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quinta, 26 de agosto de 2010

Sabores e Odores em Sistemas Aquáticos

A água estritamente definida como "composto puro", semelhante a todos outros, deveria exibir características químicas e físicas previsíveis, pois que, as propriedades de um composto puro são tão dignas de confiança, que podem ser usadas para identificação de uma amostra desconhecida. Lógicamente neste contexto, não haveria sentido discutir "qualidade de água", porém como o seu comportamento mantém uma relação intima e dependente com o sistema, meio ou ambiente que a contenha, variações devem ser esperadas, com severas influências aos seres vivos.
Além disso, os fatores do uso da água, ou seja, seu contato com as ações decorrentes da presença do homem, oferecem interferências diversas nas  suas naturais características.
Até certo ponto, a melhor água para aqüicultura dulcícola seria a de origem subterrânea - nascentes/poços - , devendo-se, no entanto, considerar os componentes do solo onde esteja implantado o chamado lençol freático - aquífero - , certamente pobre ou nulo em produtividade primária. Esta água deveria estar livre de qualquer forma nociva que possa ocasionar efeitos não favoráveis aos organismos ou mesmo fazer deles, os vetores de espécies patogênicas.
Na  verdade, o aqüicultor deve encarar o uso da água como um  recurso econômico e seu emprego inadequado ou sem considerar suas características originais e próprias, pode  ocasionar empobrecimento do plantel, depreciação morfológica e debilidade fisiológica, tornando-o susceptível a infestações e infecções, levando-o a extinção, não só por doenças, mas por fatores oriúndos de reações químicas e alterações físicas ocorridas no sistema aquático.
Em um encontro  de Aquicultores do Vale do Ribeira, ouvimos de um preocupado produtor da região, a afirmação de que o serrasalmíneo pacu , quando criado em confinamento  - tanque/lago - adquire em sua carne, o sabor desagradável de barro, devendo-se, então, para melhorar sua qualidade, mantê-lo  por algum tempo, em água mais corrente, antes de oferecer o produto ao consumidor. Outro participante, sugeriu que se aplicasse cal às águas, ocasionando assim a precipitação dos dissolvidos, responsáveis  por tão inadequado sabor. 
Concordamos..., porém exclarecemos que a presença deste sabor e mesmo odor de mofo  nas águas dos tanques de  pacu  , advém principalmente da lise das células e liberação de substâncias , ou seja, da ação pós-mortis de certas algas, como as dos grupos cianofíceas e diatomáceas (Rivularia sp, Microcystis sp  e Fragilaria  sp, Melosira sp, Synedra sp, respectivamente), predominantes quando de específicas caracterísitcas físicas e químicas da água, como pH próximo a neutro (5 a 7) e oxigênio dissolvido baixo, decorrentes do excesso de matéria orgânica e nutrientes minerais.
Tais microrganismos, se apresentam na faixa superior da lâmina dágua, sendo portanto de fácil ingestão e contenção pelos serrasalmíneos, que se mantem por um maior espaço de tempo em contato com esta região superficial, à procura de alimento.
As algas azuis, além de serem menos eficientes na produção de oxigênio pela fotossíntese, conferem coloração azul-esverdeada, formando as chamadas "natas" na superfície da água, provocando exalação de incomodos odores, devendo ser interpretados pelos aquicultores, como indicativo de desiquilíbrio dos nutrientes.
Já as algas  verdes, oferecem uma coloração esverdeada ao meio ou seu entorno, predominando em pH básico e  alta concentração de oxigênio dissolvido na água, podendo apontar bôa qualidade de água. Porém, a cor verde-leitosa em certas áreas e transparência em outras, indica que o tanque ou lago, passa por processo de autofloculação, decorrente da elevada temperatura e concomitantemente pH, a tal ponto que  provoca a precipitação dos hidróxidos de magnésio ou de cálcio , carreando para o fundo, as  algas e outros microrganismos.Salientamos que o magnésio é elemento importante na síntese de clorofila.
A autofloculação ocorre nas épocas de verão, em tanques pouco profundos, justificando-se , também neste caso, o alerta do pesq. Geraldo Bernardino, quanto à inadequada insistência de ter-se tanques rasos em regiões de alta incidência luminosa.
Outras variáveis conferem características as águas de aquicultura, devendo os criadores estarem atentos a todos elas, não recaindo suas preocupações, apenas, às características biológicas das espécies natantes, sem conseguir obter ligações necessárias com as peculariedades do biótopo, ou seja, com os recursos de natureza orgânica ou inorgânica que mantêm a vida em um sistema aquático. 
Por exemplo, na relação nutrientes/algas, lembramos que, diferentes espécies apresentam específicas preferências por determinadas formas de compostos, principalmente pelos de nitrogênio e carbôno e, dependendo da forma como assimilam , esses organismos podem produzir mais ou menos oxigênio. As algas necessitam para o seu desenvolvimento e reprodução, de 106 átomos de carbôno e 15 de nitrogênio , para cada átomo de fósforo.
Quanto ao fósforo, sabe-se que o mesmo é preferencialmente assimilado pelas algas, na forma  de ortofosfato e já a fonte de carbôno se encontra disponível na forma  de alcalinidade e gás carbônico, sendo este gás apenas suprido pela atmosféra, quando da sua deficiência na água. Também, a necessidade de gás carbônico não constitui fator limitante para  a proliferação de algas, a não ser nos instantes picos da ação fotossintética, os quais ocorrem em pontuais momentos, durante o dia.

