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quinta, 26 de agosto de 2010

A Poluição gerada pela Aqüicultura

A água é um fator essencial na produção aqüicola. Ela concentra o oxigênio necessário aos organismos, conduz nutrientes, funciona como entorno e determina quais espécies, podem aí permanecer e/ou obter melhores proveitos, desde a fase de fecundação até a despesca, (p.ex.: ovos, larvas, pós-larvas, girinos, alevínos, crescimento e engorda). Porém esses organismos necessitam de alimento, liberam aí os seus dejetos, desprezam resíduos,  tudo isso trazendo ou criando condições não muito favoráveis para as variáveis físicas, químicas
e biológicas a todo o sistema aquático.

Por causa da especial característica desta água, considerando sua específica qualidade e composição para  criação normal de organismos e dos possíveis outros usos que se fazem dela, tanto para o abastecimento de outros animais, até para o ser humano, como também no aspecto de lazer e beleza, certas preocupações devem imperar.

Na aqüicultura nacional, esta água ainda pode vir de locais especiais, captada de primeira vez, (nascentes) ou sem outros usos (córregos, etc.) e portanto conseguida em situações privilegiadas ou quase de extrema qualidade, sem contar quando não forem oriundas de áreas de preservação ambiental.
 
Na verdade, a carga orgânica, os minerais liberados e outros compostos produzidos pelas criações em geral, e em especial nas "intensivas", advêm essencialmente da utilização dos alimentos lançados pelo criador, visto que uma só pequena parte deste é efetivamente transformado em carne de peixe. Calcula-se  de 14 a 15%  o que é verdadeiramente transformado em aproveitável, ou seja o que faz o organismo ganhar "massa de corte e/ou comestível", sendo o restante disperso em energia, na composição das estruturas rígidas , além do que é liberado sob a forma de dejetos e mesmos nas perdas por desperdício ou rejeição.
 
Tem-se notado que em criações de tilápia, normalmente para se obter 1 kg de peso total, (carne, vísceras, estruturas rígidas, etc. ...), são necessários 1,8 a 2,0 kg de ração, portanto uma taxa de conversão nas cercanias de 2:1, ocorrendo assim uma enorme perda, nas mais variadas formas. Em tanques super eutrofizados,  com lançamentos de resíduos orgânicos (vísceras, restos de outros alimentos, adubo, etc. ...) para o bagre africano e tilápia, tem-se conseguido taxa de conversão de 1,2/1. Parece vantajoso, mas deve-se considerar a má qualidade das águas de  uso e lançamento, além de predispor os organismos a possíveis infeções e infestações, sem contar a alteração no sabor natural da carne desse animais.
 
É esta massa de carga dissolvida na água e assentada no fundo do tanque, lago etc., que caracteriza o que se pode chamar de "efluente de certa carga", gerado pela atividade aqüícola. Portanto, esta poluição advém essencialmente do alimento não convertido, constituindo  numa carga a mais para o empreendedor, significando desperdício de ração, tempo maior dos serviços de manejo e manutenção, para o  desenvolvimento da criação, com taxa menor de assimilação.
 
Calcula-se que, para cada quilo  de alimento produzido, se tenha uma proporção de até 40% de perda, presente sob a forma de matéria em suspensão e posteriormente depositada no fundo do tanque e que varia de 4% a 10%. É dessa parte dissolvida na água que se encontra sob a forma mais potencialmente perigosa, a de compostos amoniacais, que se pode chamar de possíveis poluentes. Destes dissolvidos, 2,5%  esta na forma de outros nutrientes, como o fosfato. Alerta-se que, para 100 kg de peixes que recebam , por exemplo, 3 kg de alimento/dia, são produzidos  cerca de duas vezes mais em carga de D.Q.O./dia.
  
