter uma boa lucratividade.
ENDEREÇOS:
PREFEITURA DE BONITO/MS: Rua Cel. Pilad Rebuá, 1780 - CEP: 79290-000- (67) 255-1351;
SEBRAE/MS: Av. Mato Grosso, 1661, Centro - CEP: 79002-950 - (67) 389-5468 - www.ms.sebrae.com.br;
VANDA PERDIGÃO: (67) 255-1544 / 9986 4928;
ASSOCIAÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS DE ATRATIVOS TURÍSTICOS DE BONITO E REGIÃO: www.atratur.com.br;
PORTAL BONITO: www.portalbonito.com.br;
EMBRATUR: www.embratur.gov.br
Ecoturismo na maior planície alagável do planeta
A exuberância natural da região abrange 12 municípios dos estados de Mato Grosso (Pantanal Norte) e Mato Grosso do Sul (Pantanal Sul). De meados de novembro ao começo de abril, chuvas alargam o leito do rio Paraguai e de seus afluentes, que transbordam cobrindo uma área de cerca de 230 mil quilômetros quadrados. De maio a outubro, a seca e o sol forte fazem os animais saírem de suas tocas e aproveitarem as campinas para se reproduzirem. Esses dois cenários absolutamente contrários ocorrem em um mesmo lugar, um verdadeiro santuário ecológico que fica logo ali, encravado no Centro-Oeste brasileiro, entre os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
A esta altura, o leitor já percebeu que estamos falando do Pantanal, a maior planície alagável do mundo, um território equivalente a três estados do Rio de Janeiro ou a um Uruguai inteiro. Considerando a extensão norte-sul, a área do Pantanal tem 770 quilômetros, sendo que 83% deste território pertencem ao Brasil. Outros 15% ficam na Bolívia e uma pequena parte no Paraguai, onde recebe o nome de Chaco.
O Lago de Manso é uma das grandes atrações do local
Justamente por estar em uma zona de transição entre os ecossistemas da Floresta Amazônica, Cerrado e os campos abertos do sul, com grande ocorrência de rios, a fauna e a flora da região são extremamente ricas. Esta surpreendente variedade de ecossistemas acabou levando o Pantanal a ser declarado reserva da biosfera pela Unesco, passando a integrar o acervo dos patrimônios da humanidade. Tudo isso só confirma o seu caráter de tesouro ecológico.
O João-de-Barro no seu habitat
Realmente, não há quem não fique paralisado ao entrar em contato com tantos animais, de tão variadas espécies. Se a viagem estiver marcada para este mês, época perfeita para a observação da fauna, é possível que o turista veja mais bichos do que veria em um safári na África. Lógico que aqui não podem ser avistados leões ou elefantes, mas os jacarés e as onças-pintadas, que, com sorte podem ser vistas, já garantem momentos plenos de adrenalina. Tente não ficar hipnotizado para poder fazer as fotografias. Afinal, não é todo dia que 280 tipos de peixes, 90 de mamíferos, 600 de aves e 50 de répteis desfilam a nossa frente.
Tuiuiu é a ave-símbolo do Pantanal
A exuberância natural da região abrange 12 municípios dos estados de Mato Grosso (Pantanal Norte) e Mato Grosso do Sul (Pantanal Sul). De alguns anos para cá, a infra-estrutura, tanto no Pantanal Norte quanto no Sul, tornou-se bastante confortável, satisfazendo aqueles que querem aventura sim, mas não abrem mão de conforto. Antigas fazendas viraram hotéis-fazenda, cujo maior expoente é o Refúgio Ecológico Caiman, no município de Miranda, no Pantanal Sul. Assim, ficou mais fácil, por exemplo, programar uma viagem com crianças.
A capivara é facilmente encontrada
A preocupação ambiental é outro ponto forte da estrutura da região. Os passeios devem sempre ser acompanhados de guias especializados, que informam o que pode e o que não pode ser feito, e o acesso a determinadas atrações tem um número máximo de visitantes por dia. Por isso, a dica é reservar os pacotes com antecedência, de preferência ainda na cidade de origem e através de uma agência de viagens.
Para se chegar até as principais atrações do Pantanal, o ideal é partir ou de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, ou de Cuiabá, capital do Mato Grosso.
Saindo da primeira, o caminho é a BR-262, trecho asfaltado que vai de Campo Grande a Corumbá, cidade sul mato-grossense considerada a ?Capital do Pantanal Sul?. Partindo de Cuiabá, o caminho é a estrada Transpantaneira. São 147 quilômetros de terra ligando as cidades de Cuiabá e Porto Jofre. A recompensa é o visual: a Transpantaneira corta uma região de lagoas e suas 126 pontes funcionam como mirantes para a natureza que se descortina em um imenso zoológico. O tempo médio para percorrê-la é de seis horas. Durante o período da cheia, a utilização de um veículo 4x4 é indispensável.
Um lugar que faz jus ao nome - Entre as surpresas encontradas na região do Pantanal, está Bonito, um imenso aquário natural localizado na Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul. Ali, as opções de diversão são muitas, indo do trekking a banhos refrescantes em belas cachoeiras e visita a cavernas de águas cristalinas, como a famosíssima Gruta do Lago Azul. É a flutuação nas correntezas dos rios, no entanto, o programa mais concorrido. A explicação é simples: a visibilidade das águas da região é espantadora devido à alta concentração de calcário, que funciona como agente purificador. Assim, toda a riqueza que habita o fundo de rios e lagoas está ao alcance dos olhos dos turistas. Mas quem quer associar ecoturismo a altas doses de aventura também encontra o cenário ideal, com possibilidades de fazer rapel no impressionante Abismo Anhumas e rafting no rio Formosinho.
Mergulho e flutuação em águas cristalinas
Cachoeiras, grutas com lagos, rios. A água - de coloração azul-turquesa, diga-se de passagem - é o que faz a diferença na cidade do interior do Mato Grosso do Sul que atende pelo sugestivo nome de Bonito. Localizado entre a Serra da Bodoquena e a planície pantaneira, o lugar entrou no mapa do ecoturismo no Brasil em meados dos anos 90. A grande oferta de atrações rapidamente alavancou a cidade para a condição de referência nacional, com cada vez mais turistas descobrindo os seus encantos.
Além das belezas naturais, o mais interessante a ser observado em Bonito é que o lugar está consciente da necessidade de preservação do meio ambiente
Ali há opções tanto para quem quer apenas relaxar e contemplar a natureza como para os adeptos de esportes para lá de radicais. Trekkings, banhos em cachoeiras, grutas e cavernas, flutuação pela correnteza de rios como o Sucuri, da Prata e Formoso, rafting, rapel, mergulho autônomo, trilhas de bicicleta, parapente e até ultra-leve. Tudo isso pode ser feito em meio ao cenário estonteante da Serra da Bodoquena, que abriga a maior extensão de florestas preservadas do Mato Grosso do Sul.
Além da preservação do verde, Bonito destaca-se por apresentar uma das mais completas áreas de lazer aquático do mundo. Um dos atrativos que confirma esta vocação de "aquário natural" é a Gruta do Lago Azul. Esta não é apenas mais uma das 80 cavernas (secas ou inundadas) existentes em Bonito. Seu diferencial é um lago de tonalidade azul-profundo ladeado por estalactites e estalagmites que dão origem a curiosas figuras de pedra.