Sabores e Odores em Sistemas Aquáticos

Resumo: Alimentos de origem aquática, como os peixes, podem apresentar sabores indesejáveis, depreciando e prejudicando a comercialização. Também águas de abastecimento, em certas épocas, apresentam odores desagradáveis e sabores  inadequados, assustando o consumidor. Todas essas  características, as vezes são causadas por microrganismos comuns,entre eles as algas.

As  algas, componentes do plancton,  fazem parte do conjunto de organismos denominados  produtores, constituindo o elemento básico da cadeia alimentar, transformando a matéria  inorgânica em orgânica, mas podendo, também ocasionar sérios transtornos  nos possíveis usos da água,  e mesmo ações à saúde  dos organismos tróficos superiores.
Atenções devem ser dadas quando de florações  e predomínio de certos grupos  que apresentem  a capacidade  de causar odor e sabor às águas (liberação de ácidos graxos e lipídeos contidos nas células) ou mesmo liberação de toxinas, devendo-se manter certos cuidados quanto  às  concentrações de nutrientes da água e na cinética das variáveis como: intensidade luminosa, temperatura, gás carbônico livre ou em outra forma, oxigênio dissolvido, pH, etc.
A manutenção da concentração do número normal das algas visando o seu equilíbrio em relação aos demais organismos constituintes do ecossistema aquático deve ser considerada, objetivando-se sempre as melhores e mais adequadas  características da água,  em especial para aqüicultura.
Basicamente a nocividade desses organismos esta relacionada com a quantidade de massa orgânica que aporta e  que chega a se formar no sistema aquático, levando  a deposição e concentração de grande quantidade de lodo, além da liberação de vários compostos, e de causar alterações de caráter  químico, especialmente  no pH e nos processos oxidativos.
A água doce, normalmente, contêm em  variadas proporções, soluções de  carbonatos, sulfatos, cloretos, silicatos, nitratos e fosfatos de cálcio, magnésio, sódio, potássio e ferro,   dependendo da natureza geológica dos terrenos adjacentes, dos lançamentos orgânicos e inorgânicos e de outros fatores físicos, como movimentação das águas (declives, obstáculos), alterações na temperatura, profundidade, etc., que aumentam ou diminuem a solubilidade  de elementos e substâncias nas águas.
Lagos ou sistemas de pouca profundidade e com altas concentrações de nitrogênio, possivelmente apresentem predominantemente o grupo de algas azuis (cianofíceas), como  Microcystis aeruginosa e Aphanizomenon sp, que quando em decomposição e sob a ação de certos fungos e bactérias, produzem intenso e desagradável sabor e odor e até oferecendo sensações estranhas quando ingeridas, como a adstrigência. Este mesmo  sistema, com disponibilidade grande de fósforo,  caracteriza um processo de eutrofização.
Quando da decomposição, as algas podem exalar forte odor de podridão e   eliminar substâncias com sabores e odores atípicos, como o de mofo, barro, BHC, e mesmo  tóxicas.
Isso leva com certeza à mortandade dos organismos criados (peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios), ou à depreciação do produto quando colocado à venda, o que nem sempre é possível de ser  evitado pelo produtor.

Apontamos abaixo, algumas espécies de algas causadoras de sabores e odores, em sistemas aquáticos:

Algas verdes: 

Chara sp =  crescem presas às paredes e produzem odor fético ou de alho. Vivem em águas duras, (alcalinas). 