A literatura afirma que a criação de peixes em cativeiro acarreta problemas quando a taxa de alimentação atinge 80 kg/ha por dia, trazendo decréscimo na concentração de oxigênio dissolvido e elevação na concentração de amônia não ionizada-NH3, ... a mais tóxica. Por exemplo, este autor calcula que para 1000 kg de truta, produzida por ano/hectare, tem-se 10 a 25 kg das várias formas de fosfato produzido e 80 a 90 kg de nitrogenados, portanto materiais introduzidos no sistema. Estudos em andamento indicam uma tendência variando entre 15 a 30% desses últimos compostos produzidos em criações intensivas de peixes onívoros e carnívoros, alimentados com alimentos de taxas altas em PB.  
Segundo informes do Departamento de Aqüicultura/U.F.M.G. (1995-6), para cada quilograma de ração lançada  pode-se produzir: 25 - 50 gramas de amônia; 200 - 300 gramas de sólidos em suspensão; 100 - 200 gramas de D.B.O.; 5 - 15 gramas de fosfato e 30 - 60 gramas de nitrato.
          
Em certas pisciculturas tem-se notado que quando do  lançamento de mais de 120 kg/hectare de ração, problemas com a qualidade das águas e ocorrência de morte de tilápias estão mais presentes.
 
Pesquisadores do CEPTA/SP citam que, no final de um período de engorda, quando a quantidade de ração fornecida atingia 170 kg/ha por dia, ocorria sérios problemas com o crescimento dos peixes, apresentando sinais de estarem submetidos a condições de hipoxia, estado resultante, com certeza, do excesso de matéria orgânica, em  processo de oxidação, retirando o oxigênio da água.
 
Outro aspecto a ser considerado é qual o tipo ou quais os graus de carga orgânica oriunda da atividade aqüícola, assim por exemplo, a atividade de truticultura gera  basicamente dois tipos de efluentes distintos; um contendo "baixa carga orgânica e mineral" , com até 100 mg DBO/l, porém em grandes volumes de água ( Q= 100 a 120 l/s ) , o outro tipo já possuindo "alta carga orgânica", com DBO igual ou superior a 1000 mg/l, mas em  pequenos volumes de água.
 
O primeiro efluente, (baixa carga), consiste da água oriunda  dos tanques de larvas, alevinagem e engorda, que embora apresente-se em concentração baixa de DQO/DBO, se dispõe continuamente, pelo processo de manejo dos tanques. Já o segundo, (alta carga), é originário da  sedimentação, compondo a descarga de fundo pelo sistema de monge ou  qualquer outro processo para  retirada da água de fundo e/ou da operação de sifonagem e/ou varredura do fundo dos tanques com fezes e restos de ração. Em certas criações, de truta por exemplo, tal operação é feita a cada semana. Portanto, por  possuírem características peculiares, processos distintos de tratamento devem ser aplicados.
         
No caso de ranicultura, as alterações da qualidade da água de uso, advém principalmente do acúmulo de alimentos e  excretas   transportados na lavagem das baias e tanques. Embora a quantidade de água e vazão seja variável, a concentração de matéria orgânica é relativamente alta, indo compor as características de DQO/DBO das chamadas águas de lançamento, ou seja, o efluente gerado pela aqüicultura.

Também, a quantidade e as características qualitativas dos alimentos distribuídos não são constantes e iguais, durante todo o tempo de desenvolvimento dos organismos, dependendo do estoque, da fase climática  e taxa de alimento lançado num dado instante da fase do desenvolvimento desses.
 
Outra conseqüência é a evolução da carga orgânica na água, embora o seu tempo de permanência efetivo no tanque, possa não ser tão longo, dispersa rapidamente sob a forma mais ou menos solubilizada, sendo sua recuperação na forma sólida muito difícil. Porém deve-se distinguir a forma solúvel excretada pelos organismos; a forma solúvel resultante da dissolução dos materiais decantáveis e a forma efetivamente decantável.


*Então, os geradores da composição do efluente da aquicultura são:  os eliminados pelos organismos por meio das brânquias, pele e excretas fecais; os compostos amoniacais solúveis; as partículas de alimento não consumidos, contidos e transportados pelas águas e que se decompõem nos tanques; a sedimentação e ao próprio transporte de outros dejetos trazidos pela água de abastecimento; a utilização de produtos químicos/veterinários nos tratamentos convencionais; a  fertilização química; a adubação orgânica.
 
