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Notícias de Bonito MS

Não há como ignorar o trocadilho: Bonito é realmente muito bonito. A natureza foi ímpar em suas atribuições, e os privilegiados foram os turistas, que a cada ano descobrem, no Mato Grosso do Sul, a 278 quilômetros da capital do estado, Campo Grande, esse paraíso. As atrações vão da simples contemplação - que em Bonito ganha um novo sentido - à mais pura adrenalina, especialmente concebida para os adeptos dos esportes radicais.

Bonito fica na Serra da Bodoquena - que abriga a maior extensão de florestas preservadas do Mato Grosso do Sul - e possui o maior aquário natural de água doce do Brasil. As opções de diversão e aventura são inúmeras: trekking, banhos de cachoeiras, grutas de águas cristalinas, como a belíssima Gruta do Lago Azul, flutuação nas correntezas de rios como Sucuri, da Prata e Formoso, rafting, mergulho autônomo (com cilindros de oxigênio), trilhas de bike, rapel, parapente, ultra-leve.

O santuário ecológico ainda preserva uma admirável diversidade de espécies animais e vegetais. O mais impressionante é observar a riqueza que habita o fundo de rios e lagoas. A visibilidade das águas da região, garantida pela alta concentração de calcário, que funciona como agente purificador, permite que o turista desfrute desse privilégio.

O sucesso do turismo em Bonito está intimamente ligado à preservação da natureza. Qualquer passeio nesse santuário é acompanhado por um guia local registrado.

Nesse contexto, foram criados o Parque Ecoturístico da Bodoquena e o Projeto Vivo. O primeiro é uma iniciativa da ONG Instituto Peabiru de Ecoturismo e inclui passeios em canoas canadenses, mountain bikes, cavalos e trekking. Já o segundo, promove trekking, rafting no Formoso, passeios a cavalo e atividades especiais para crianças utilizando papel reciclado e reciclagem de lixo. Ambos são empreendimentos de lazer associados à educação ambiental e procuram mostrar como é possível aliar conservação da natureza, ecoturismo e geração de empregos.

A exuberância do Pantanal foi apresentada em 1990 para a grande massa de brasileiros pela novela homônima, de Benedito Ruy Barbosa. Passados 13 anos, muita coisa mudou na região. Áreas como a Gruta do Lago Azul, em Bonito, tiveram de ser preservadas para poderem continuar com a mesma beleza de antes. Entretanto, parece que a diferença mais radical está no fluxo de turistas. O editor Mario Toledo e os repórteres Suzana Velasco e Fernando Quevedo foram conferir que os brasileiros estão cada vez mais descobrindo o Pantanal sul-matogrossense. Se antes a proporção de visitantes estrangeiros era de sete para um brasileiro, agora está em meio a meio. Todos vão buscar uma das regiões mais ricas do país, onde um dia nunca é igual ao outro.

Mato Grosso do Sul, estado pantaneiro

Suzana Velasco
Enviada especial, Campo Grande

O imaginário Mar de Xaraés, que teria originado o Pantanal, é na verdade a maior área úmida continental do planeta, com cerca de 210 mil quilômetros quadrados no Brasil, na Bolívia e no Paraguai. No Mato Grosso do Sul estão 65% dessa imensidão de terras alagadas, banhadas pela Bacia do Alto Paraguai. Imensidão que revela, além das centenas de espécies de animais e de plantas, preciosidades que não podem ser mensuradas: uma história que o nativo pantaneiro conta, uma roda de viola no fim do dia, um pássaro que pousa repentinamente. E, no sul do estado, a transparência das águas de Bonito e Bodoquena é lente de aumento para a já grandiosa natureza.

Ao passear de barco no Pantanal, peça para desligarem o motor e deslize rio abaixo, apenas com a ajuda do remo. É assim, vagarosamente, num passeio que pode durar até quatro horas, que o visitante consegue aproveitar tanta variedade de fauna e flora. Além da lentidão, não usar o motor é ainda um presente às águas, porque não há qualquer risco de vazamento de combustível. É por esse motivo que muitos barcos no Pantanal hoje têm motor elétrico, a serviço da ecologia.

Para o turista, o presente é também para os ouvidos. Sem o barulho do motor, ouvem-se os jacarés ? estrelas pantaneiras ? mergulhando nas águas e o canto dos pássaros, que vai sendo percebido aos poucos por gente da cidade, tão desabituada com os ruídos do mato.

Mas o legítimo pantaneiro reconhece de longe os barulhos e as cores das 652 espécies de aves encontradas no Pantanal, diferenciando o grito agudo do gavião belo do canto da saracura, que, como dizem por lá, indica que vai chover. Sons que poderiam passar despercebidos, se não fosse o olhar local habituado à natureza.

É assim que se entende o porquê da frase que se costuma ouvir na região, estampada até em camisetas: ?No Pantanal, siga o pantaneiro?. Em algumas fazendas, os nativos trabalham em conjunto com guias especializados, avistando os animais e contando histórias locais.

? O Pantanal é lindo, principalmente as pessoas daqui, que nos fazem sentir parte de uma família. O guia foi extraordinário ? conta o australiano Andrew Eastwood, referindo-se ao pantaneiro Carlos Antônio Soares, da Pousada Rio Vermelho, no Pantanal do Abobral, região tão plana que é alagada mesmo na seca.

Pantanal do Abobral? Sim, são dez ?pantanais? em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, cada um com características específicas de relevo e fauna, e vegetação típica da Amazônia, do cerrado, do Chaco e até da caatinga.