O rafting nos rios da região garante adrenalina e emoção para os turistas
O Lago Azul está escondido no interior dos 70 metros de altura da gruta. Para encontrá-lo, é preciso enfrentar, primeiro, uma escadaria de pedra em desnível de 75 metros e alguns degraus escorregadios. Como o trajeto é puxado (no total, percorre-se 360 metros), existem cinco plataformas para se recuperar o fôlego até atingir o objetivo final. A primeira visão do lago é impactante e a primeira coisa que vem à cabeça é "quero entrar ali". O mergulho, no entanto, é proibido. Dedique-se, então, a observar as diversas tonalidades de azul que aparecem devido aos raios de luz que entram na caverna e iluminam o lago de forma descontínua. Entre as estalagmites submersas repousam ainda ossadas pré-históricas de animais, como a preguiça-gigante e o tigre-dente-de-sabre. Por motivos de preservação, a entrada de visitantes é extremamente controlada, sendo permitidas apenas 225 pessoas por dia em horários espaçados para não haver concentração de turistas no interior da caverna. Também não é autorizada a participação de menores de cinco anos no passeio.
Vitórias-régias gigantes
Se o visitante não pôde mergulhar na Gruta Azul, ainda terá uma série de oportunidades pela frente para satisfazer essa vontade. Uma delas é a flutuação (snorkeling) no rio Sucuri, de 1500 metros de extensão, e que, ao contrário do que o nome sugere, não é infestado de cobras. Pelo menos, é o que afirmam os guias locais. Munidos de coletes salva-vidas, snorkel e uma espécie de sapatilha, os turistas vão descendo o rio ao sabor de sua correnteza. A orientação é não bater as pernas (não é permitido o uso de pés-de-pato) nem ficar de pé. Assim, a transparência da água é garantida, já que andando ou nadando as partículas do fundo do rio são trazidas à sua superfície, além de espantar os peixes. O passeio dura em média uma hora e acaba quando o Sucuri deságua no rio Formoso.
O Formoso é outro dos rios troncais da região. Ali também são realizados passeios de bote num rafting leve de oito quilômetros. O percurso tem apenas uma corredeira, ideal para principiantes no esporte. Ao longo do trajeto, três cachoeiras surgem enfeitando a paisagem. Em um dos afluentes do Formoso, o Formosinho, quem preferir poderá dedicar-se a uma aventura com uma dose de adrenalina um pouco mais generosa. A dificuldade deste rafting é maior que a do anterior, com um total de sete corredeiras.
A diferença é que, ao invés de botes coletivos, a descida é feita em bóias individuais, que dão origem ao inusitado esporte chamado bóia-cross. Cada aventureiro acomoda-se em uma bóia de um metro de diâmetro, de preferência de bruços, para poder observar os ecossistemas subaquáticos. Feito isso, resta deixar-se levar pela correnteza. A volta é por uma trilha que beira o rio, permitindo paradas para banhos refrescantes.
Na Fazenda Boca da Onça, é possível fazer mais trilhas na mata, onde surgem simplesmente 12 cachoeiras. A maior do estado, a Cachoeira da Onça, está entre elas. Trata-se de uma queda de 156 metros. Após a caminhada, recupere as energias nas duas piscinas da fazenda nadando ao lado de dourados, piraputangas, cacharas e outros peixes. Outra opção irresistível é a Reserva Ecológica Baía Bonita, um grande aquário natural de água doce, sem correnteza, que permite o snorkeling em águas transparentes. Outra atração da Reserva é a Trilha dos Animais, um parque onde podem ser observados jacarés, cervos-do-pantanal, lobos-guarás e sucuris.
Além das belezas naturais, o mais interessante a ser observado em Bonito é que o lugar está consciente da necessidade de preservação do meio ambiente, através de um turismo sustentável. Para se ter uma idéia, qualquer passeio nesse santuário ecológico é acompanhado por um guia local registrado, que trabalha para que os visitantes respeitem as normas locais. Muitas atrações também têm um número máximo de visitantes por dia, que não pode de maneira alguma ser ultrapassado.
Aventura e adrenalina no Abismo Anhumas
As belezas naturais de Bonito constituem o ce-
nário perfeito para a prática de esportes radi-
cais. Neste quesito, aliás, a região é generosa. Com vários rios, entre os quais se destacam o Sucuri e o Formoso (além de seus afluentes), o rafting é uma das principais atrações. Há corredeiras bem leves, ideais para iniciantes, e outras mais instigantes, para quem já tem alguma experiência no esporte.
Bonito tem esportes imperdíveis com a natureza: bóia-cross no rio Sucuri, e rapel no Abismo Anhumas
O rafting é bastante concorrido, mas a atração principal no roteiro da aventura é, sem dúvida, o rapel no impressionante Abismo Anhumas, que é combinado com o mergulho no lago que se forma dentro da caverna. O lago do Anhumas, na verdade, é uma gigantesca piscina natural do tamanho de um campo de futebol, ideal para a prática do mergulho autônomo. O interessante é que o acesso é feito por uma pequena fenda no solo, que esconde esse imenso lago cristalino. Durante o mergulho, o turista poderá ver um verdadeiro ?vale de cones? embaixo d?água, alguns chegando a medir 20 metros. As margens também seguem o padrão conífero, com estalagmites de diversas formas e tamanhos.
Mas para ter direito a um banho neste lago, é preciso antes vencer o medo: uma descida de 72 metros por rapel, altura equivalente a um prédio de 21 andares. Pela visível dificuldade da tarefa, antes de fazer a descida para valer os guias realizam um treinamento no dia anterior com o objetivo de familiarizar os turistas com o equipamento. Qualquer pessoa está apta à atividade, com exceção de cardíacos, diabéticos e portadores de problemas nervosos ou psíquicos, assim como, pessoas obesas.
Depois de passar pela garganta chega-se a um lago límpido
Os primeiros oito metros da descida são os mais estreitos. Nesta parte, que parece uma garganta com rochas pontudas, é preciso ter atenção para não balançar muito e com isso esbarrar nas paredes. Depois, as rochas vão se abrindo, fazendo surgir o lago e o salão do Abismo, um vão livre com mais de 60 metros. Como a caverna é iluminada apenas pelo feixe de luz que entra pela sua estreita abertura na superfície, o salão não é inteiramente revelado, o que torna a descida intrigante e assustadora, uma vez que ainda não se sabe ao certo o que nos espera lá embaixo.
O visitante "desembarca" da corda do rapel em um deque flutuante, onde a roupa de borracha e o equipamento para o mergulho já estão separados. Quem for profissional pode mergulhar com cilindro, mas não é possível chegar até o fundo em virtude da profundidade de cerca de 80 metros. Porém, como a água é absolutamente transparente, basta iluminar o fundo com a lanterna para apreciar o espetáculo. Mesmo quem ficar apenas boiando na superfície deve usar a roupa de neoprene. A água é muito fria, em torno dos 14ºC.
Nadar no "mar de cones"é ao mesmo tempo assustador e fascinante, uma paisagem daquelas que não se vê todos os dias. O entorno da caverna também merece ser observado nos mínimos detalhes. Um bote de apoio leva os visitantes mais próximo das paredes, na parte seca da gruta. Entretanto, não é permitido descer. Os estalactites formam cortinas e esculturas curiosas, fazendo com que o interior do Abismo lembre uma catedral gótica, escura, fria e imponente.