Quanto à alimentação, novas formulações  da  ração permitem limitar os dejetos de certos poluentes, seja pela melhoria na digestibilidade das matérias primas, seja por delegar aos lipídeos, funções  antes  desempenhadas pelas  proteínas. Testes realizados apontam para os alimentos considerados de "alta digestibilidade", um fator de dejetos inferior a 30% em amônia e de 40% em MES (matérias em suspensão), quando comparado ao alimento normal.

Pesquisas propõe a utilização de alimentos com alto teor de lipídeos (18%) para limitar os dejetos com amônia; ... embora o custo desses seja elevado, obtém-se uma compensação satisfatória pela melhoria sensível nos índices de transformação.

Também, técnicas de arraçoamento  aplicadas às performances do habito alimentar da espécie, apontam vantagens quanto a conversão alimentar, podendo exercer papel não desprezível sobre os dejetos, quando comparados à performance em peixes alimentados "por demanda". Neste caso, a utilização dos chamados alimentadores automáticos intermitentes seria de grande ajuda, quando convenientemente calibrados.

*O acompanhamento das  condições químicas do sedimento, auxiliam  ao aqüicultor não só quanto ao potencial da produção do seu plantel, como também  podem estabelecer  intervalos significativos (máximas e mínimas) das variáveis como, pH, fósforo, nitrogênio, carbono orgânico do sedimento.

Aconselha-se que o produtor tome como obrigatório o acompanhamento diário (e/ou em intervalos  maiores) das variáveis pH, oxigênio dissolvido, transparência, temperatura, amônia, nitrito, etc. de todas as águas de sua criação, obtendo assim o conhecimento das mesmas  em todo ciclo de criação, podendo  e tendo tempo hábil de tomar medidas saneadoras, evitando perdas no seu plantel, como infeções e infestações e/ou alterações qualitativas e quantitativas das variáveis físicas e químicas. Tal cuidado evitará com certeza as surpresas desagradáveis como debilidade, doença e mortandade de organismos, o que significa prejuízo econômico.
 
* Tudo isso, leva-nos a afirmar que o nível de poluição gerada pela aqüicultura apresenta-se intimamente ligado as situações e manejo do estoque, dos tanques e da alimentação, portanto o emprego de técnicas articuláveis e adequadas de manejo do plantel e do sistema aquático, para cada situação, resulta numa gestão racional da água e melhoria dos resultados de produção.

O aqüicultor  tem  não só de se preocupar com seus organismos, mas ajustar-se com as exigências ambientais, aplicando condutas que visem  minimizar o que se chama de "passivo ambiental" ou seja as contas à pagar e compromissos relacionados ao meio ambiente. Esta idéia não é apenas decorrente da novidade do termo mas principalmente dos valores envolvidos que podem ser tão elevados a ponto de comprometer a saúde financeira do empreendimento.

*Ai esta a  "legislação sobre recursos hídricos"  visando a "cobrança pelo uso efetivo da água" sendo aplicada não só nos empreendimentos industrias e municipais,  mas   em cima de qualquer outra atividade que faça uso e reuso deste líquido precioso. Têm-se, entre todos nós, altos créditos dados à atual e futura ação das comissões ou comitês  formados em cada bacia hidrográfica.

Então, o aqüicultor é por excelência um "usuário dos recursos ambientais" como o solo, a água, etc., sendo assim responsabilizado pela preservação e qualquer alteração dos mesmos, não só na área por ele ocupada, determinada pela "outorga" mas por  todo seu entorno, salientando-se os impactos possíveis oferecidos antes e após o seu empreendimento, logicamente numa relação direta e explicita com a sua atividade.
 
Deve-se entender como "outorga de direito do uso das águas", a concepção para utilização de um recurso natural limitado  ou bem público a ser necessariamente gerenciado e, não da utilização de um recurso ou de um bem  privado.
 
Essa conscientização dos usuários de recursos hídricos visa sobremaneira garantir a existência desse produto  "água" recuperável,  mas finito quanto a "qualidade específica da sua utilização", desde que não se estabeleça parâmetros para sua preservação e uso.
 
