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Notícias de Bonito MS

Júlio, Silvério e Otacílio. Histórias diferentes ligadas pelos trilhos da Noroeste. Ex-maquinistas, residentes em Campo Grande, todos contam com orgulho que trabalharam no tempo da Maria Fumaça. Ainda descrentes de que o trem de passageiros voltará a circular pelos trilhos do Pantanal, eles afirmam que "se isso for realmente verdade", simboliza o resgate da história da ferrovia de Mato Grosso do Sul. De condutores do trem, todos pretendem fazer nova viagem, desta vez, como passageiros.

O baiano Júlio José de Souza, 84 anos, começou a trabalhar na Noroeste em 1952, atuando como lenhador e foguista até chegar a tão almejada profissão de maquinista. Sua última viagem de trem foi em 30 de dezembro de 1977, dois meses após a região sul de Mato Grosso ter conquistado sua independência. "Quando entrei na Noroeste, tinha 35 anos. Comecei como lenhador e depois foguista. Era uma profissão muito difícil. Junto comigo entraram 15 homens, no terceiro dia só restaram três", lembra.

Como maquinista, Júlio sempre trabalhou manobrando o trem para Ponta Porã e Água Clara. Ele conta que conduzir a Maria Fumaça era muito difícil. "O trilho era muito fino. Trafegávamos a 15 quilômetros por hora na subida; já na descida, se deixasse, o trem chegava a 90 quilômetros".

"Nós cuidávamos da máquina igual cuidávamos das mulheres"

Ele destaca que conduzir o trem de passageiros era uma profissão de muita responsabilidade. "Nós cuidávamos da máquina, igual cuidávamos das mulheres. Limpava a Maria fumaça e deixava a parte de bronze brilhando. Às vezes trabalhava sem comer. Não podia parar enquanto o trem não chegasse ao seu destino. Cheguei a ficar duas noites e dois dias, em Ribas do Rio Pardo, devido a locomotiva ter estragado".

- O senhor está sabendo que o Trem do Pantanal vai voltar?

- Sempre aparece essa conversa que o trem de passageiros vai voltar. Eu não acredito que seja verdade. Acho que até lá, eu não estarei mais vivo. O outro governador ficou prometendo isso todo ano e não conseguiu cumprir.

Descrença à parte, o ex-maquinista Júlio afirma que a volta do trem de passageiros será a chance para muita gente conhecer o Pantanal "Eu mesmo que trabalhei no trem, não conheço. "Até hoje tenho saudades do trem de passageiros. Não tem outra condução melhor", afirma.

"Os trens de passageiros sempre foram lotados neste trecho"

Silvério de Oliveira, 79 anos, também entrou na Noroeste em 1952. Ele chegou a trabalhar 6 anos como operador da Maria Fumaça. "Fui eu que realizei a última viagem da Maria Fumaça, levando ela de Campo Grande a Bauru. Era uma vida muito sofrida lidar com essa máquina, os trilhos eram finos, e aconteciam vários descarrilamentos de vagões. No Distrito de Itahum, cheguei a ficar uma semana no meio do mato, após o acidente, até que tudo fosse concertado", lembra.

Embora duvidoso de que o trem de passageiros será reativado, ele garante que caso ele volte aos trilhos, de Campo Grande a Corumbá, será lucro certo para a empresa. "Os trens de passageiros sempre foram lotados nesse trecho, por isso, acredito que sempre terá procura por passagens", afirma. Ele ressalta que o fato de ser um dos poucos maquinistas vivos daquela época é sinal de vitória. "Tenho grande orgulho, ser um dos poucos funcionários que conseguiu licença especial, que era concedida somente para aqueles que nunca faltaram o serviço durante 10 anos", ressalta.

"A ferrovia sempre foi tudo na minha vida. Foi meu pai e minha mãe"

A ferrovia foi meu pai e minha mãe, entrei com 19 anos e por meio dela criei minha família. Ela sempre foi tudo na minha vida. A gente pega amor no que faz. O maquinista era uma profissão respeitada", afirma o mais novo da turma, Otacílio Batista Dias, 72 anos. Ele começou a trabalhar em 1956, atuando como foguista da Maria Fumaça, passando a ser maquinista quando a locomotiva já era movida a diesel. "Trabalhei durante 28 anos, mas na verdade nunca andei de trem, pois sempre andei na locomotiva. Agora, ele voltando, quero viajar como passageiro, tirar foto e contemplar a natureza", afirma.