Chega a hora de voltar para o "mundo real". A subida é feita pela mesma corda pela qual os turistas desceram. As pernas apóiam-se em uma corda auxiliar que vai presa na trava das mãos. Num movimento sincronizado, empurra-se a trava com as duas mãos e encolhe-se as pernas, impulsionando o corpo para cima só com a própria força. A malhação continua até que o topo seja alcançado. Quem passou por essa experiência afirma que o esforço compensa. Na verdade, muitos nem reparam no cansaço porque ainda estão extasiados com a experiência pela qual acabaram de passar.
Bonito - Dicas de Viagem
* Os passeios em Bonito são ecologicamente controlados. Isso significa que o número de turistas por dia é limitado pelo Ibama por razões ecológicas. Na Gruta Azul, por exemplo, só são permitidas 225 pessoas por dia, enquanto no Abismo Anhumas apenas 12 aventureiros fazem o rapel por dia.
* Por esse motivo é imprescindível reservar com antecedência os passeios, principalmente se estiver viajando na alta temporada (de dezembro a fevereiro, julho e feriados). As reservas podem ser feitas por meio de agências locais, credenciadas pela prefeitura (www. portal_bonito.com.br) ou por sua agência de viagem.
* Conforme lei municipal, para visitação dos atrativos turísticos é obrigatório estar acompanhado de guia de turismo local credenciado pela Embratur e cadastrado na prefeitura.
* Para a realização dos mergulhos autônomos é obrigatório ter curso de mergulho.
* Na hora de fazer as malas, lembre-se que seu destino é um lugar ecoturístico e o que mais você vai fazer é caminhar. Portanto, traga roupas leves, chapéu, protetor solar e um bom tênis.
* Estamos entrando na melhor época para se visitar Bonito. O lugar é aprazível em todos os meses do ano, mas de dezembro a março, período das chuvas, a vegetação está mais verde, as cachoeiras caudalosas e os animais aparecem mais facilmente.
* O fuso horário do Mato Grosso do Sul é uma hora a menos que Brasília. Ajustar o relógio é essencial para não perder os passeios com hora marcada.
Pantanal mostra aos turistas a incrível dança das águas
O regime das águas é que dita o ritmo da vida no Pantanal. Na cheia do rio Paraguai e seus afluentes - entre dezembro e o começo de abril - a região fica alagada e os animais migram em direção às áreas mais elevadas, chamadas de ?cordilheiras?. O ?alagamento? acontece por causa do relevo pantaneiro, que é muito baixo. Para se ter uma idéia, os ?picos? da região não passam de 200 metros de altura. Nesta época, portanto, a melhor forma de avistar os bichos é através de passeios de barco, que se tornam o único meio de transporte disponível na região, já que as estradas ficam submersas.
São muitas opções de esportes e lazer
A vazante, período em que os rios começam a voltar ao ser curso normal, a partir de junho, completa o ciclo reprodutivo da fauna. Neste momento, surgem lagoas na paisagem e os animais ficam mais em evidência. Trata-se da época perfeita para realizar os chamados safáris fotográficos. É que com a seca se acentuando, os bichos ficam ilhados nas lagoas e, por isso, tornam-se presas fáceis para as fotografias dos turistas. O Pantanal Sul é onde está a fauna mais abundante e diversificada, porque ali as lagoas surgem em maior número em meio às campinas. Um dos maiores espetáculos é protagonizado pelos pássaros, que fazem revoadas que mais parecem danças coreografadas em busca de peixes.
Campos alagados e cavalos livres nos pastos
Falando em aves, vale citar que a região do Pantanal é considerada uma das mais importantes do continente americano para as aves aquáticas, com destaque para as populações de tuiuius, biguás, garças, colhereiros e patos de diversas espécies. Fazem também parte da exuberante fauna os cervos do pantanal, veados campeiros e mateiros, queixadas, lobinhos, tamanduás, tatus e jacarés, que são encontrados facilmente, e outros mais difíceis de serem avistados, como a onça-pintada (considerada o maior felino das Américas), a lontra e a ararinha, todos ameaçados de extinção.
Gastronomia a base de peixe é o forte da região
Para qualquer roteiro, a dica é acordar cedinho para ver o sol nascer. O amanhecer também é o horário mais indicado para a observação dos bichos, que costumam visitar a beira dos rios por volta das 5h. Outra opção é fazer os safáris no final da tarde, quando os turistas também são recompensados pelo céu alaranjado do pôr-do-sol. Não deixe de fazer as tradicionais cavalgadas por terrenos alagados, com água pelos joelhos. Outro programa imperdível são os passeios de barco por manguezais e florestas ciliares, que rendem ótimas fotos. Quando anoitecer, não pense duas vezes em fazer a focagem de jacarés. O passeio pode ser feito de barco ou de carro, em veículos 4x4. Munidos de lanternas, os turistas iluminam a mata e observam os olhos das feras brilharem no escuro.
Nos meses de maio a julho, é possível ainda fazer um snorkeling no rio Touro Morto (próximo à cidade de Aquidauana) ao lado de piranhas, arraias e até mesmo jacarés. Passeios de caiaque ou barco a motor pelo rio Negro é outra excelente alternativa para observar a vida animal. Os adeptos da pesca esportiva também encontram o cenário ideal para a atividade, no sistema pesque e solte. Quem gosta de caminhadas, irá encontrar trilhas de todos os jeitos e dificuldades.
O Pantanal é um dos melhores lugares do mundo para pesca
Portões de entrada - As capitais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as cidades de Cuiabá e Campo Grande, respectivamente, são as portas de entrada para se descobrir o Pantanal, apesar de ambas estarem geograficamente fora da região pantaneira. Ali chegam vôos de diversas capitais do país e internacionais. A partir de Cuiabá, o turista poderá explorar a região norte-pantaneira, indo até Poconé, Barão de Melgaço, Cáceres e Porto Jofre, localizada no final da rodovia Transpantaneira. Já Campo Grande é a cidade de partida para o Pantanal Sul, passando por Aquidauana, Corumbá, Miranda e Porto Murtinho.
Essas regiões dão origem a oito "pantanais", diferentes entre si. O Pantanal Sul é considerado o mais bem conservado e intocado ecossistema do planeta. Ali vivem aproximadamente 650 espécies de aves, 240 espécies de peixes, 50 de répteis, 80 de mamíferos, além de uma diversidade de flora: palmeiras, orquídeas, fafeno, taboa e centenas de outras espécies.
Em Barão de Melgaço, uma enorme área alagável com campos e matas que ficam submersos boa parte do ano, o turista poderá conhecer grandes baías, como a de Chacororé e Siá Mariana. Passeios de barco levam os visitantes para junto dos animais, com direito à visita a ninhos de pássaros e à focagem noturna de jacarés. A prática de esportes de aventura, como rapel e rafting, também está no roteiro, assim como o passeio a mais de 26 sítios arqueológicos na região de Rondonópolis, com registro de civilizações que viveram por ali há nove mil anos.
Cáceres, por sua vez, está próxima da fronteira com a Bolívia e destaca-se por seus enormes paredões rochosos que formam a Serra das Araras e dão origem a cachoeiras irresistíveis. Um diferencial do lugar é que ali há um aeroporto com capacidade para aviões de grande porte. Outro destaque é o Festival Internacional de Pesca, que movimenta a cidade no mês de setembro. O evento é considerado o maior do gênero do mundo. Na pequena Porto Jofre, última cidade da Transpantaneira, a tônica também é a observação das belezas naturais, sendo que o lugar fica às margens do rio Cuiabá e junto aos rios São Lourenço, Piquiri, Negro e Negrinho, os principais afluentes do Pantanal.