No Hotel Recanto Barra Mansa, onde todos os guias são pantaneiros, o turista passeia nas límpidas águas do Rio Negro, navegáveis o ano todo ? durante a seca ele fica raso, mas não seca ? e encontra pássaros como o biguá, a biguatinga e o colorido martim-pescador, que se alimentam de algumas das 264 espécies de peixes da região. Afluente do Rio Paraguai, o Negro é um dos mais preservados do Pantanal, devido a seu difícil acesso.

? O pior pescador daqui é o jacaré. Ele não mergulha para pescar. Fica parado se fingindo de morto e esperando o peixe chegar, para dar o bote de lado ? explica Daniel Rondon, que administra o hotel, no Pantanal do Rio Negro.

Segundo o biólogo Ricardo Soares, que trabalha na Pousada Araraúna, para que o turista tenha a chance de ver mais e diferentes animais deve fazer o passeio de manhã cedo ou à tardinha, horários em que o sol não é tão forte ? já que, mesmo no inverno, a fauna se recolhe para se proteger do calor intenso do sol. Se o rio tem margens largas como o Miranda, precisa-se de ainda mais atenção para ver os animais, às vezes escondidos em meio à vegetação, como o pássaro arapapá e o bugio (espécie de macaco), que raramente desce ao solo.

Mas não se preocupe, pois os jacarés estão em toda parte, imóveis, com a cabeça empinada e os olhos arregalados e fixos em algum ponto que desconhecemos. Sem precisar de sorte, 30 deles são vistos em apenas cinco minutos.

? A mata ciliar, que fica às margens dos rios, impede seu assoreamento, pois sustenta os barrancos. Os frutos caem das árvores e alimentam os peixes ? explica Ricardo, durante passeio pelo Rio Correntoso, também no Pantanal do Rio Negro.

Profundo e de leito bem definido, o Correntoso tem trechos margeados por cambarás, árvores típicas de regiões alagadas, que roubam a cena dos tradicionais aguapés da beira dos rios. Seu amarelo se mistura com as cores dos pássaros, como o cor-de-rosa do colhereiro, com bico em forma de colher. Além das aves, podem-se ver capivaras ? os maiores roedores do mundo ? e ariranhas.

O espetáculo começa antes de o sol raiar

O dia no Pantanal começa cedo. E ele, o dia, será sempre anunciado por um personagem que vai acompanhá-lo durante toda a sua estada: o arancuã. Com o seu canto, que os pantaneiros imitam dizendo ?que-ro-ca-sá?, ele vai tirar você da cama antes mesmo de o sol raiar. O arancuã canta sem parar até que o sol chegue no seu ninho. Quando isto acontece, ele bate as asas, sai do galho e o seu dia começa.

Depois do espetáculo do arancuã, que será repetido todas as manhãs, chega a hora do café da manhã que é servido em conjunto pois as atividades geralmente são feitas por todos os hóspedes, ao mesmo tempo.

Em terra, os programas durante o dia são divididos em cavalgadas, caminhadas ou safáris fotográficos. O grupo sai logo depois do café da manhã e volta antes do almoço. Depois dá uma bela descansada para fazer outro programa em terra por volta das 15h.

Durante as três horas de passeio, os turistas assistem a um desfile de animais. Um desfile real, sem as jaulas de um zoológico. Embora ameaçada de extinção, a arara-azul é figurinha fácil nas cavalgadas e caminhadas pelas fazendas.

Capivaras e porcos-do-mato também aparecem bastante, mesmo sem ter os projetos de preservação das araras-azuis.

Difícil mesmo é ver a onça-pintada, a principal estrela pantaneira. Se você não tiver a sorte de ficar frente a frente com ela, com certeza vai levar de recordação a história de ter passado pelo esqueleto de um animal, durante uma caminhada. As onças-pintadas matam cerca de 50 animais por mês. É a lei de sobrevivência da selva.

O jaburu, ou tuiuiú, surpreende pelo tamanho, bem maior do que aparenta em filmes e fotografias. O tamanduá também é grande e pode ser visto cruzando as estradas. Aliás, uma das placas de sinalização existentes nas estradas do Mato Grosso alertam os motoristas para dirigir com cuidado pois muitos animais, como o tamanduá, cruzam o asfalto, principalmente durante a noite.

Urubu-preto, jacaré, garça, garça-branca e macaco-prego serão parte da lista de animais que você viu. ( Mario Toledo).

Na seca, o acesso à região é mais fácil

Antes de ir ao Pantanal, é essencial saber um pouco sobre os períodos de seca (junho a outubro) e cheia (novembro a maio), que dão cenários diversos à região.

Durante a cheia, as chuvas descem dos planaltos que rodeiam a planície pantaneira. O Rio Paraguai, de baixa declividade, transborda, formando baías, vazantes e corixos de águas rasas, no solo poroso que não consegue absorver tanta água. Água que espalha microorganismos, fertilizando as terras e criando condições para a riqueza de ecossistemas do Pantanal.

Durante esse período, os animais se refugiam nas ?cordilheiras? ? que não são serras, e sim elevações de entre dois e três metros ? e os peixes sobem os rios para a desova, no período denominado piracema. Na cheia, só de avião se chega em grande parte das fazendas.

? O vôo no Pantanal é muito bonito. Os mono e bimotores chegam a voar com segurança a apenas cem metros de altitude. Não há redes de alta tensão nem antenas ? explica Wilson Galeano, piloto há 23 anos.

Já na seca, quando as águas baixam, o acesso ao Pantanal torna-se mais simples. Nessa época, a fauna pode ser vista mais de perto. As vazantes secam e os peixes são mais facilmente fisgados; se na cheia as piranhas são sobretudo predadores, na seca são alimento para aves e jacarés. Beneficiados são os animais típicos do cerrado, como emas, tatus e tamanduás-bandeira.