Ele foi um dos maquinistas responsáveis em conduzir o trem de passageiros envolvendo o trecho Campo Grande a Corumbá. Com o anúncio da reativação do Trem do Pantanal, ele gostaria que ele voltasse atender o pobre. "Naquela época, durante a enchente do Pantanal, era muito bonita a viagem até Corumbá, nós encontrávamos vários animais na beira do trilho, cervos, veados, catetos. Foi com grande tristeza que recebi a notícia da desativação do trem de passageiros", lamenta.

Ao ressaltar a importância da profissão, lembra que uma vez ao conduzir um comboio de carga, de Campo Grande a Aquidauana, quando chegou próximo da região de Piraputanga, um dos funcionários responsáveis pela manutenção no meio da estrada, pediu socorro, pois sua esposa estava grávida de 9 meses e estava sentindo contrações para o parto. "Falei que na máquina não podia levar, mas se quisesse poderia embarcar num dos vagões de carga. Eles entraram, quando cheguei em Aquidauana, verifiquei que a mulher havia ganho o filho ali mesmo e bebê se encontrava ainda com o cordão umbilical", lembra.

Um dos maiores arrependimentos de Otacílio é o fato de não ter tirado uma foto daquela época. "Era uma loucura o trem de passageiros. Quando parava na estação de Campo Grande formava aquela massa de gente. Era aquela correria. Malas sendo jogadas para dentro, pessoas pulando pela janela. Sinto muita pena por não ter tirado uma foto de tudo isso", lembra. O momento desta foto está chegando. O trem do Pantanal volta aos trilhos no dia 8 de maio, com a presença do presidente Lula e do governador André Puccinelli na viagem inaugural.

Em uma cena que fazia lembrar a primeira projeção cinematográfica exibida ao público, em 1892, pelos irmãos Lumiére, uma composição formada por quatro vagões - serão 7 ao todo - surgiu no horizonte e avançou em direção a um pequeno público, na estação ferroviária. "Foi emocionante o que vimos", relatou Jeferson Pereira Fernandes, morador em Campo Grande e filho de Ludovino Azevedo, o "Seo NhôNhô", antigo Charreteiro, que costumava fazer ponto nas imediações da Estação, de Aquidauana, a espera de passageiros.

O primeiro contato do Trem do Pantanal com Aquidauana aconteceu na noite deste domingo ( 03). Eram 18h50min quando o veículo ferroviário chegou, trazendo a bordo 22 guias turísticos, operadores e o staff da Serra Verde Express, empresa responsável pela operacionalização do passeio pelos trilhos, que numa primeira etapa irá de Indubrasil (Campo Grande) a Miranda. Estavam presentes no cenário do desembarque, dando boas vindas aos passageiros, o prefeito Fauzi Suleiman (PMDB), seu vice, Vanildo Neves, a primeira-dama Selma Suleiman, o Gerente de Gabinete, Marcus Chebel e uma equipe da Fundação de Turismo.

"Está entregue um sonho", disse o empresário Adonai Aires de Arruda, diretor da Serra Verde. Referindo-se ao trecho percorrido pela equipe técnica - Indubrasil-Aquidauana - observou que "existem cenários belíssimos". Responsável pela área comercial da empresa, Adonai Arruda Filho salientou que as expectativas em relação ao Trem do Pantanal são as melhores possíveis. "A procura tem sido grande", informou, na medida em que mostrava o bar, o setor executivo e o camarote ao chefe do executivo.

Fauzi afirmou que "Aquidauana ganha um presente num momento muito importante. O Trem do Pantanal tem tudo para ser um fomentador de riqueza material e espiritual".

Além dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Fernando Lugo (Paraguai), a viagem inaugural do Trem do Pantanal, no próximo dia 8, poderá contar também com a presença do presidente boliviano Evo Morales. Os outros já dois confirmaram presença.

Apesar de a presença de Evo não ter sido confirmada, a possibilidade foi revelada, nesta manhã, pelo governador André Puccinelli. Outras presenças esperadas são dos ministros Dilma Roussef (Casa Civil) e Luiz Barreto (Turismo).

Nesta segunda-feira chegou aa Mato Grosso do Sul a equipe percussora do cerimonial do Planalto. Segundo o governador, eles vão decidir o trajeto que será percorrido pelo presidente Lula e os horário. "Nós sugerimos várias coisas, de Miranda a Aquidauana, de Aquidauana a Miranda, de Miranda a Palmeiras, de Aquidauana a Palmeiras, de Palmeiras a Aquidauana, de Terenos a Campo Grande, de Campo Grande a Terenos", afirmou.