No Pantanal Sul, as maiores referências são mesmo Corumbá (considerada a capital da região) e Aquidauana. Esta última é uma simpática localidade e hospitaleira, que tem 70% de sua área total dentro do Pantanal. Ali, a pesca teve fundamental importância no desenvolvimento do turismo, atraindo grande quantidade de pescadores nas temporadas e finais de semana.
Corumbá, situada às margens do rio Paraguai, abrange 60% do Pantanal Sul (ou 37% do Pantanal inteiro). Trata-se da principal cidade comercial da região pantaneira, onde pode ser percebida uma grande influência européia e platina. Durante a Guerra do Paraguai (de 1864 a 1870), o lugar foi dominado pelas tropas de Solano Lopes, o que resultou na destruição de boa parte da cidade. Após a retomada pelo exército brasileiro, o porto foi reaberto e iniciou-se a reconstrução da cidade. Hoje, o Turismo é a principal atividade econômica local ao lado da pecuária. Além disso, por estar localizada na fronteira com a Bolívia,
Corumbá tem uma Zona Franca, o que torna a compra de produtos bolivianos nas cidades de Puerto Suarez e Puerto Quijarro uma atividade bastante convidativa.
Pescaria liberada até novembro
A maior planície alagada do mundo, como não poderia ser diferente, guarda uma incrível variedade de peixes, que atrai os amantes da pesca esportiva. Entre as cerca de 263 espécies da região, as mais cobiçadas são os pintados, cacharas, pacus e dourados. A temporada de pesca no Pantanal vai de março a novembro. Nos demais meses, a atividade é proibida, já que é o período da piracema, época em que os peixes sobem os rios em direção às nascentes para desova.
No Pantanal Sul, os principais destinos são Corumbá e Aquidauana, onde existe uma série de hotéis-fazenda situados à beira dos rios Negro, Miranda, Vermelho e Touro Morto especializados em atender turistas com este objetivo de viagem. Como está às margens do rio Paraguai, a cidade de Corumbá também oferece condições favoráveis a boas pescarias. De lá partem embarcações rio acima ou rio abaixo, buscando os melhores pontos para soltar o anzol. Há inclusive muitos barcos-hotéis que passam dias navegando pelos rios. Quem fizer questão de conforto, no entanto, pode optar pela hospedagem na própria capital.
Dicas para se explorar a região
* Cruzar parte do Pantanal de barco. Existem diversas operadoras que oferecem este serviço. Para quem gosta de pesca, existem excursões especializadas.
* Fazer uma excursão de jipe, acampando em meio à selva. Existem diversas operadoras que fazem este tipo de tour, que geralmente dura cinco dias. Estas excursões também podem ser feitas a cavalo.
* Hospedar-se em uma fazenda, e, a partir desta, fazer passeios de barco, jipe, cavalo e a pé. Algumas delas estão em regiões bem remotas do Pantanal, e o traslado é feito em avião mono-motor.
* Alugar um jipe e cruzar o Pantanal por conta própria. Esta opção, no entanto, é aconselhável apenas na época da seca e para jipeiros experientes.
Últimas onças pantaneiras
Um Brasil com riquezas da Pré-História. Tudo tão selvagem como há dez mil anos. Uma serra intocada e um pantanal ameaçado. A aventura começou no território da rainha das nossas matas. Um avião com antena parabólica. A equipe do Globo Repórter acompanhou um pesquisador que estuda o comportamento das onças. O biólogo Fernando Azevedo vai atrás do maior predador das florestas brasileiras. E vai voando pela imensidão que é o pantanal.
A antena, instalada nas asas do avião, é capaz de localizar uma onça, onde quer que ela esteja. As pardas e as pintadas ? todas as onças da região de rios, lavouras e pastos ? são velhas conhecidas do biólogo. As onças são identificadas porque carregam coleiras com transmissores de rádio.
?Achei uma outra onça parda fêmea, que está sendo monitorada há um ano. È um animal que fica muito perto do Rio Miranda?, avisa o biólogo pelo rádio do avião.
Os instrumentos rastreiam todo o território. Mas como o biólogo das onças sabe distinguir o som, o esturro e o sexo dos animais?
Os pesquisadores montaram dez armadilhas em uma área de 16 mil hectares, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Eles conhecem os passos, as características e os sintomas de cada um. Haja sangue frio nos preparativos para chegar perto do animal. Ele não pode errar na dose de sedativo.
Foram momentos de expectativa. A onça caiu na armadilha e o biólogo Fernando Azevedo fez a aproximação. Ele levou uma arma de ar comprimido e um dardo com anestésico para fazer a onça dormir. Mas até que ela dormisse, todo cuidado foi pouco.
O biólogo Fernando foi na frente e a equipe seguiu alguns metros atrás. Tanta precaução foi necessária porque a onça estava muito agitada dentro da jaula. Eles se aproximaram aos poucos. O pesquisador estava com a pistola do sedativo engatilhada e disparou.
Eles esperaram cinco minutos, cronometrados. Só então o cinegrafista José Henrique pôde chegar bem perto com a câmera. A onça já estava devidamente anestesiada para receber os cuidados do biólogo. Ela tinha um ferimento na cabeça.
?Esta é a Elisa, um animal que já foi recapturado algumas vezes. Elisa é a dona do território onde estamos?, diz o biólogo.
E merece todo o respeito. Uma máscara foi usada para proteger os olhos e a parte ferida. Fernando colocou um spray para desinfetar os ferimentos e fez um check-up completo. A câmera estava a um palmo da onça. Um privilégio raríssimo! Este é o maior felino de todo o continente americano. É o que tem a mordida mais potente dos animais deste porte.
Antigamente, a onça-pintada existia nas três Américas ? desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Hoje, só existem poucas no México. No Brasil, ainda encontramos onças no pantanal, no cerrado, na Amazônia, na Mata Atlântica e em algumas áreas do sertão nordestino.
?Esta onça é mais velha, tem os dentes amarelados e com tártaro. Deve ter mais de sete anos. O animal pode viver até 13, 14 anos?, revela o biólogo.
Até o peso da onça foi conferido no ambulatório improvisado no coração do pantanal.
"Deu 60 quilos", constatou o pesquisador.
Até que ela estava magra. Uma onça-pintada pode chegar a 110 quilos! E o macho, a 150 quilos.
Pesada e medicada, Elisa iria acordar. O biólogo Fernando e o assistente João refrescaram a paciente. Estava fazendo muito calor. O ideal seria levá-la para a sombra e esperar que ela despertasse.
"Vai demorar entre uma e duas horas para que ela possa se recuperar completamente e voltar para a floresta", diz o biólogo.
Aos poucos, Elisa foi recuperando os movimentos e começou a sentir o cheiro da equipe. O faro é a principal arma que ela tem para dominar o seu próprio território. Mas o território das onças se torna cada dia menor.
No ritmo em que os tratores avançam, preparando a terra para os grandes plantios de soja e arroz, são reduzidas as áreas de vegetação nativa, onde vivem os animais selvagens. Além da expansão da fronteira agrícola, os desmatamentos abrem espaço para os rebanhos de gado.
A convivência, nem sempre pacífica, entre as onças ? cada vez mais confinadas em seu ambiente natural ? e os bois espalhados pelo pasto, está sendo estudada por uma equipe de pesquisadores. O biólogo Fernando Azevedo comanda a equipe. A missão persegue um destino: o desenvolvimento do pantanal em harmonia com a natureza tão rica e tão vulnerável.