Quanto da cobrança pela utilização dos recursos hídricos, deve-se considerar que o meio em que se desenvolve a aqüicultura, não é se não outro, o meio líquido, ou seja, a água e seus dissolvidos, portanto não se devendo, por parte das autoridades ou órgãos ambientais, atitudes limites que levarão a castração de uma atividade atualmente em expansão, pelo menos assim se espera com a formação da recente Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República. Deve-se sim, regrar esta ação, permitindo que a mesma permaneça como fornecedora de proteína ao ser humano. H.B.Pádua


Prevenção e controle da poluição

a) monitoramento das seguintes variáveis: temperatura, pH, transparência; oxigênio dissolvido; coliformes totais e fecais; demanda bioquímica de oxigênio; demanda química de oxigênio; índice de uso do oxigênio dissolvido; matérias em suspensão totais; matérias fosforadas; matérias nitrogenadas e até do índice de saprobidade;
b) uso de alimentos com nível maior de digestibilidade, de maior teor de lipídeos e de melhor qualidade das matérias primas;
c) utilização de técnicas de arraçoamento, aplicadas as performances do habito alimentar da espécie;
d) uso de sistemas de recuperação e tratamento das águas (caixa de  contenção, filtros biológicos, lagoas decantação, etc.).


Meios de tratamento e/ou recuperação

-sistemas de filtragem, leitos biológicos, leitos de infiltração, decantadores, comportas de contenção e depuração, biofiltros , tratamentos bioquímicos e físicos, sistemas de ozonização do efluente(água de lançamento) e até a  utilização de processos biotecnológicos.

 (*) Deve-se analisar préviamente os custos e modalidades de controle e recuperação da poluição gerada, comparando-os com o retorno produtivo do empreendimento. Grandes projetos geram grandes impactos, que por sua vez devem estar aptos a cumprir um maior  número de exigências ambientais. A idéia que "primeiro se faz e depois tenta-se adaptar aos parâmetros exigidos", não deve mais imperar.


Avaliação dos principais agentes poluidores (nutrientes)

Matérias nitrogenadas(M.N.): são compostas do chamado nitrogênio amoniacal e mais o nitrogênio orgânico, a fração orgânica, sendo considerada como uma constante dependente somente da alimentação, não dependendo de nenhum outro coeficiente.
 
Na aqüicultura, a avaliação das M.N. é efetuada a partir do nitrogênio amoniacal, pois é esta a variável mais representativa. Como o método de análise para o N kjedalh indica a fração orgânica, considera-se o resultado desta análise como uma constante, dependendo somente do nitrogênio oriundo da carga alimentar, portanto não dependendo de nenhum outro coeficiente.

 Porém, como existe uma relação entre o N.kjedalh e o N. amoniacal. O M.N. verdadeiro é obtido  por:        N.    KJEDALH / N. AMONIACAL

Matérias  em suspensão: M.E.S. :  elas representam, no momento da amostragem, todos os suspensos e possíveis sedimentados, de origem mineral ou não, portanto dependendo da agitação ou não das águas, do tempo de permanência na água (densidade) e da capacidade de hidratarem ou se solubilizarem, antes e após a sedimentação. 

Matérias fosforadas : M.F. = representa todas as formas presentes do fósforo na água e no sedimento.  Nas águas das aquiculturas determina-se mais corriqueiramente o fosfato total, mas as formas de ortofosfato, etc., também estão presentes, tanto na água como no sedimento.

Indice de saprobidade: expressa através de equação matemática as condições de um sistema aquático, com relação a concentração das algas. Cada espécie recebe um valor (grau = s) que é então relacionada à sua freqüência (h) de ocorrência: ( S. = s . h).

As águas, são classificadas em: oligossapróbia; mesossapróbia; polissapróbia. 

Coeficientes específicos para avaliação da poluição

A produção da poluição é na verdade o resultado de uma somatória que vai desde o  metabolismo do organismo em diferentes épocas, do número de organismos presentes, e da quantidade de alimento distribuído, portanto sendo possível estimar-se.

Salienta-se que, a avaliação da poluição produzida, quando  apenas baseada no número de organismos presentes, não é recomendada, devido a dificuldade de se conhecer verdadeiramente a quantidade desses organismos e a efetiva ação metabólica da cada elemento do plantel.