Puccinelli afirmou que não quer ser "impertinente" de aproveitar a visita de Lula para tratar de assuntos político-eleitorais, mas que espera uma iniciativa do presidente neste sentido, a exemplo do que ele (o governador) afirma ter acontecido na região de Corumbá, após a entrega de dois trechos da rota bioceânica, no dia 15 de janeiro.

"Se ele abordar eu toco (no assunto). Se ele não tocar, é divulgação do Trem do Pantanal para o mundo", afirmou. "Tem que ver da oportunidade ou não da questão. Nós não podemos ser impertinentes", acrescentou.

Eles moram no campo aberto, longe da aglomeração. Têm tempo livre para passear pelas planícies naturais e só se alimentam de vegetais sem agrotóxicos, jamais plantados em áreas desmatadas. Para a saúde, fazem prevenção com ervas medicinais e homeopatia, como em comunidades hippies.

Não consta, porém, que haja muitas delas no Mato Grosso do Sul, onde esse estilo de vida, na verdade, é o dos bois "orgânicos", criados desde 2004. Uma associação de pecuaristas do Pantanal começou o negócio da estaca zero naquele ano.

Hoje, somada a um grupo de produtores do Mato Grosso, na região do Cerrado, encaminha para abate mil animais por mês. Cerca de 400 deles saem do Pantanal, e o resto do Cerrado da bacia do Alto Paraguai, onde nascem os rios da região.

Ainda é uma produção pequena. A pecuária convencional sul-matogrossense é cerca de 500 vezes maior que a de produção ecologicamente correta. O nome orgânico não significa que bois convencionais sejam "inorgânicos".

A expressão vem da política para agricultura dessa classe de alimentos, que proíbe uso de pesticidas inorgânicos. Toda a carne bovina orgânica certificada brasileira sai hoje da bacia pantaneira e é distribuída pelo grupo JBS-Friboi, maior frigorífico do mundo. Para cada boi orgânico abatido pela empresa, porém, ela vende 570 animais criados de modo convencional.

Os números pequenos, contudo, não intimidam fazendeiros que adotaram esse modo de produção. "O orgânico tem avançado muito rápido, até porque tinha pouco mercado", diz Leonardo Leite de Barros, presidente da ABPO (Associação Brasileira de Pecuária Orgânica). A entidade já certificou dez fazendas para criar gado orgânico no Mato Grosso do Sul e tem mais 12 em processo de avaliação. "Quem tem pouco avança sempre mais rápido."

Barros administra com seu irmão Luciano a Fazenda Rancharia, em Corumbá (MS), onde bois pastam em campos alagáveis dividindo espaço com emas, capivaras e veados. Segundo ele outros produtores ainda têm receio de abandonar a pecuária intensiva, que requer desmate de áreas secas. "Eles acham a gente completamente maluco", diz. "Acham que nos unimos ao inimigo."

O "inimigo", no caso, é a ONG ambientalista WWF Brasil, na verdade uma parceira nas negociações que consolidaram a cadeia produtiva do boi orgânico no país. Não foi algo fácil, já que boa parte da demanda por alimentos orgânicos é criada por pessoas vegetarianas.

"A maioria dos nossos consumidores que a gente encontra nos pontos de venda são ex-vegetarianos, que não compravam carne por conta da questão do bem estar animal", diz Josiane Stringhini, coordenadora de marketing do JBS-Friboi. O abate dos animais que chegam lá também segue procedimentos "humanitários", afirma.

"O boi fica um período dentro do curral, para que possa descansar, e recebe uma ducha de água morna. Depois, recebe um êmbolo de ar certeiro, próximo à testa", diz. "Assim, ele não fica estressado e não percebe que vai ser abatido."

A ABPO e o WWF lançaram na última terça-feira um protocolo prometendo adotar práticas socioambientais que vão além das exigidas para certificação orgânica. Para entrar na associação, criadores terão de dar às famílias de peões acesso a escola e médicos, além de tentar criar um corredor de áreas protegidas na região. Segundo Barros, a ideia é vincular o Pantanal à carne orgânica, hoje ainda vendida sem selo de origem.