O rebanho estava assustado. Os bois estavam agrupados, correndo sempre juntos. Eles sabiam que havia predadores por perto. Todos são vítimas se os homens, os animais racionais, não pensarem nas conseqüências da ocupação deste paraíso. A equipe chegou a um dos locais onde uma onça atacara recentemente.
?Ainda tem um pouco de sangue no chão. Ela arrastou a novilha para dentro do canal. Trinta metros à frente, puxou o animal de volta para o pasto e comeu no dia seguinte. Este é o terceiro animal que ela comeu aqui. São animais que têm entre oito e dez meses de idade. Estão aqui há praticamente dois meses e ficam em contato muito próximo com a floresta. No segundo dia que ela retornou, veio pela mesma vala, pegou a carniça e arrastou. Esta onça, em particular, fica de três a quatro dias com o animal. E o tipo de ataque também é diferente. Ela não fura o topo da cabeça, nem quebra o pescoço. Ela estraçalha o focinho da novilha, provocando morte por asfixia. Isso é típico de uma onça já adulta, mais velha, com problema nos dentes", explica o pesquisador.
O biólogo diz que a onça que comeu a novilha nunca fora capturada porque sempre foge pelo canal e não deixa pistas.
?O projeto já capturou todas as onças-pintadas, só falta esta fêmea. Estamos com dez onças-pintadas até o momento?, diz o biólogo.
Duas horas se passaram e Elisa, a onça que foi anestesiada, começou a voltar ao normal. Ela recuperou os sentidos de maior caçadora do pantanal.
"Assim que o efeito da anestesia passa, ela volta para o mesmo local onde foi capturada e continua a mesma rotina dela, provavelmente atrás dos dois filhotes. Vamos nos afastar para deixá-la se recuperando normalmente", anuncia o biólogo.
Elisa é o que se pode chamar de um exemplo de mãe. Ela se deixou capturar em busca de alimento no mesmo lugar onde já caiu na armadilha três vezes. Mas os filhotes sempre escapam. No fundo, ela já sabe que será solta de novo. E que as crias estarão esperando por ela em alguma toca, no meio da mata, pelo patrimônio da natureza que é o pantanal.
Aventura no ar
Fogo e água. No rio e no céu, uma expedição inédita. A equipe do Globo Repórter foi a primeira a desbravar a região de florestas e montanhas cortadas por cachoeiras e corredeiras na Serra da Bodoquena, em Mato Grosso do Sul. Eles navegaram e voaram.
O balão começou a ganhar forma, para espanto dos peões. Uma labareda de fogo aqueceu o ar dentro do balão. O calor o fez subir. O balonista acionou um maçarico a gás propano para inflar cada vez mais o balão.
?Acho que vai subir?, comenta o agricultor Juscelino Silva.
?Nunca havíamos visto um balão aqui?, conta agricultor Marcio de Holanda.
Foi o primeiro balão na serra. Mas o piloto Aquilino Gimenes é veterano, conhece bem os caprichos do vento.
?O lugar é bem estreito, mas acho que vai dar um bom vôo. Estamos na direção certa e o vento está ótimo?, diz ele.
Começou a surgir a beleza do vale encantado: o céu sem nuvens, o parque cheio de árvores, o rio transparente, todos os tons de verde e azul. O destino era o cânion do Parque Nacional da Bodoquena. O objetivo era passar sobre o rio, entre os paredões do cânion. Mas o vento os levou para outro lugar.
?Por isso eu digo que fazemos a navegação sempre ao som de valsa, nunca rock?, comenta o piloto do balão.
O vento teimou em mudar os planos e os levou até perto do paredão. Mas eles estavam seguindo em sentido contrário ao cânion, para dentro da floresta. O balão seguia sempre a direção do vento. Foi preciso procurar um lugar seguro para descer. Eles foram para cima das árvores e fizeram um pouso forçado, no meio do capinzal.
O resgate foi acionado pelo rádio e chegou meia hora depois. Foram necessárias seis horas para retirar o balão do local.
Com o balão remendado, eles voltaram a voar no dia seguinte. E finalmente tiveram o cânion à sua frente, com o Rio Salobra lá embaixo.
Um dos lugares mais bonitos do país, protegido por leis ambientais. O Parque Nacional da Bodoquena tem uma área de 76 mil hectares. O desfiladeiro segue o curso do rio. Os paredões chegam a 200 metros de altura. A área está inteiramente preservada. E o vôo foi inesquecível.
Enquanto o resgate não chegou, a equipe pediu a ajuda de seu Davi, um morador da região, para arrastar o balão até um lugar onde ele pudesse ser desmontado. A aventura virou notícia para muitos dias nas redondezas.
?Só tinha visto balão na televisão. Nós estávamos olhando de binóculos. Vimos quando ele desceu e resolvermos ir até lá?, comenta a agricultora Maria Marques.
"O gado corria pra lá e pra cá. Eu chamava e nada?, conta a agricultora Enid Lopes.
Desafio nas águas
A outra surpresa que o Parque Nacional da Bodoquena reservava ainda estava para vir nas águas transparentes do Rio Salobra, que não é navegável. Pela primeira vez foi feita uma tentativa de descer em caiaques para desvendar a beleza do rio, que nasce dentro do Parque Nacional da Bodoquena. A equipe foi acompanhada pelo diretor do parque. Adílio Miranda.
?Esse rio nasce logo depois da serra, dentro do parque. Várias nascentes se confluem e, logo após o nascimento, já bastante caudaloso, ele desaparece em um sumidouro, reaparecendo centenas de metros à frente?, explica o diretor do parque.
E quando eles menos esperavam, pedras e quedas d?água surgiram no caminho. Tão raso e tão selvagem, o rio que corta a mata e passa sobre as pedras, desafiou os "navegantes de primeira viagem".
Eles ficaram a maior parte da travessia arrastando os barcos pelas pedras ou pulando de caiaque nas pequenas cachoeiras. O Rio Salobra é imprevisível, cheio de curvas, com árvores caídas nas grandes enxurradas, sempre cercado pelos paredões de arenito.
Os peixes nadavam rápido ao lado do barco e nenhum sinal deixado por seres humanos. O caminho do Rio Salobra no grande cânion da Bodoquena ainda está intocado.
A equipe perdeu a conta das corredeiras por onde passou. Nos imensos paredões, um jardim da natureza, cheio de bromélias. Uma onça havia passado pelo local pouco antes, mas desaparecera pelos labirintos de pedra.
Depois de oito horas descendo o rio remando, só vendo mata e paredões de um lado e de outro, eles chegaram à Cachoeira da Boca da Onça, a maior do estado de Mato Grosso do Sul, com 156 metros de altura.
Todos ficaram com vontade de voltar para mais uma viagem no céu e no rio deste pedaço ainda virgem do Brasil.
Raridade das profundezas
Mergulhadores de cavernas se preparam para entrar em ação vestindo roupas especiais para um trabalho de pesquisa nos subterrâneos da Serra da Bodoquena. Foi a aventura da ciência em busca de novos segredos da natureza. Já foi comprovado que na região vivia o elefante brasileiro da Pré-História, o mastodonte. O animal era um pouco menor e muito mais forte do que os elefantes da África e da Ásia.
Outra descoberta da nossa ciência: o Brasil tem a maior fauna de peixes do mundo, entre 4 mil e 5 mil espécies de água doce e pelo menos 1,3 mil espécies marinhas. Grande parte dessa riqueza de nossas águas ainda é desconhecida. Daí, a missão destes mergulhadores, que foi acompanhada pela equipe do Globo Repórter.