Os dejetos devem ser expressos em  Kg por dia , considerando-se a quantidade de poluição (diária, e/ou média diária mensal, e/ou média diária anual) emitida por uma unidade de alimentação, completada por eventuais dados corretivos. Portanto, estabelecendo-se que a unidade elementar nas medições e metodologia é o tanque de engorda e o quanto o é lançado de alimento, embora saiba-se da complexidade dos fenômenos biológicos e hidráulicos ai colocados.

Deve-se escolher os coeficientes que mais se correlacionem, como: D.B.O.; D.Q.O.; M.A.;
M.E.S.T. ; M.P.

Onde:

D.B.O.(5d.)  - demanda bioquímica de oxigênio em 5 dias.
D.Q.O. (ad 2)- demanda química de oxigênio, medidos  após decantação de 2 horas.
M.A. - matérias nitrogenadas, medidas pelo Nitrogênio Kjeldah, onde estão a amônia e as formas orgânicas do nitrogênio, exceto os nitratos e nitritos.
M.E.S.T. - matérias em suspensão totais.
M.P. - matérias fosforadas, medidas pelo fósforo total, ou seja, incluindo ortofosfatos  solúveis e fosfato particulado.

Podendo-se dividir as variáveis em duas categorias:

a) as variáveis diretamente ligadas à alimentação e ao manejo : amônia e M.E.S.T.
b) as variáveis que dependem diretamente da alimentação, mas cuja ligação estatística não e suficientemente forte para permitir uma avaliação direta : M.O. (matérias oxidáveis);   ; fósforo e nitrogênio total.

Itens geradores da poluição
 
Devido:

- aos excretas dos organismos lançados por meio das brânquias, pele e excretas fecais como os compostos amoniacais solúveis.

-  as partículas de alimento não consumidos, contidos e transportados pelas águas e que se decompõem nos tanques.

- à sedimentação e ao próprio transporte de outros dejetos trazidos pela água de abastecimento.

-  à utilização de produtos químicos/veterinários nos tratamentos convencionais.

-  ao processo de fertilização química ou orgânica.

Então, a interação dos processos físicos, químicos e biológicos oriundos das atividades aqüicolas ocorre totalmente no sistema, ou seja, água/sedimento, o que aponta a possibilidade de um maior índice de produção de poluição num mesmo sistema, quando comparado com  uma criação de animais terrestres, onde os seus dejetos podem ser recuperados a seco e posteriormente degradados pelo solo.

Também, a quantidade e as características qualitativas dos alimentos distribuídos não são constantes e iguais, durante todo o tempo de desenvolvimento dos organismos, dependendo do estoque e taxa de alimentação, num dado instante da fase do seu desenvolvimento em especial da fase climática. Peixes tropicais apresentam queda acentuada na capacidade de ingestão do alimento, em épocas mais frias, já os peixes de regiões frias, necessitam de muito mais energia para manter a temperatura corpórea, na mesma época. Esses organismos são pecilotermos.

Outra conseqüência é a forma de evolução dos dejetos na água, pois o seu tempo de permanência efetiva não é tão grande, sendo evacuados sob  a forma  mais ou menos solubilizada  com sua recuperação sob a forma sólida muito difícil, além da distinção entre a forma solúvel excretada pelo organismos;  a forma solúvel  resultante da dissolução das  matérias decantáveis  e a forma efetivamente decantável.


Legislar e fiscalizar a poluição

Quando se fala em fiscalizar e controlar a poluição produzida pela aqüicultura, tem-se  ainda e por enquanto a idéia que se vai lidar com uma coisa não muito real, de comprovação discutível ou quase impossível e de difícil identificação ou da qual não se deva pensar seriamente e que os processos de tratamento e recuperação não estão totalmente à disposição e os que nos  são apresentados devam ser melhor avaliados quanto a eficácia. Porém, a poluição esta sendo gerada e se ainda os meios de controle e tratamento não estão  à disposição fácil, deve-se investigar, obtê-los e aplicá-los, sendo então  incrementados e rigorosamente seguidos. Afinal:  a procura sempre força uma maior oferta.