As temporadas pantaneiras também se refletem nos tipos de Pantanal. Os do Abobral e do Nabileque, de terras mais baixas, são os primeiros atingidos pelas chuvas.

? Aqui recebemos águas de Coxim, Bonito e Aquidauana, que vão para o Rio Paraguai e depois para o oceano. Se você ouvir dizer que este ano o Pantanal não vai encher e quiser ver água, pode vir para cá ? diz o legítimo pantaneiro Juvenal Sintra Lopes, o Neto, referindo-se ao Pantanal do Abobral.

Na Serra da Bodoquena, o desafio é vencer o medo e se aventurar no rapel

Ao sul do estado fica a Serra da Bodoquena ? na verdade um planalto ?, que abrange os municípios de Bonito e Bodoquena e parte de Jardim e Porto Murtinho. A 55 quilômetros de Bonito e a 34 de Bodoquena está o Boca da Onça Ecotur, com cachoeiras, trilhas, rapel e banho no Rio Salobra, assim chamado devido ao magnésio de suas águas, que dá a elas salinidade.

Quem quiser praticar rapel tem antes que treinar em uma torre de sete metros, onde os guias explicam como usar o equipamento. E quem achar que a torre já causou fortes emoções que se prepare. São 90 metros de descida num paredão de calcário, a partir de uma plataforma de onde os menos corajosos podem avistar o Vale do Rio Salobra e se animar para um mergulho em suas águas esverdeadas, onde, devido à fragilidade de seu ecossistema, não é permitida a pesca, com exceção da científica.

Mas quem desce pelas cordas do rapel percebe que o medo maior é mesmo na hora de soltar as pernas e se pendurar. Depois disso, a segurança do equipamento permite que o esportista controle quando e o quanto quer descer, dando-lhe a possibilidade de atingir o solo devagarinho, apreciando a vista, ou mais rápido, em ritmo de aventura.

Depois do esforço, a recompensa. Alguns degraus após o fim do rapel, os 156 metros da maior cachoeira do Mato Grosso do Sul esperam o aventureiro para devolver-lhe o fôlego. Embaixo da Boca da Onça ? assim chamada por causa do formato de cara de onça na rocha ?, há uma piscina natural de até três metros e meio de profundidade, onde não se recomenda mergulho, devido à grande quantidade de rochas.

? O antigo dono não tinha noção de que aqui havia uma cachoeira tão grande. Quando comprei o terreno, estava tudo sujo. Eu só limpei, não desmatei. Toda a madeira para a construção da casa veio do Norte ? conta o proprietário da fazenda, Haroldo Barbosa.

Há dez cachoeiras além da Boca da Onça, porém apenas mais uma onde se pode tomar banho: Poço da Lontra, de cinco metros. As outras, como a Cachoeira do Fantasma e a Buraco do Macaco, podem ser admiradas ao longo da trilha ecológica de quatro quilômetros, bem definida por deques e degraus de madeira.

Depois de um dia cheio de atividades, a melhor opção é nadar nas duas piscinas de águas correntes, ao lado de pintados, e fazer hidromassagem. O local ainda pretende, até o ano que vem, oferecer flutuação no Rio Salobra e passeios de bicicleta.

Quem não se contentar com as cachoeiras de Bodoquena pode visitar o Parque das Cachoeiras, a 17 quilômetros do Centro de Bonito. Lá, em passeio de cerca de três horas, o turista faz trilha, onde vê macacos-prego e cotias, e, na volta, visita grutas e seis cachoeiras formadas por tufas calcárias, com piscinas naturais. Precisa de mais alguma coisa?

Programa noturno para ver jacarés

À noite, nem todas as onças são pardas. Há as pintadas também. Ver o animal é o prêmio de ouro para quem vai ao Pantanal. Prêmio que poucos recebem, sem méritos, pois não há fórmula para que a onça seja vista durante a focagem noturna, oferecida por quase todas as fazendas da região.

Durante o passeio, o guia usa o farolete, uma grande lanterna que foca pontos da mata, procurando, além de onças, outros animais de hábitos noturnos, como a lontra e o lobo-guará. Se é raro ver onças ? não há garantias nem com o ?esturrador?, que imita seu som ?, a noite revela os olhos vermelhos dos jacarés e famílias de capivaras mergulhando nas águas.

Os turistas ficam num carro aberto e geralmente usam capas impermeáveis, pois a noite é gelada. Durante a focagem, que dura de duas a três horas, passam por áreas cada vez mais abertas, e, conseqüentemente, mais frias, mesmo que de dia o calor tenha sido grande. No inverno, a temperatura pode chegar a zero grau à noite. Na Pousada Rio Vermelho e no Passo do Lontra Parque Hotel, o passeio pode ainda ser feito de barco, respectivamente nos rios Vermelho e Miranda.

Mas a noite tem mais do que focagem. Na Pousada Araraúna, os guias nativos Arnaldo Silvério e Celso Vicente da Silva formam a dupla de violão e sanfona, que, em celebração pela temporada na região, anima a última noite dos turistas, tocando música sertaneja, xote e polca paraguaia, e contando ?causos? estranhos e assustadores sobre onças e sacis.

Na Fazenda São Francisco, quando o sol se põe, os hóspedes fazem o ?happy hour pantaneiro?, com caldo de piranha. O local também oferece churrasco em volta da fogueira, ideal para as noites frias de inverno, no céu sempre estrelado, livre da poluição das cidades.

Bonito? Que bonito nada, é lindo!