Flora e fauna do pantanal sul-mato-grossense, apresentados nas telas da artista plástica Vitória Braun, serão expostos este mês pelo projeto Arte e Cores no Paço. A abertura oficial da exposição será às 9 horas de amanhã.

A artista usa em seu trabalho técnicas em giz pastel, óleo ou acrílico, e, além das composições com animais e plantas, brinca com elementos da história de Campo Grande e sua formação étnica.

Formada pela Escola Fluminense de Belas Artes, Vitória mostrou seu trabalho recentemente na Alemanha, Polônia e Áustria, além de já ter exposto por países da América Latina e por diversas cidades brasileiras.

A empresa Serra Verde, responsável pelo turismo no Trem do Pantanal, realizou ontem (2) uma simulação de acidente com passageiros. O treinamento, que teve início às 15h30, foi feito na Estação Indubrasil, em Campo Grande.

Com 60 figurantes, incluindo os guias que irão acompanhar os passeios do trem, a simulação contou com três explosões e fogo. O objetivo foi treinar a equipe que irá acompanhar as viagens.

De acordo com o coordenador do treinamento, sargento do Corpo de Bombeiros de Curitiba Neracyr Moraes da Silva, contratado pela empresa Serra Verde, o trabalho faz parte de uma exigência da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

A intenção é que os guias aprendam a prestar socorro rápido, para o caso de uma tragédia durante a viagem. "Eles devem estar treinados para uma situação que poderia acontecer a qualquer momento", explica.

O treinamento ao qual os guias foram submetidos nesta tarde contou ainda com aulas teóricas, totalizando 16 horas/aula.

Na parte prática realizada na estação, após a segunda explosão os guias começaram a prestar socorro. Os figurantes, maquiados, agiram como se tivessem sido vítimas de uma tragédia. Aos gritos, eles saíram dos vagões correndo e esperaram pelo atendimento dos guias.

Trabalhos - "O ressurgir desse trem é uma coisa muito importante não só para este estado, mas para o país como um todo", afirma o presidente da empresa Serra Verde, Adonai Arruda.

Ele explica que três vagões da antiga composição do trem foram adequados para atender aos turistas. Na reforma, foram incluídas alterações como a instalação de ar-condicionado e a troca dos adesivos plotados que havia nas janelas, para que os turistas possam tirar fotografias.

Tanto os vagões quanto a Estação Indubrasil estão praticamente prontos para o início das atividades. A viagem inaugural, com autoridades políticas, está marcada para o dia 8 deste mês.

Estratégia - Ao contrário do divulgado anteriormente, de que a viagem do trem contaria até com cozinha internacional, os passageiros da classe media e executiva irão receber apenas um kit de alimentos não-perecíveis, com biscoito de água e sal e barra de cereal.

Para o presidente da empresa, oferecer aos passageiros apenas serviço de bordo similar ao das companhias aéreas é apenas uma estratégia para fomentar a economia regional. "A intenção é que as pessoas recebam apenas o serviço de bordo para almoçarem em Miranda", explica.

Presente ontem (2) na Estação Ferroviária Indubrasil, onde aconteceu uma simulação de acidente por parte dos funcionários que trabalharão no Trem do Pantanal, o secretário estadual de Obras e Transporte, Edson Giroto, disse que "até 2010 o trem chegará a Corumbá".

A medida é cobrada pelo setor turístico e prefeitura do município, que hoje está fora do roteiro estabelecido para o retorno do trem.

O percurso de 220 quilômetros será até Miranda, com partida de Campo Grande. Hoje, a maior polêmica envolvendo o passeio é o fato do roteiro não chegar até a Cidade Branca, considerada a capital do Pantanal.

Conforme a ALL (América Latina Logística), concessionária que explora a ferrovia, o trecho até Corumbá será recuperado no ano que vem e por isso o passeio ainda não poderá ser estendido até a Bolívia. Para que fosse a Miranda, a empresa nivelou os trilhos e reformou os vagões, mas o trecho até a Cidade Branca está muito precário.

A empresa garante que investiu R$ 12 milhões no trecho de 220 quilômetros de ferrovia, entre o Distrito Industrial de Campo Grande e Miranda, com troca de dormentes, trilhos e fixação.

Também assegurou que melhorias já foram feitas até Corumbá, o que fez com que a velocidade dos trens, que no máximo atingia 10 quilômetros por hora, com a recuperação, já oscila entre 25 e 30 quilômetros por hora.