E não foi à toa. O lugar escolhido parece um aquário gigante, uma vitrine de peixes de todos os tamanhos e cores. A mata inteiramente preservada na Serra da Bodoquena é o local da nascente do Rio Formoso. A água sai da pedra cristalina. Em uma caverna vive um peixe desconhecido, que não tem visão.
?A equipe vai procurar esse bicho a partir dos 25 metros de profundidade, onde ele começa a ser encontrado?, anuncia Edmundo Cosat Júnior, biólogo da Universidade de São Paulo (USP).
O biólogo Edmundo Costa Júnior foi quem achou o cascudo albino.
"Pelo menos até onde a ciência conhece esse peixe só existe nessas cavernas?, diz o biólogo.
Eles foram arás do cascudo albino. Logo depois da entrada da caverna, a equipe ficou na mais completa escuridão. Foi preciso recorrer à luz das lanternas. As fendas por onde passaram eram muito estreitas. A previsão era descer a até metros de profundidade. Mas os pesquisadores encontraram o cascudo albino logo aos 20 metros.
Lá estava ele, o raríssimo peixe albino, que só existe nas cavernas da nascente do Rio Formoso. O peixe não é grande. Com a luz, se torna cor-de-rosa. É completamente cego. Quando a câmera aproximou, foi possível perceber que ele não tem olhos. Vive exclusivamente na escuridão das cavernas. Só agora o cascudo albino está sendo estudado pela ciência.
O Rio da Prata é um aquário natural, o paraíso das piraputangas, piaus, dourados, corimbas, pacus, peixes de todas as espécies. Em uma área ainda selvagem do rio, a câmera passou pelos galhos submersos e fez uma grande descoberta. O primeiro contato foi assustador.
Na margem do Rio da Prata foi encontrada uma sucuri, com cerca de cinco metros de comprimento. Ela estava lenta porque comera um animal e a parte central do corpo estava muito dilatada, dificultando a locomoção por dentro d?água.
A serpente nadou ao lado do barco. Seu corpo dourado brilhava com os raios de sol. A sucuri é a anaconda brasileira, a maior cobra dos nossos rios e florestas. Ela chega a medir 12 metros.
A sucuri não conseguia mergulhar porque ainda não tinha digerido o animal que comera, provavelmente, um porco selvagem. Por isso, estava nadando com dificuldade e se refugiou mais uma vez na beira do rio.
A câmera chegou bem perto da sucuri. Ela estava enroscada em um tronco de árvore, onde se sentiu mais protegida. A equipe do Globo Repórter acreditou que a cobra não ia atacar porque estava bem alimentada e aproximou ainda mais a câmera. Ela quase tocou na lente com a língua. Nunca uma sucuri fora vista tão de perto. Mas eles a deixaram em paz, no leito do rio, que é a sua casa.
"É uma janela de absoluta visualização, de um contato íntimo. São raros os locais da natureza que anda restam para que as pessoas possam ter um contato tão sincero e profundo com a natureza de forma recíproca, pois os bichos também não sentem medo, eles chegam bem perto", diz o biólogo José Sabino, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp).
O entusiasmo do pesquisador é do tamanho da curiosidade. O professor José Sabino é um descobridor dos tesouros destes rios tão cheios de vida.
"Em geral, os peixes têm orientação regida pela visão durante o dia. À noite, eles se guiam principalmente pelos barbilhões, um tipo de bigode, e pelo sentido do tato. Eles tateiam o fundo do rio e sentem quimicamente o ambiente, percebendo-o por gosto e cheiro. Algumas espécies aproveitam a escuridão para se alimentar. Os predadores aproveitam a desorientação dos peixes diurnos. Um peixe do dia começa a se desorientar com o lusco fusco e um peixe noturno aproveita a situação para atacá-lo. A pouca luminosidade favorece o momento de ataque do peixe noturno", explica o biólogo.
Experiências em um laboratório vivo! Os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) usaram descarga elétrica para recolher amostras de peixes. Roupas de borracha evitaram o choque. A descarga elétrica não é muito forte e deixa os peixes apenas atordoados. Eles são recolhidos por redes.
"Com esta técnica de coleta, conseguimos fazer uma amostragem boa da faunda de peixes que existem no lugar. O peixe fica tonto com o choque, bóia e a gente captura alguns. Os peixes que a gente não captura não morrem, eles se recuperam depois", esclarece o biólogo Ricardo Corrêa e Castro, da USP.
A captura dos peixes é necessária para a ciência, faz parte da descoberta do mundo submerso. É preciso conhecer para proteger.
"Quando se fala de peixe, a maior parte das pessoas pensa em dourado, jaú, corimba, pintado, peixes grandes. Porém, a gente estima que mais da metade da diversidade de peixes da fauna de água doce da América do Sul é de peixes pequenos, como lambaris, bagres, cascudinhos", acrescenta o biólogo.
Se os peixes pequenos têm imenso valor, imaginem os mamíferos gigantes. Na Serra da Bodoquena vivia o nosso elefante pré-histórico, o mastodonte. As ossadas foram retiradas da caverna a uns 50 metros de profundidade. Os fósseis dos animais pré-históricos retirados pelos pesquisadores na região estão agora no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A partir dos ossos, utilizando recursos de computação gráfica, foram criados o que seria o animal pré-histórico brasileiro.
"Ele tem diferenças marcantes se comparado aos elefantes africano e asiático. Apesar de ser um elefante mais baixo, é muito mais robusto. Um adulto pesava me torno de quatro toneladas e podia atingir quase cinco metros de comprimento. Ele era mais comprido do que alto. Nosso elefante do cerrado brasileiro era um bicho atarracado e forte?, revela o paleontólogo Leandro Salles, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Dez mil anos se passaram. Do nosso mastodonte, só restaram os ossos. Mas os peixes ainda estão vivos. E só dependem das pesquisas e dos cuidados de todos nós.
Preservar é viver
Se depender das famílias de animais, a Serra da Bodoquena será sempre uma ilha ? ou melhor, um pantanal ? de paz e tranqüilidade. Tempo de reprodução, vida nova. A perpetuação das espécies agora depende da responsabilidade humana. Ainda bem que o patrimônio natural brasileiro conquista cada vez mais aliados. Pesquisadores trabalham dia e noite, correndo risco, mas com dedicação. Estagiárias se concentram, tentando descobrir a dieta da onça. O que ela come? É exatamente todo o material que elas pesquisam no laboratório. O trabalho enobrece as jovens biólogas e os veteranos mestres.
?Há dez anos, o Rio Perdido tinha até quatro metros de água. Hoje restam apenas cerca de 40 centímetros. Toda a areia vista no meio do rio praticamente veio dos pastos que foram mal construídos na região. Cuidados pequenos como a construção de curvas de nível teriam resolvido o problema, que praticamente matou o rio. Nós não encontramos mais peixes nesse rio, que já foi muito rico no passado e agora se encontra praticamente morto. Dourados, piraputangas, pacus e corimbatás desapareceram do rio?, denuncia o biólogo José Sabino, professor da Universidade para o Desenvolvimento do estado e da Região do Pantanal (Uniderp)
Quem sabe se preocupa.
"Nem tudo são flores. Estamos verificando licença de construção e embargando quando é necessário, impedindo que este processo continue", afirma o chefe do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Adílio Miranda
O processo é responsável. Cabe a todo o mundo proteger o pantanal ? não depende só dos cientistas, nem da Elisa, a onça-pintada que se deixa prender, mas poupa os filhotes. A vida dos animais selvagens precisa ser preservada.