O nome já diz muito, mas não tudo. A beleza de Bonito não é uma beleza qualquer. Ao sul do Pantanal, a 278 km de Campo Grande, as águas dos rios, cachoeiras e lagos refletem o que Bonito tem de mais bonito.

A cidade não está no Pantanal, mas na última década tornou-se caminho obrigatório para quem vai à região sul-matogrossense. O turismo, que não pára de crescer, tornou impecável a infra-estrutura das atividades, a maior parte delas em propriedades particulares.

Uma das já clássicas atrações turísticas é a Reserva Ecológica Baía Bonita, com flutuação ( snorkeling ) em seu aquário natural. Lá, o visitante é preparado antes de se deparar com o mundo debaixo d?água: snorkel , roupa de neoprene para espantar o frio ? as águas do Baía Bonita têm em média 23 graus ? , sandálias especiais e coletes salva-vidas. Assim vai o turista até a piscina da reserva, para treinamento com a máscara e orientações dos guias. Depois da preparação, um grupo de até nove pessoas chega à nascente do Baía Bonita para flutuar em trecho de 900 metros.

Olhando de fora, nada de tão especial. Vêem-se alguns peixes ? são cerca de 30 espécies ? no límpido rio. Mas ao se mergulhar, o impacto das águas geladas dura segundos, o tempo de se dar conta de que os enormes dourados e a colorida vegetação estão mesmo ali, num mundo à parte. Não é exagero: por terem grande quantidade de calcário, as águas dos rios de Bonito são tão transparentes que às vezes dá para esquecer que se está dentro d?água. E o bom mesmo é isso: esquecer e deixar o curso do rio levar o corpo até o fim do percurso.

Durante a descida das águas, há trechos mais rasos, onde quase se flutua dentro da vegetação aquática. Em outros, mais fundos, as coloridas piraputangas ? em tupi-guarani, seu nome quer dizer peixe vermelho ? nadam juntas aos corpos estranhos dos turistas. Mas nem adianta tentar tocar nelas! Os peixes se afastam a qualquer sinal de maior aproximação.

Quem não quiser mergulhar pode acompanhar o trajeto num barco que segue os ?flutuadores?, porque ali não há nadadores. Pernas e braços devem mesmo flutuar, sem se mexer, para não cometerem o pecado de turvar a água tão cristalina. E se o fôlego estiver no fim, há deques de madeira em alguns pontos do rio, onde dá para colocar os pés e tomar um pouco de ar.

Ao final do trajeto, pode-se ir ao encontro dos rios Formoso, Formosinho e Baía Bonita, e fazer um curto passeio de bote pelo Formoso, de apenas 150 metros, para então relaxar na bóia com cama elástica e se pendurar na carretilha (tirolesa).

Passeios como o da Reserva Baía Bonita também podem ser feitos na Fazenda São Geraldo, onde fica a nascente do Rio Sucuri. Lá, a roupa de neoprene é opcional, apesar de recomendável no inverno, e há flutuação por quase dois quilômetros até a foz, no Rio Formoso. Outra opção é a flutuação no cristalino Rio da Prata, passeio que começa na nascente do Rio Olho D´água, a 50 km de Bonito. Os mais aventureiros podem praticar 30 minutos de mergulho com equipamento scuba , para se sentirem ainda mais perto dos peixes.

No Pantanal há dois tipos de guias: urbanos e nativos

Existem dois tipos de guias no Pantanal. Os nascidos e criados no mato, que têm um olhar de lince e sabem o que significa qualquer mudança de vento, como um galho balançando numa árvore, e que imitam todos os cantos dos pássaros. E os que chegaram na região outro dia, foram criados na cidade grande, mas trazem na bagagem um inglês fluente e cursos superiores em faculdades de biologia ou veterinária. Com a estrutura montada pelas fazendas para receber turistas, principalmente os estrangeiros, um guia acaba precisando do outro.

Ary José Viana, de 46 anos, e Gabriella Zampoli de Assis, de 21 anos, trabalham na Pousada Caiman. Ele é um autêntico pantaneiro. Anda pela pousada de calça jeans, botas, chapéu e com o facão preso à cinta de linha de lã colorida. Ele está sempre à frente do grupo, determinando o ritmo do passeio.

? Ali está um macaco-prego ? aponta seu Ary para uma árvore a metros do distância onde só se vêem os galhos mexendo.

O grupo pára imediatamente e ele, então, começa a ensinar aos urbanos turistas como descobrir o tal macaco-prego, que, na verdade, está pulando de árvore em árvore. Logo, os mais atentos começam a dar urras de satisfação e a mostrar aos que ainda não viram onde está agora o animal. Alguns chegam a falar as mesmas frases pronunciadas pelo seu Ary, como se o texto fosse oficial. E era.

Gabi, como é chamada, saiu de Bauru, no interior de São Paulo, onde trancou a matrícula na Faculdade de Biologia. Ela está sempre com o uniforme dos guias, calça verde oliva e camiseta cáqui, e com um almanaque em inglês que mostra todos os animais do planeta. Sabe preparar o tereré, tem histórias na ponta da língua e em um ano e meio trabalhando como guia, já viu seis onças-pintadas.

? Aqui nenhum dia é igual ao outro porque a natureza está sempre mudando e os turistas também ? diz.

Em comum, eles mantêm a paixão pela riqueza da fauna e flora brasileiras. E você pode até não encontrar seu Ary e Gabi, mesmo ficando hospedado na Cayman, mas certamente terá guias tão diferentes, e ao mesmo tempo, tão parecidos. (Mario Toledo)

Um passeio agradável pela gastronomia regional

Com tantas atividades no Pantanal, a alimentação reforçada é imprescindível. Que bom! Essa é a desculpa perfeita para deliciar a culinária sul-mato-grossense.