Com relação a legislação, um passo importante é a regulamentação da atividade aqüicola, na qual  procurar-se-á caracterizar a instalação e o seu funcionamento, monitorando  o impacto sobre o meio natural. No Brasil, ainda não existe um texto claro que legisle sobre o assunto. O IBAMA, (fiscalização) e o Ministério da Agricultura, recentemente elaboraram regulamentos e portarias, que devem merecer, principalmente agora,  algumas considerações dos aqüicultores e mesmo de técnicos mais experientes. Também, as regras existentes para o registro em órgãos ambientais da atividade aqüicola, ainda não estão bem definidas, esbarrando em  entraves burocráticos e até mesmo em conceitos e definições obscuras  do que seja uma atividade aqüicola e quais espécies permissíveis, para tal.

(*) Espera-se, agora, que com a formação da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, com a atuação da ANA-Agência Nacional de Águas e ação dos Comitês das Bacias Hidrográficas, regras e normas compreencíveis, possíveis de serem observadas e de fácil cumprimento, sejam estabelecidas. Afinal, órgãos oficiais para isso, associações e sindicatos ligados à atividade existem, ... até demais, acredita este autor.

*Então vejamos: "como em todas  outras atividades agro-industriais, a aqüicultura visa a produção de organismos, no caso aquáticos, de modo intenso e econômico."

Neste sentido,  o primeiro passo seria a determinação e implantação de uma política social e econômica quanto ao uso e manejo das águas, em especial, na aqüicultura. Essa política devera  ser regional,  considerando-se o grau de recursos hídricos existentes na região ou área, suas qualidades iniciais e prioridades em relação aos seus outros possíveis usos. Também o valor correto da cobrança pelo uso da água deve levar em conta, principalmente,  a importância da atividade e sua relação com outras possíveis, do grau social, da aptidão e dos aspectos hidrogeográficos da região. (*)Para região do Vale do Paraíba/SP, comenta-se um  valor menor que R.: 0,01 (0,008 centávos) de  cobrança aplicado a cada uso de 3600 litros/hora, caso a água seja tratada e reutilizada, mas de R.: 0,02 , (dois centavos),  para o mesmo volume, quando não tratada ou reutilizada.
(*) comunicação pessoal - C.R.H.V.Paraíba
No nosso pais, até a pouco tempo, geralmente os textos ambientais se apoiavam apenas sobre posições ecológicas radicais e sensibilidades pessoais, sem se enquadrar no funcionamento real da atividade  ou finalidade e, sem apontar situações mitigadoras e reparadoras, fazendo com que, no caso, os criadores adotem uma atitude impassível e/ou indiferente ao problema, por achar difícil ou complicado o cumprimento efetivo dos itens e imposições apresentadas pelas instituições ambientais.
- A atual Ministra de Meio Ambiente, afirmou logo após ser indicada ao cargo:  "... no lugar de simplesmente proibir, vamos  trabalhar  no sentido de se ajustar o que é e/ou  do que não é permitido fazer". (da  memória  do  autor)


Quantificar e qualificar a poluição

Por outro lado, a capacidade de depuração do sistema aquático com relação as matérias em suspensão, deve ser avaliada e dimensionada de maneira mais satisfatória possível. Estudos demonstram que existe uma fraca aptitude à sedimentação dos dejetos de aqüicultura, devido ao comportamento hidráulico de certas unidades de criação, como as que necessitam de rápida vazão dágua, as condições de temperatura e oxigenação a serem mantidas e, devido à própria hidrosolubilidade de certos compostos presentes.

Em sistemas que ocupam baixa vazão dágua, portanto maior tempo de  retenção, em  meios de pequena profundidade,  a permanência dos restos alimentares e dos excretas, favorecem a uma maior eutroficação,  caracterizando o meio como hipóxico e de maior presença de  substâncias tóxicas formadas.
  
Com relação aos métodos de recuperação das águas deve-se apontar os sistemas de filtragem, decantação e degradação da matéria orgânica contida. Existem processos de maior ou menor sofisticação, desde leitos biológicos, decantadores ciclônicos ou lamelares, sistemas de lodos ativados,  até simples comportas de contenção e depuração, com a possibilidade de lançar-se mão de processos biotecnológicos através da aplicação de agentes  biológicos ( enzimas, microrganismos), ou a utilização de biofiltros com formação natural dos ciclos de depuração e até  a inoculação de microrganismos específicos.