Cladophora sp = formam glumeros na superfície e acumulam nas margens. Algumas ocasionam sabor e odor desagradável.

Closterium sp = freqüentes em águas duras, podendo causar odor de capim.

Cosmarium sp= ocasionam turbidez (verde) à água e causam odor de capim.

Gloeocystis sp= produzem odor e sabor séptico.

Nitella sp= dão gosto amargo  e odor de capim ou séptico às águas.

Pediastrum sp = produzem odor e sabor de peixe.

Spirogyra sp= são filamentosas e a S. majuscula produz odor de  capim.

Staurastrum sp =ocasionam odor e sabor de capim , como o S.paradoxum, ou de remédio, quando em águas cloradas.

Ulothrix sp=produzem odor de capim.Algumas vivem em águas ácidas.

Uronema sp= na presença de cloro, produzem  odor de remédio.
       
Algas azuis:

Anabaena sp = podem produzir odor de capim, de rabanete, de mofo e quando decompõem, exalam odor  séptico. Algumas espécies são tóxicas.

Aphanizomenon sp = contribuem para diminuir a dureza das águas. Produzem odor de capim e quando se  decompõem  exalam forte odor séptico. Quando vivas apresentam gosto doce e sensação adstringente. Algumas espécies são tóxicas.

Cylindrospermum sp = algumas espécies podem causar gosto e odor desagradável.

Glooeotrichia sp = São flutuantes ou sésseis, e quando em grande  número dão a água odor de capim A  espécie G. echinulata é tóxica.

Gomphosphaeria sp = a G. lacustris produz gosto adocicado e odor de capim, podendo ser tóxica.

Microcystis sp = quando em decomposição, produzem  odor séptico e quando vivas o odor de capim; algumas espécies são tóxicas ou potencialmente tóxicas, como a M.eruginosa, M. flo-aquae e M.toxica

Nodularia   sp = produzem imensos tapetes na  superfície d água  e a N. spumigena é tóxica

Nostoc sp =  podem produzir odor de capim ou séptico e quando em grande número,  certas espécies podem ser tóxicas.

Rivularia sp = dão odor e sabor de terra ou capim e até de  mofo à água.

Diatomáceas:

Asterionella sp= algumas espécies dão odor de gerânio ou de condimentos à água. e às vezes  odor de peixes.

Cyclotella sp = causam sabor e odor de gerânio ou de peixe.

Fragilaria spp = produzem odor de gerânio em pequeno número e de mofo ou terra quando em grande abundância.

Melosira sp = produzem odor semelhante ao gerânio, ou sabor de terra  quando em quantidade.

Meridion sp = em quantidade, produzem odor de condimentos.

Stephanodiscus sp = a S. niagarae produz odor de peixe ou gerânio, dependendo da sua quantidade.

Synedra sp = produzem  odor  e sabor de capim, quando em pequeno número ou de terra ou mofo, quando em predomínio, como é o caso da espécies S. ulna. Em águas cloradas, dão gosto de remédio.

Tabellaria sp = algumas espécies produzem sabor de peixe. 

Cloroflagelados(c) / Dinoflagelados(d):

Volvox sp (c) = aparecem e águas duras e produzem forte gosto de peixe nas águas.

Synura sp (c) = em pequeno número produzem sabor e odor de pepino ou de peixe quando em grande número. Possuem gosto picante ou metálico, dando a língua a sensação de secura e pegajosa

Peridinium sp(c/d)  =  quando em pequeno número, produzem odor de pepino ou de peixe quando em grande número

Mallomonas sp (c) = produzem odor de peixe ou de violeta.

Gonyaulax sp (c/d) = dão forte odor e sabor de peixe e em decomposição liberam odor de terra.

Glenodium sp (c/d) = produzem odor de peixe.

Euglena sp (c)  = algumas produzem odor e sabor de peixe.

Dinobryum sp (c)  = produzem sabor e odor de peixes ou em águas cloradas o gosto de remédio.

Cryptomonas sp (c)= causam gosto doce e odor  de violetas as águas.

Chrysosphaerella sp (c)  = produzem odor de peixe.

Ceratium sp  (c/d) =produzem odor  de peixe ou séptico e gosto amargo.

COLUNISTA

Helcias de Pádua

helcias@portalbonito.com.br

Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom

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