O dia começa com o ?quebra torto?, café da manhã pantaneiro que inclui frutas, leite, queijos e pães. Tudo fresquinho e produzido nas próprias fazendas. A refeição matinal pode ter até arroz-de-carreteiro, feito com carne de sol e toucinho ou bacon.

No almoço e no jantar, dá para escolher pratos com todo tipo de peixe: dourado ou pintado a urucum, costela de pacu e caldo de piranha, considerado afrodisíaco pela população local. O acompanhamento pode ser arroz com pequi, fruta típica do cerrado, também usada em licores. Opções mais audaciosas são carne de jacaré ? não tão macia quanto a do peixe, mas muito saborosa ? ou de javonteiro, fruto do cruzamento de javali com porco monteiro.

Quem for a Mato Grosso do Sul também não pode deixar de provar chipa (espécie de pão de queijo com polvilho), lingüiça de Maracaju e o vitelo do churrasco pantaneiro, servido com aipim frito e sopa paraguaia. Não se assuste: a sopa não é líquida, e sim um bolo salgado, feito com farinha de milho. Melhor ainda se for o vitelo orgânico do Pantanal, que é criado solto no campo, não é alimentado com rações e, para crescer, só mama e pasta.

Para beber, o tereré (pronuncia-se tererê) é a bebida típica vinda do Paraguai, semelhante ao chimarrão, mas tomada gelada. Corumbá tem o mate chimarrão, refrigerante verde feito a partir da erva-mate. De sobremesa, forrundu (doce de mamão e rapadura de cana) ou mesmo o brasileiríssimo doce de leite com queijo. E se, ainda depois desse cardápio a energia faltar, a solução é a cachaça Taboa, de Bonito, com mel, guaraná em pó e canela.

Corumbá revitaliza seu patrimônio histórico

Do alto, vê-se a cidade margeada pelo Rio Paraguai, o principal a banhar o Pantanal

Corumbá, cidade de 1778, a mais antiga do Mato Grosso do Sul, tem muita história para contar. Andando pelos cruzamentos da cidade, a 435 km de Campo Grande, o turista se surpreende ao olhar para o lado e, no fim da rua, ver o Rio Paraguai, o mais pantaneiro de todos ? ele é o principal da bacia hidrográfica da região ? e que, de baixo declive, transborda na época da cheia. Com 70% de áreas pantaneiras em seu território, ?a cidade branca?, de terras ricas em calcário, é também chamada pelos corumbaienses de ?capital do Pantanal?.

No Rio Paraguai, a divisão com a Bolívia se dá no Canal do Tamengo, onde a navegação só é permitida com autorização boliviana. No porto fluvial, que de 1870 a 1930 foi o terceiro mais importante da América Latina, há cerca de 70 barco-hotéis, com suítes, cozinha, sala de estar e área aberta. Essa estrutura é possibilitada pela largura média de 170 metros do Rio Paraguai, o que facilita a navegação.

Em 1865, durante a Guerra do Paraguai, Corumbá foi invadida e destruída e a navegação interrompida no Rio Paraguai. O Forte Junqueira foi construído em 1871, depois que a cidade foi retomada do Paraguai. De lá, o turista pode avistar o rei dos rios pantaneiros, que delineia a cidade.

Há cerca de cem construções históricas em Corumbá, 88 delas tombadas em 1992 pelo Patrimônio Histórico Nacional. A maior parte data do fim do século XIX e precisa de obras de revitalização, que vêm sendo impulsionadas pelo Programa Monumenta, do Ministério da Cultura, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Já estão em restauração a Praça General Rondon e a Escadinha da Praça XV, de 1923, que tem mirantes de onde se vê o Rio Paraguai e seus barcos de pesca.

A cidade tem também um aeroporto internacional, que, desativado, hoje só recebe aviões locais, os chamados ?táxis aéreos?. Também desativado, o antigo Trem do Pantanal pode voltar a funcionar no trecho Corumbá-Campo Grande, em projeto que promete revitalizar ainda mais a ?capital do Pantanal?.

O Trem do Pantanal é esperança de mais uma opção de turismo

De 1941 a 1992, o Trem do Pantanal levava passageiros e turistas de Campo Grande a Corumbá, num percurso de 459 km que, em cerca de 12 horas, passava por áreas pantaneiras. Hoje, o trem percorre o mesmo trajeto três vezes por semana, mas apenas para transporte de carga.

No ano passado, o governo do Mato Grosso do Sul fez um estudo de viabilidade, e agora espera acordo entre a União e a concessionária Novoeste, que administra o trecho. Segundo a coordenadora do Programa Trem do Pantanal, Leatrice Couto, o estudo prevê um gasto de R$ 224 milhões para recuperar a malha ferroviária e 15 das 33 estações existentes.

? Pensamos em operar com um trem mais veloz, à noite para passageiros e de dia para o turismo, com paradas mais longas nas estações. O cenário desse trecho é delirante ? exalta Leatrice.

A coordenadora não exclui o transporte de carga e ainda prevê a realização de atividades culturais e recreativas no espaço das grandes estações de trem, como a de Corumbá.

? Torço para que o trem volte logo a funcionar. Lembro as viagens de 12 horas até a capital, quando só havia bife a cavalo no cardápio. Era um trajeto lindo ? recorda a corumbaiense Fátima de Andrade.

Para o sul-matogrossense João Antônio Venturini, a construção da BR-262 foi o principal fator para a desativação do Trem do Pantanal:

? A rodovia poderia muito bem conviver com o trem. A ferrovia foi construída numa altura em que a água não chega, diferentemente da estrada, que chega a ter trechos de 100 km inundados na época da cheia.