Um dos problemas a serem enfrentados é quanto o destino que se deva dar tanto às  águas  recuperadas ou tratadas e também dos resíduos contidos durante o processo, resultantes dos processos de degradação da matéria orgânica. Neste ultimo caso, recomenda-se a utilização de leitos de infiltração para  o líquido sobrenadante e a utilização dos resíduos depositados como adubos.

Para as águas recuperadas, deve-se diminuir o número de reciclagens o mais possível, pois a cada nova  utilização, ocorre um aumento da produção de amônia, em  12% a 20%, numa ordem de grandeza que os processos de depuração não conseguem retirar.

*Lembramos que, o tempo de contato dos dejetos com a água antes da sua evasão, desestimula à eficácia de processos de  decantação ( um decantador que trate  1m3 /h / m2
permite  uma eficácia de até 40%),  além dos custos elevados de implantação e manutenção e da exigência de grandes superfícies para os decantadores, o que torna inviável, as vezes,  sua implantação.

Um tanque de decantação lamelar, deve  funcionar de modo que a velocidade não exceda 1,7 m/ hora ou para 1,7 l/ hora de efluente, deva  haver 1 m2  de tanque de decantação e para cada 240 m 3 de fluxo d água, deva haver 1 m2 de seção transversal.
Uma  maneira prática de calcular é considerar:
comprimento = 1,21, x fluxo
largura = 0,49 x fluxo
profundidade = 0,017 x fluxo
 
Aplicando, por exemplo, para o dimensionamento de um tanque de decantação, cujo fluxo  ou vazão de entrada das  águas seja de 50 l/seg., tem-se :
comprimento = 1,21 x 50 = 60,50 m
largura = 0,49 x 50 = 24,50 m
profundidade = 0,017 x 50 = 0,85 m
volume = 1.259,91 m3

Mas, para um tanque cujo o fluxo de vazão de entrada seja igual a 240 l/seg., os valores serão:
comprimento = 1,21 x 240 = 290,40 m
largura = 0,49 x 240 = 117,60 m
profundidade =  0,017 x 240 =   4 ,08m
volume = 139.336,24 m3

Outro recurso é a implantação de tanques de decantação ciclônicos, semelhante ao utilizado em sistemas desalinizadores, de custo bem mais baixo e tamanho menor.

Existem processos bioquímicos de depuração e degradação dos MEST (matérias em suspensão totais) e mesmo dos compostos dissolvidos como o amoníaco principalmente, sendo, no entanto, necessário proceder-se a uma análise de cada situação, de cada sistema aquático, avaliados sob a ótica custo/benefício.

Deve-se considerar os custos e modalidade de controle  e recuperação da poluição gerada, previamente comparada com o retorno produtivo do empreendimento. Grandes projetos geram grandes impactos, que por sua vez deveriam  estar aptos a cumprir um maior número de exigências ambientais. A idéia que " primeiro se faz e depois tenta-se adaptar aos parâmetros exigidos", não deve mais  imperar.


Custo econômico

Não é impossível estimar-se objetivamente a poluição gerada pela aqüicultura, mesmo que sejam enormes as quantidades das variáveis envolvidas e o conhecimento incompleto que se tenha das  formas de atividades aqüicolas desenvolvidas no Brasil.

Estabelecer-se critérios matemáticos, simples de serem seguidos, quando da  caracterização econômica dos custos gerados pela poluição, mesmo em bases ou valores aproximados, mas que responsabilize o aqüicultor e demonstre que a sua redução e controle repercutira num maior ganho de produção, com melhoria da qualidade do organismo produzido , além de  melhor imagem entre os seus clientes, vizinhos de jusante e na confiança dos órgãos ambientais.

Esta poluição advém essencialmente dos 40%-60% do alimento não convertido, constituindo portanto numa carga para o empreendimento, significando o desperdício, o tempo maior de engorda, a taxa de menor assimilação, a perda de organismos e preocupações quanto ao comportamento das variáveis relacionadas à água.

Desta primícia, o cálculo dos  custo gerados pela poluição, controlada ou não, pode ser estabelecido, partindo-se  desde  as perdas de ração e os gastos quanto a implantação de  sistemas de recuperação e controle  do empreendimento.

COLUNISTA

Helcias de Pádua

helcias@portalbonito.com.br

Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom

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