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quinta, 26 de agosto de 2010

Água do século XX para o século XXI

Até o final do século XX, apenas 47% das cidades brasileiras coletavam parcialmente seus esgotos domésticos e deste montante cerca de 90% eram literalmente lançados nos rios e 70% dos efluentes industriais sendo disponíveis no ambiente, sem sofrerem qualquer tratamento. Sabe-se que até 1999, apenas 8% dos municípios do Brasil possuem tratamento adequado de esgoto e que 55% não apresentavam estações de tratamento de água, correspondendo em cerca de 54 milhões de pessoas sem acesso a rede de distribuição de água e mais de 100 milhões não tinham seus esgotos tratados adequadamente, ainda. Lembramos que o ideal serviço de esgoto num município deve seguir sempre este caminho: ser coletado corretamente, ser transportado dentro de padrões ambientais e ser tratado adequadamente.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, por exemplo, conseguia tratar apenas 23% dos esgotos coletados, tendo planejamento e estrutura de poder tratar naquele momento, até mais de 50% dos mesmos. Salientamos que vários são os destinos dessas águas, desde à um sistema qualquer de tratamento, reutilização diversa, ou mesmo despejadas em outros corpos, tanto de água doce, como no mar.

Prevê-se que no ano 2025 dois terços da população mundial estarão vivendo em regiões com recursos hídricos insuficientes com conseqüência de um grande aumento populacional, e que para produzir alimentos, será necessário que o volume de água disponível cresça de 50% a 100%. O estudo mostra também que as 200 bacias hidrográficas mais importante do mundo estão localizadas em fronteiras, o que pode caracterizar a possibilidade de conflito entre países próximo.

Uma análise recente do problema de água em quase 150 países, levou as Nações Unidas, considerar que crise de água é quando o potencial disponível for inferior a 500m3/hab./ano; taxa entre 500 a 1000m3/hab./ano caracteriza nível de estresse e taxas entre 1000 e 2000m3/hab./ano são consideradas como suficientes para um nível de vida adequado à produção e usufruto, e que acima de 2000m3/hab./ano significa condição muito confortável. A ONU, através do Banco Mundial, desaconselha o investimento de recursos monetários, em localidades com disponibilidade de água inferior a 2000m3/habitante. No Brasil, em estados como Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará a disponibilidade já é abaixo desse valor.

O Brasil apresenta-se, tendo como base uma população de 160 milhões de habitantes, e com as atuais descargas de seus rios, um potencial de 35mil m3/hab./ano; além do que, as nossas reservas de águas subterrâneas, estimadas em 11200 km3, têm uma taxa explotável da ordem de 5000m3/hab./ano.

Por outro lado, aparentemente, o nosso país encontra-se em condições muito confortáveis, com 20% das águas disponíveis para consumo imediato, portanto ocupando um primeiro lugar entre os mais ricos em água doce, porém vale salientar que tanto as potencialidade dos nossos rios como das nossas águas subterrâneas, são distribuídas de forma muito irregular, nem sempre sintonizadas com a distribuição populacional. Por exemplo, naqueles estados do Nordeste semi-árido (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) os potenciais atuais nos rios estão entre 1000 e 2000 m3/hab./ano e que regional e ocasionalmente as taxas variam entre 500 e 1000 m3/hab./ano.

Mas se formos analisar localizadamente nesses estados, ocorre já a muito tempo uma disponibilidade abaixo de 500 m3/hab./ano. Já em regiões outras onde as reservas e disponibilidades hídricas são suficientemente elevadas vêem-se a prática do desperdício e degradação da qualidade somadas à crescimentos localizados e desordenados das demandas. Com exceção da Europa, a maior quantidade de água utilizada vai para agricultura e prevê-se que com o incremento dessa atividade, mais água será necessária.

O consumo anual de água, por tipo de uso, no mundo, atualmente esta assim distribuído: usos doméstico, igual a 8%; uso industrial, cerca de 22% e uso agrícola, 70%. Enquanto a América do Norte e a Europa consomem 48% e 55% de água, respectivamente, na industria, a América Latina, o Caribe, a Ásia e a África consomem só na agricultura 79%, 85% e 88%.. Somente a Oceania é que consegue consumir 64% de sua água disponível no setor doméstico.