A BR-262 é a rodovia principal, uma opção à Estrada Parque, de terra, Área Especial de Interesse Econômico desde 1993, por passar em trechos com grande variedade de fauna e flora, mas que também tem partes inundadas.

Agora, espera-se que haja mais uma opção de transporte com os vagões celebrizados na voz de Almir Sater, na música ?Trem do Pantanal?, de Geraldo Roca e Paulo Simões: ?Enquanto esse velho trem atravessa o Pantanal/ As estrelas do cruzeiro fazem um sinal/ De que esse é o melhor caminho para quem é como eu/ Mais um fugitivo da guerra?.
SUZANA VELASCO e FERNANDO QUEVEDO viajaram a convite do governo do Mato Grosso do Sul, por meio da Fundação de Turismo do estado. MARIO TOLEDO viajou a convite do Refúgio Ecológico Caiman.

Eclético e barato, Festival de Inverno de Bonito vira centro de badalação nas férias

Sara Duarte ? Bonito (MS)

A moçada descolada já tem um novo ponto de encontro para a temporada de inverno. Longe da badalação de Campos do Jordão, a cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, já tem um festival de inverno de fazer inveja aos eventos do eixo Rio?São Paulo. Com shows de artistas famosos, exposições de arte, palestras com escritores e apresentações folclóricas, do sábado 12 ao sábado 19, a organização do evento esperava receber mais de 30 mil pessoas.

Localizada a 278 quilômetros de Campo Grande, Bonito é conhecida nacionalmente como o paraíso do turismo ecológico. Inscrustrada entre o Cerrado e o Pantanal, atrai turistas de todas as idades com belezas naturais como o rio da Prata, um verdadeiro aquário a céu aberto, excelente para a prática de mergulho, e a Gruta do Lago Azul, formada pela ação da chuva nas rochas de calcário. Há quatro anos, com seu festival de inverno, a cidade passou a ser o destino certo para quem quer férias com diversão e frio ? as temperaturas chegam a zero grau.

O festival de Bonito é feito para ser popular. Cerca de 90% das atrações têm entrada gratuita e naquelas em que é cobrado ingresso os bonitenses pagam meia. As atrações diurnas, como oficinas de dança e encenações folclóricas, acontecem na praça da Liberdade, no centro, enquanto os shows e seminários têm lugar no circo. O rol de atrações também é bastante variado: da MPB de Toquinho e Ney Matogrosso às modas pantaneiras da Família Espíndola, passando pela música eletrônica de Fernanda Porto.

Durante os sete dias de festival, Bonito recebe turistas de todo o Brasil, especialmente da região centro-oeste, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. O resultado é um público eclético. No domingo 13, sob um frio de oito graus, garotas de minissaia pregueada e boina ? o figurino da moda teen ? rivalizavam com garotos de cabelos black power. Vindo de Campo Grande, o casal Mirelle Duailib, 20 anos, e Rodrigo Estrada, 23, era uma amostra disso.

Estudante de direito e jornalismo, ela vestia chapéu de pelúcia e sobretudo preto. O namorado, músico, exibia calça cargo, tênis e dread locks. Mesmo com estilos diferentes, os dois dançavam animados ao som pernambucano do Cordel do Fogo Encantado. ?Também vamos assistir às oficinas de música e a uma palestra do Ziraldo?, contou Rodrigo. Eles estavam hospedados em uma pousada pela pechincha de R$ 35. ?O segredo é reservar antes, porque durante o festival Bonito fica lotada e a diária chega a R$ 100?, diz Mirelle.

Para quem tem amigos ou parentes na cidade, o Festival de Inverno de Bonito já virou programa oficial das férias. Rafael Gomes Vendas e sua prima Isabella Arakaki, ambos de nove anos, passaram a semana assistindo a espetáculos de teatro, cinema e shows. Para eles, a melhor coisa de um festival de inverno numa cidade do interior é poder ir aos espetáculos sozinhos e a pé. ?Avisei a minha mãe para me ligar sempre na hora do almoço, porque durante o dia e à noite eu estaria ocupada?, conta Isabella. Uma das atrações de que mais gostaram foi a encenação do Touro Candil, uma dança em que uma pessoa se veste de boi e as outras, fantasiadas de boiadeiros, ateiam fogo aos seus chifres. ?É uma tradição daqui da região e foi criada por paraguaios que foram à Espanha e viram as touradas?, contou Rafael.

Além do Touro Candil, havia uma série de manifestações folclóricas do Mato Grosso do Sul, como a Saga do Mané do Boi ou as Danças Circulares Sagradas (as cirandas). Durante a semana, artistas e intelectuais de todo o País fizeram apresentações. O grupo Pia Fraus, de São Paulo, mostrou o espetáculo Bichos do Brasil, enquanto os brasilienses da Cia. Ruarte de Bonecos falaram sobre mitos e lendas da Amazônia. Nas oficinas, era possível adquirir noções de percussão com o grupo Maracatu do Baque Virado ou aprender técnicas de clown e mímica com os atores do grupo Lume. O tema ecologia também permeou várias atividades, como o seminário A água doce e o futuro do planeta, presidido pelo jornalista Zuenir Ventura.