Equipe
Edição: Meg Cunha
Reportagem: Francisco José
Produção: Ana Dorneles
Edição de Imagens: Gisele Machado
Imagens: José Henrique
Imagens Subaquáticas: Juca Ygarapé
Técnico: Adriano Moraes
El Pantanal se puede combinar con Bonito, un destino consolidado del joven estado de Mato Grosso do Sul, siempre en el marco del turismo ecológico. Se trata de una villa de 17 mil habitantes permanentes, con una amplia propuesta hotelera y con posadas para más de 4 mil visitantes, todas de buen nivel.
Bonito está rodeado de múltiples opciones para involucrarse con la naturaleza. Cavernas, cascadas, ríos de aguas cristalinas y mucho deporte de aventura. A 1.200 kilómetros de San Pablo, Bonito es sinónimo de agua y vegetación exuberante.
Todos los paseos en Bonito deben ser contratados previamente a través de un organismo mixto donde se asocian el estado y los privados, que centraliza y regula la actividad turística. No es bueno pisotear espacios naturales tan bellos de un modo indiscriminado, sin regulación. Y en eso, Brasil la tiene clara.
A 32 kilómetros de la villa se puede navegar por el río Formoso, una especie de Carcarañá con menos curvas. Son 7 kilómetros sobre botes tipo gomones, a remo, donde en las márgenes se aprecia la fuerza demoledora de la vegetación y la fauna. Incluida la mítica Onça pintada (un felino tipo leopardo) que se muestra poco, pero se sabe que está. Promueve innumerables relatos y su sola mención atemoriza. No faltan, por supuesto, unos cinco saltos de unos 3 metros a lo largo del recorrido, que elevan la adrenalina. El paseo termina con toda la tripulación empapada, pero sonriente. Bonito además ofrece la posibilidad de bucear en aguas dulces y transparentes y disfrutar de una fascinante fauna acuática, ahí, al alcance de la mano. Y también hay una opción de entretenimiento para acelerar las pulsaciones: el arborismo, en Ybirá Pe. Se trata de un circuito aéreo con cables de acero donde el cuerpo literalmente vuela por encima de los árboles a una altura de hasta 20 metros del suelo. Desde allí arriba, cuando pasa un poco el miedo y se toma confianza con el arnés que soporta el cuerpo suspendido, el visitante se anima a mirar hacia abajo, y tal vez pueda disfrutar su instante mágico de hombre-pájaro.
Al regreso de un día intenso, en Bonito sobresale la posada Olho dAgua. Un verdadero paraíso en armonía con la naturaleza y con todo el confort. No falta la gastronomía de alto nivel, y sobre todo, mucha paz ambiental. El trato brasileño para con los argentinos, se sabe, es una virtud ampliamente probada.
Folha OnLine - Gilberto Dimenstein
Peregrinar por Bonito (MS) é ir ao encontro da natureza em seu estado bruto. Nos mais de 30 passeios catalogados pelo Conselho Municipal de Turismo (Comtur), as interferências do homem se resumem à abertura de trilhas na mata e à construção de mirantes, deques para botes ou mergulho e plataformas para prática de rapel.
Com o objetivo de verificar as condições de acessibilidade para deficientes físicos e despertar a atenção dos empresários locais para um mercado estimado em 25 milhões de consumidores, a artista plástica Adriana Braun e o servidor público Edson Passafaro passaram sete dias em Bonito. Presidente da ONG Acessível e integrante dos projetos Brasil Adentro e Cadeirantes (que percorreram os principais pólos de ecoturismo do país), Adriana Braun foi chamada pela FreeWay Adventures para conduzir os roteiros para deficientes da operadora. Edson é secretário-executivo da Comissão Permanente de Acessibilidade da prefeitura de São Paulo e consultor para o assunto do Ministério das Cidades.
Durante três dias, Zero Hora acompanhou a incursão da dupla por Bonito. A primeira visita é à Fazenda Água Viva, um passeio popularmente conhecido como Cachoeira do Rio do Peixe. Situada a 35 quilômetros da cidade, o lugar é considerado um dos mais belos do município.
A recepção fica por conta de macacos-prego. Às dezenas, eles descem das árvores atraídos pelos nacos de banana oferecidos por Moacir Barbosa de Deus, dono dos 300 hectares de campo. No alpendre, os anfitriões são tucanos e araras, desde a arara-azul, ameaçada de extinção, às de penugem vermelha ou verde. Dali, o passeio segue por 400 metros mata adentro. Adriana faz o percurso carregada numa liteira desenvolvida para o transporte de deficientes.
Impulsionado pela própria tração manual, Edson prefere cruzar de cadeira de rodas a vegetação da Serra da Bodoquena. Pelo caminho, a água represada em degraus do solo transforma a correnteza do Rio do Peixe numa banheira de hidromassagem. Seguindo pela esquerda, chega-se a uma piscina natural abastecida por uma cachoeira de três metros de altura. Pela direita, uma cabo aéreo estendido sobre o leito do Rio Olaria é um convite ao banho. Passafaro pede ajuda e, depois de alguns segundos deslizando em pé sobre a água, solta as mãos e mergulha.
"O legal é a sensação de ficar esticado, em pé. Nunca tenho essa sensação", revela Passafaro, ao voltar para a cadeira de rodas.
Fábio Schaffner viajou a convite da FreeWay Adventures, da Gol Transportes Aéreos e do Wetega Hotel.
FÁBIO SCHAFFNER
do Zero Hora
"Antônio", um dos muitos peões da fazenda, cumpria sua rotina: acordou cedo, encarou o sol forte, juntou os cachorros e saiu pra caçar. Naquela época, não existia em Bonito a conveniência de açougues, muito menos especializados em carne de caça, e as refeições eram garantidas pela captura de um veado, paca, capivara ou qualquer outro bicho que estivesse pelas redondezas quando os cães saíssem com a missão de correr atrás do almoço do dia. Mas, naquela manhã, aconteceu algo inusitado: não havia nenhum bicho aonde os cachorros levaram Antônio. Existia só um buraco no chão: era evidente que o almoço tinha ido ribanceira abaixo. A curiosidade (sempre ela) fez Antônio dar uma espiadinha na abertura na terra que, mesmo trabalhando há três anos naquela fazenda, não conhecia. E não é que o negócio era bonito?!
E assim, por acaso, no verão de 1976, foi descoberta a atração natural mais espetacular de Bonito: o Abismo Anhumas. Na verdade, não se sabe o nome do peão. O que se sabe é que essa descoberta foi o início da trajetória bem-sucedida do destino ecoturístico preferido dos leitores de Viagem e Turismo.
Tal qual o Anhumas, a maioria das cachoeiras, dos rios e seus peixes imensos e tranqüilos, das trilhas no meio da mata, dos tucanos e araras de Bonito fica em propriedades particulares. À primeira vista, isso parece ruim: "E se os fazendeiros resolverem transformar toda esta maravilha em pasto?" É aqui que começa a grande diferença entre esse e os outros destinos de ecoturismo do Brasil: os projetos ecológicos trazem muito mais dinheiro do que as atividades predatórias ou os rebanhos. Por quê? Fácil: é muito mais barato montar uma infra-estrutura básica (receptivo para os turistas, restaurante, banheiros) e aproveitar as belezas que a natureza colocou dentro da sua fazenda, do que manter uma equipe para cuidar do gado, arcar com custos de vacina etc. O interesse pela implementação de um ecoturismo sério e estruturado começou pelo bolso e terminou criando algo de valor inestimável: a consciência de que, preservando a natureza, ganhamos muito mais do que acabando com ela.