Como se pode observar, pelo mapas de distribuição dos recursos hídricos, não ocorre uniforme distribuição desses recursos, nem aqui no Brasil e nem no globo terrestre, onde existem extensas áreas desérticas ou semi-áridas (chuvas anuais de 300 a 800 mm) e regiões extremamente úmidas (florestas tropicais com mais de 4000 mm de chuvas ao ano).

O Brasil detém cerca de 20 % das águas doces do mundo(*) e só na Amazônia estão concentradas mais de 80% das disponibilidades hídricas nacionais, enquanto que no Polígono das Secas, na região do semi-árido que representa 12 % do território brasileiro, as carências hídricas são extremas e compõem um quadro de pobreza quase absoluta e que, infelizmente, ainda não se aplicou condições mínimas de equacionamento. No período 1970-1992, o PIB desta região cresceu apenas 0,08 % ao ano, enquanto que nas regiões metropolitanas do país, no mesmo período, alcançou 8,2 % ao ano. (ou seja, mais de 100 vezes).
(*) - pode-se comparar como quantidade de água doce disponível no mundo como sendo de 1 colher de sobremesa, (água doce), em 1 litro do total das águas; - e que para as regiões da chamada Grande São Paulo, de Campinas e Jundiai, já em 2010 não haverá mais água potável disponível; - segundo a ONU-PNUMA, 21 nações no mundo já sofrem com a falta de água e que 1,4 bilhões de pessoas não tem acesso a água limpa, e de cada oito segundos morre uma criança por doença relacionada com água contaminada; - pessoalmente, tendo à acreditar que essas estimativas são bastante pessimistas, não se levando em conta a capacidade de desenvolvimento de conscientização humana e de novos sistemas de recuperação das várias formas e qualidades das água; - em situações críticas a capacidade de contornar e resolver problemas é bastante mais aguçada.

Também o Brasil, detêm uma das maiores reservas subterrâneas de água do mundo, o “aqüífero guarani” ou conhecido na mídia por “o guarani gigante do Mercosul”, distribuído em 8 estados, podendo fornece-la por 200 anos a toda população mundial, porém sujeito a possível poluição e/ou contaminação, visto a total falta de controle de sua de sua qualidade e desconhecimento dos brasileiros, em geral. Essa reserva de água doce ocupa uma área equivalente ao estado do Pará, com mais de 1,2 milhões km2.

Este país que detém hoje cerca de 2,8 % da população mundial, terá uma posição privilegiada no cenário de escassez de água que se desenha para o século XXI, desde que saiba gerenciar adequadamente estes recursos, bastando-lhe, para isto, apenas cumprir as disposições da Lei Nº 9.433/97, que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Porém os mais preocupados, visualizam o estigma da escassez de água, em especial a nível localizado, como por exemplo a situação da cidade de São Paulo, por se encontrar na nascente de um rio, rio Tietê, situada no topo da Serra do Mar, (700 m.), vem sofrendo e com perspectivas de agravante, com a falta d’ água. além de não estarem sendo tomadas providências visando a recuperação dos seus recursos hídricos, como do próprio rio Tietê e do seu afluente o rio Tamanduateí transportador de puro esgoto.

Por outro lado, num pensamento acomodado, (o que não deve prevalecer), dos países de dimensões continentais, como o Canadá, Estados Unidos, China e Austrália, o Brasil é o único de clima tropical úmido dominante, (80% do seu território), com 7% situados abaixo do Trópico de Capricórnio e apenas 10% sob clima tropical semi-árido. Mais de 90% do território recebe de forma relativamente regular, abundante chuva, entre 1000 e 3000 mm/ano e, que em apenas na sua zona semi-árida chove entre 500 e 800 mm/ano, porém muito irregularmente, resultando em déficit freqüente de água.

Deve-se ver que a água doce no Brasil é um valioso capital ecológico (uso, reuso, reserva e negociação) portanto de enorme valor competitivo, devendo ser altamente considerado em qualquer atividade produtiva, em especial na aqüicultura.

Lembramos, mais uma vez que 3/4 da superfície do nosso planeta é ocupada por água, sendo apenas 5% de água doce e que a ONU, preocupada com questões, a nível mundial, das águas e dos riscos e as conseqüências da escassez quantitativa e qualitativa da mesma, vem desde 1998 desenvolvendo pela UNESCO, o programa Ética e Sociedade, através de estudos específicos com o Grupo de Trabalho Ética e Água visando diagnosticar e traçar orientações quanto a disposição, uso e reuso desse notável recurso.

COLUNISTA

Helcias de Pádua

helcias@portalbonito.com.br

Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom

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