Até o governador Zeca do PT entrou no clima de diversão. Sentado na arquibancada, de chapéu de boiadeiro e camisa xadrez, ele aproveitava o show de Zélia Duncan. Um dos idealizadores do evento, o político diz que a idéia é inserir a cidade no calendário de festas nacionais, assim como o Carnaval do Rio de Janeiro. ?Não queremos que Bonito seja apenas destino para ecoturismo. Vamos discutir aqui cultura, folclore e preservação ambiental?, diz. Entusiasmado com o sucesso do festival, que registra um aumento de público de 15% ao ano, ele já planeja realizar eventos semelhantes em Corumbá e Ponta Porã. ?O Mato Grosso do Sul precisa disso para reafirmar sua identidade?, afirma.

Festival de Bonito se firma como via cultural de mão dupla

BONITO, MS - Depois de uma semana de debates, shows, teatro, cinema, dança, mostras e oficinas, acaba amanhã, com apresentação de Zé Ramalho, o 4º Festival de Inverno de Bonito MS, em Mato Grosso do Sul. Fincado no Centro-Oeste do país, o evento oferece uma via cultural de mão dupla. Enquanto os bonitenses e habitantes da região aproveitam a (rara) oportunidade de desfrutar de uma programação cultural intensa - que inclui atrações de várias partes do Brasil -, os visitantes que tem mais uma motivação de montar seus pacotes para Bonito,se deslumbram com a exuberância da natureza local e se vêem diante da chance de conhecer trabalhos que são exemplos de cultura popular ou que misturam a ela referências eruditas.

Para o governo do Mato Grosso do Sul, a iniciativa atende ainda a outros importantes objetivos: o combate à prostituição e a preservação do meio ambiente.

- O festival pretende dar dimensão nacional ao potencial do ecoturismo no Estado. Antes dessa nova política, o que havia, por 25 anos, era o incentivo ao turismo de pesca, que provocou prejuízos ambientais e está ligado ao turismo sexual - diz o governador Zeca do PT.

Além da criação e manutenção do festival, que recebeu 30 mil pessoas ano passado e pretende contabilizar até amanhã 50 mil visitantes em 2003, Zeca conta que pretende investir mais em turismo cultural, com destaque para a revitalização de monumentos da Guerra do Paraguai e a criação de dois eventos como o de Bonito.

O secretário da Música e Artes Cênicas do Ministério da Cultura, Sergio Mamberti - presença constante no festival desde a primeira edição - participou este ano como representante do ministro Gilberto Gil:

- É um espaço de intercâmbio artístico importante e ressalta o cuidado com a natureza. A população usufrui mais do que em outros festivais.

Alheio a maiores discussões, o estudante Tiago Pitthan, 24 anos, que mora em Campo Grande e se muda para Bonito na época do festival, resume a importância do evento:

- A gente não tinha acesso à cultura e ao teatro antes.

Além de belas paisagens, a cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, abriga uma espécie de flor que não se via há 185 anos.

Descoberta no Paraguai em 1815, a Dimerostemma annuum é da família das margaridas e dos girassóis. Foi flagrada pela câmera de um biólogo da equipe que estudava plantas aquáticas na região. A rara margarida alcança um metro de altura e brota na seca, por entre as pedras de calcário de uma lagoa temporária. Nos meses de enchente, ela some debaixo das águas turvas da chuva.

Se o interesse é água, a cidade localizada na borda do Pantanal dá um banho. Seja em rios, lagos ou cachoeiras, o que não falta aos ecoturistas é aventura, emoção e muita adrenalina

No encontro com as águas cristalinas e calcárias dos rios de Bonito (MS), o importante é se deixar levar pela leve correnteza entre piraputangas avermelhadas e dourados gulosos, alguns dos peixes da região. Em um mergulho superficial com máscara e roupa de neoprene é possível até se sentir, ao menos por algumas horas, mais próximo da origem da vida. Para algumas ciências religiosas, a água é a essência de tudo.

Num planeta onde a água doce torna-se cada vez mais escassa, Bonito dá-se ao luxo de abrigar nascentes, ressurgências, riachos, lagoas e lagos. Muitos desses, aliás, localizados em grutas esculpidas pela natureza durante 600 milhões de anos.

É um colírio para os sentidos seguir o curso de alguns rios, como os do Peixe e da Prata. Neles, deve-se experimentar um inesquecível snorkelling desde as nascentes, em trechos contornados por densa mata ciliar onde se movimentam macacos, araras e tucanos. São momentos, certamente, únicos.

As florestas submersas de vegetação espelham a pureza das águas. De tão transparente, a fotossíntese e o crescimento das formas verdes ocorrem mesmo sob esse reino líquido. Parecem algas, mas são vegetação terrestre submersa.

Um mergulho em Bonito é um espetáculo relaxante. Este é, por sinal, o grande trunfo do turismo ambiental nas terras dos velhos coronéis. A 330 quilômetros de Campo Grande, na borda do Pantanal e em plena Serra do Bodoquena, atrai viajantes de todo o mundo.

Preservação

Mas como não ficar boquiaberto com as maravilhas de Bonito?! Uma síntese perfeita de equilíbrio da natureza, a região - sacudida pela onda de ecoturismo - enfrenta o desafio de preservar seus encantos naturais para o olhar das futuras gerações.

Se a grandiosidade de maravilhas cênicas em Bonito é um luxo, o grande desafio a ser vencido é o lixo. Todas as nascentes são como pérolas frágeis em taças de cristal. O impacto da presença humana, na forma de detritos e outros vestígios, pode ser o fim de tudo. Por esta razão, para viajar até lá é preciso preparar a consciência e fazer reserva antecipada, principalmente nos períodos de pico, como feriados e alta temporada.