Só mais um pouquinho...
O aeroporto de Campo Grande, MS, é a parada obrigatória de quem vai para a região da Serra da Bodoquena. Há tempos está prometido um aeroporto em Bonito, daqueles exclusivos para voôs fretados (como existe em Lençóis, na Bahia, e em Barreirinhas, no Maranhão). As pistas já estão prontas, mas ninguém sabe quando o restante será construído. Enquanto isso, o único meio de transporte entre Campo Grande e Bonito é o velho e bom automóvel. Os 300 quilômetros que separam as duas cidades parecem eternos, mas nem são tão massacrantes quando se está dentro de uma espaçosa van com ar-condicionado poderoso. Os intermináveis pastos se estendem por todo o caminho. A terra vermelha se acumula nos vidros. Bonito parece não chegar nunca. Mas chega. Geralmente no final do dia, depois de algumas horas de vôo, outras de estrada, mas chega. E será no dia seguinte, depois da primeira noite silenciosa e do primeiro café da manhã das suas férias, que você vai começar a descobrir por que a cidade tem o nome que tem.
Assim, não!
Quando me viu olhar, abismada, os pilares do hall de entrada no hotel imensas aroeiras centenárias , o funcionário do Wetega Hotel (lê-se "ueterrá"), um dos mais modernos e chiques de Bonito, fez questão de dizer: "Estas árvores têm mais de cinco séculos". Seria mais correto dizer que elas tinham quinhentos anos...
A informação soou meio surreal aos meus ouvidos: como alguém, ainda mais em Bonito, pode se gabar disso? "Ah, mas foi tudo autorizado pelo Ibama." Tudo bem, mas não muda o fato de que a escolha decorativa dos proprietários foi sofrível.
...e cá estamos nós!
Sem tirar o mérito ou acabar com o charme, Bonito não se chama assim porque é bonita. O nome vem da antiga fazenda, a maior da região, que se chamava "Rincão Bonito". Acabou-se o latifúndio, ficou a alcunha. Uma vez esclarecida a nomenclatura, vamos ao que interessa: Bonito é mesmo maravilhoso? É. Comecei a perceber isso no meu primeiro passeio, às 8h da manhã de um domingo, na Gruta do Lazo Azul. E olha que é difícil achar algo lindo às 8h da manhã, muito menos num domingo.
A luz entrava tímida por uma das fendas da rocha. Nós seguíamos os passos e a voz do guia e ficávamos boquiabertos com as dimensões da caverna, as estalactites, a sensação de frescor e umidade. A cada metro que descíamos na trilha, a cor do lago era alterada pelo ângulo do raio de sol: ia de verde a azul intenso, quase anil. Aqui cabe uma interferência, nada romântica, mas em prol da verdade: a água não é azul. Se você pegasse um copo de água no meio do lago (não faça isso porque é proibido entrar, viu?), ela seria transparente. A cor que se vê é causada pela soma de dois fatores: por ser rica em calcário, que tem a característica de refratar a luz em tons de azul, e pela ilusão de ótica que o sol, ao bater dentro da caverna, causa. Quem disse que esse dado altera a beleza do lugar? De forma alguma! A Gruta Azul merece mesmo ser um dos cartões-postais mais conhecidos de Bonito.
Beleza socializada
Bonito leva toda a fama pelo estonteante cenário natural, mas justiça tem de ser feita: não é só nessa cidade que se encontram as paisagens maravilhosas que você vê nestas páginas. Ela fica numa região chamada Serra da Bodoquena, que inclui os municípios de Jardim, Porto Murtinho e Bodoquena. Essa dita serra, que, na verdade, é um planalto, foi formada há cerca de 550 milhões de anos, quando o planeta sofreu um grande movimento nas camadas internas da Terra, que se reorganizaram. Essa movimentação foi a responsável pela formação das dezenas de cavernas, erosões e cachoeiras que fazem, até hoje, a diversão de milhares de turistas.
A Cachoeira do Aquidaban é um ótimo exemplo disso: são 120 metros de queda, uma das mais altas da região, de onde se pode avistar toda a Serra da Bodoquena e ter uma noção da grandeza de sua área de 300 quilômetros de extensão por 60 quilômetros de largura.Ficou curioso pra saber o que NÃO fica em Bonito? O Boca da Onça Ecotour, o Rio do Peixe e a citada Cachoeira do Aquidaban, por exemplo, são em Bodoquena. A Estância Ecológica Rio da Prata, em Jardim. Mas não se preocupe, porque por lá eles não dão a mínima importância a essa questão de nomenclatura: o que importa mesmo é fazer você se sentir em casa, seja em qual cidade for.
JOSÉ MANUEL BARROSO
Fica no interior, no estado do Mato Grosso do Sul, entre o estado de S. Paulo e o Paraguai, e é a parte sul (a mais bela, a meu ver) do Pantanal. Bonito é também o nome da cidade, uma pequena, animada e simpática cidade, que se não distingue por uma particular beleza. Mas em volta, gente, quanto lugar bonito, quanta aventura possível, quanto rio e cachoeira (cascata) de águas como vidro, aves de cores contrastantes como pinturas, bichos do mato como o jacaré ou o tamanduá. Jacaré que flutua, por vezes, nos rios de Bonito dando repouso a borboletas gigantes de asas cor de fogo.
Bonito é uma das mais admiráveis região de turismo ecológico do Brasil. Do Brasil que os portugueses estão descobrindo como excelente (e barato) destino turístico - mas que não é só praia, não.
Vale a pena conhecer a região, mesmo antes de lá ir. Para isso, pode usar o Portal Bonito (www.portalbonito.com.br), uma excelente montra. Tem lá tudo, para primeiro contacto: como chegar; a cidade, mapas, fotos e eventos; turismo possível (aventura, expedição, passeios, videos; dicas de viagem (tudo o que é importante para quem vai); guia de agências, transportes, hotéis e pousadas, reservas, compras, gastronomia, onde curtir; gastronomia, folclore e artesanato. E mais.
Em qualquer época do ano se pode visitar Bonito. Mas, diz quem sabe, o ideal é entre os meses de Dezembro e Março. Na época das chuvas, «quando a vegetação está verde, os animais aparecem, pois têm alimento de sobra, o nível dos rios está alto e as cachoeiras estão caudalosas». Os preços são diferentes, consoante se está em alta ou baixa temporada. De Dezembro a Março, são mais elevados, é período de férias no Brasil. Mas não esqueça que preços altos, para brasileiro, é bem diferente para o cidadão que tem euros no bolso.
A permanência mínima ideal é de quatro dias, para que possa desfrutar de passeios e actividades variadas, Na alta temporada, convém agendar reservas e passeios com antecedência. No Portal Bonito tem informação de sobra sobre preços, de hotéis e de passeios. Verá que são muito em conta, para dinheiro europeu. Os passeios são feitos com guia diplomado, a aventura é apenas física e espiritual, não há problemas de segurança.
Experimente a via internet para adivinhar como é. Experimente ir. Depois diga se não foi um regalo, para quem gosta de turismo ecológico. Se naõ gostou de se banhar nas águas dos rios de Bonito, de deslizar em bóia nas cachoeiras do rio Formosinho, da gruta do lago Azul, do passeio numa fazenda, da culinária sertaneja. E da simpatia dos brasileiros.
A FICHA
Bonito
Localização. Cidade a 330 km de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, Brasil
Info. Agências. Portal Bonito (www.portalbonito.com.br)