Os diversos atrativos só podem ser visitados com guias habilitados pelo Instituto Brasileiro de Turismo, a Embratur. Lá, até mesmo o princípio básico de ecoturismo (não deixe nada a não ser pegadas e não tire nada a não ser fotos) deve ser revisto. Em algumas nascentes, nem mesmo pegadas devem ficar no solo. Snorkelling só é permitido com roupa de neoprene e colete salva-vidas, para que os pés não toquem o fundo, evitando turbulências. Os grupos de visitantes devem ter no máximo 15 pessoas. Cada uma das muitas atrações só pode receber o limite de 100 pessoas por dia. Preservar o paraíso requer vigilância constante.

A maioria das agências que oferecem viagem para Bonito dispõem de pacotes de cinco dias. Nesse caso, tirando os dois dias gastos na ida e na volta, desde São Paulo, sobram apenas três dias para conhecer o local. É pouco, mas o suficiente para um vislumbre. O roteiro clássico inclui uma passagem pela Gruta do Lago Azul, pelo Aquário Natural, na Baía Bonita, e pelo Rio da Prata. Mas há muito mais para ser visto.

A Gruta do Lago Azul atrai pela constituição de estalactites que contornam um espelho dágua claríssimo, de profundidade até hoje misteriosa. Um robô mergulhador chegou a 70 metros. Há lagoas, porém, com profundidade superior a 380 metros.

O Aquário Natural, outra parada obrigatória, abriga uma ressurgência. Nessa piscina de água calcária, peixes de diversos tamanhos dão um colorido especial. São cardumes de mansos lambaris, piaus, piraputangas, dourados e pintados, só para citar alguns, que dão vida a esse local de extremas beleza e delicadeza. O excesso de visitantes - ou qualquer outra intervenção - pode afastar de lá toda essa variedade de vida.

O Rio da Prata é outro passeio que se tornou um clássico. Inclui caminhada por trilha de mata primária e termina com um mergulho desde as nascentes do Rio Olho DÁgua até a barra, no Rio da Prata.

Adrenalina

Os mais corajosos podem incluir no roteiro um item a mais: doses generosas de adrenalina durante um mergulho autônomo em caverna. Trata-se do cave diving, uma experiência que pode ser realizada com instrutor e equipamentos de segurança. Dois dos points mais procurados são a Lagoa Misteriosa, próxima do Rio da Prata, e a Gruta do Mimoso, logo após o Rio do Peixe.

Para os mais radicais, os que vivem com sede de aventura, as operadoras de ecoturismo reservam uma atração extra. É uma atividade que alia o esforço do rapel com um mergulho no Abismo Anhumas. Lá, ecoturistas de verdade vivem a experiência de despencar pouco a pouco por uma parede de rocha - com mais de 80 metros de altura - até desabar em um lago refrescante. Pura magia.

Antônio Paulo Pavone

Mergulho em cavernas, considerado de alto risco, ganha infra-estrutura e atrai turistas

Rosana Zakabi

O Brasil é um lugar privilegiado para um tipo especial de mergulho ? aquele feito em águas subterrâneas. São mais de 3.000 cavernas catalogadas, muitas delas com lagos e rios. O que atrapalhava era a falta de infra-estrutura de apoio. Feito de modo selvagem, o mergulho em cavernas é arriscado. Devido à pouca luminosidade em alguns trechos, o mergulhador pode se perder e não encontrar a saída. Essa situação está mudando. Neste ano, o Ibama abriu aos mergulhadores três cavernas em Bonito, em Mato Grosso do Sul. São a Gruta do Mimoso, a Abismo Anhumas e a Lagoa Misteriosa, que estão entre as mais espetaculares do país. Outras três devem ser liberadas em breve na mesma região. Os cuidados com a segurança são severos. O turista é obrigado a fazer um curso específico de mergulho em caverna, que dura cerca de uma semana e custa 600 reais. Para se aventurar em certos trechos, exige-se experiência com mergulho a céu aberto. Ainda assim, só é permitido entrar na água em pequenos grupos acompanhados de guias licenciados pelo Ibama.

O esforço vale a pena. A Gruta do Mimoso fica a 35 quilômetros do centro de Bonito e é uma das mais populares. O visitante consegue mergulhar a uma profundidade de 18 metros e, lá no fundo, nadar entre formações calcárias de 8 metros de altura. O único acesso para a Abismo Anhumas, a 23 quilômetros de Bonito, é por meio do rappel ? ou seja, é preciso descer paredões pendurado em uma corda. A descida até a superfície do lago é de 72 metros. O acesso para a Lagoa Misteriosa é feito por uma escadaria de 100 metros de altura. "O mergulho não é difícil, mas requer autocontrole e tranqüilidade, principalmente porque há alguns trechos sem luz", diz Alexandre Glauco Selhorst, engenheiro paranaense que mergulhou em Bonito neste ano. As visitas às cavernas de Bonito estiveram proibidas durante dois anos. "Além do problema da segurança no mergulho, havia a questão das pichações, do lixo e da depredação das formações rochosas", explica Ricardo Marra, chefe do Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas do Ibama.

O mergulho na Gruta da Pratinha, na Chapada Diamantina, não exige preparo nem autorização prévia. Usam-se apenas snorkel, máscara, colete salva-vidas e lanterna. Dos 3.000 visitantes que a gruta recebe todo mês, 300 mergulham, entre eles crianças e adolescentes. O mergulho custa 15 reais por pessoa e os equipamentos podem ser alugados no próprio local.

Em Minas Gerais, os mergulhos acontecem na Represa de Furnas, na cidade de Passos, a cerca de 30 quilômetros da barragem. Existem mais de dez cavernas submersas no local, a até 20 metros de profundidade. Na entrada de uma delas há um barco naufragado. Os mergulhadores nadam dentro delas e podem ver tipos de peixes que vivem nas grutas.