O Brasil perdeu na quinta-feira, 12, um dos maiores defensores da natureza e do Pantanal Mato-Grossense, o advogado Luiz Antônio Franco.

Ele faleceu em Campo Grande (MS), onde morava, em função de complicações da cirurgia a qual se submeteu para a colocação de pontes de safena. Com a morte de Franco, perdi um amigo, um irmão e um grande incentivador.

Paulista de Presidente Venceslau, Luiz Antônio mudou-se para a região do Pantanal na década de 1970. O jovem advogado chegou ao então Estado de Mato Grosso – a divisão ocorreria7 anos depois – para atuar no mercado financeiro. A sua carreira nessa área não durou muito.Diante da devastação da região, Luiz Antônio Franco arregaçou as mangas e agiu para proteger o ecossistema pantaneiro.

Em outubro do ano passado, Franco esteve em Brasília onde fez a entrega da Comenda da Consciência Ecológica no Mercosul a diversas autoridades nacionais. O presidente do Senado,José Sarney (PMDB-AP), foi um dos agraciados.A presidente Dilma Roussef também foi com a comenda, mas ela ainda não a recebeu. A entrega da honraria estava programada para acontecer no início de janeiro, mas foi adiada porqueFranco sofrera um infarto no início do mês e, seguida, fora submetido à cirurgia para colocação de ponte de safena no coração.

Presenciando a devastação daquele imenso patrimônio natural, Luiz Antônio Franco decidiu agir. Fundou, com a ajuda de outras pessoas, o Comitê de Defesa do Pantanal, embrionário da hoje FE – Fundação Ecológica, com 24 anos recém-completados.

Sua primeira batalha contra os devastadores foi impedir a instalação da Usina de Álcool da Bodoquena. A usina, se instalada, seria uma ameaça constante ao ecossistema pantaneiro.O movimento em defesa do Pantanal, com a participação de Luiz Antônio, culminou com a sanção da lei estadual que proíbe a instalação de toda e qualquer indústria poluente ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai.

O trabalho de Luiz Antônio Franco em favor da preservação da natureza não ficou restrito ao Pantanal Mato-grossense. Irradiou-se País afora e também ganhou destaque internacional, trazendo para o Mato Grosso do Sul dois prêmios internacionais. Tudo isso sempre feito com recursos do próprio bolso. Até mesmo a sua participação Conferência Mundial ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, foi custeada por ele próprio. Luiz Antônio proferiu na ECO 92 palestra abordando o tema Educação Ambiental – A solução para a preservação do Pantanal. A palestra contou com a presença de representantes de mais de 180 países.

Foi ainda um dos responsáveis pelo projeto, que se tornou Lei Federal 7653. A Lei de Proteção aos Animais foi sancionada em 1988 determinando punir aqueles, por exemplo, os caçadores ou predadores de animais silvestres. A Lei, com crime inafiançável, prevê prisão de dois a cinco anos para quem abater algum tipo de animal silvestre.

Franco também foi autor do projeto de Lei que se tornou referência e foi batizada de ‘Piracema’, o período de defeso dos peixes, ou seja, quando fica proibida a pesca nos rios de Mato Grosso do Sul para a reprodução das diferentes espécies de pescado.

Apesar do sucesso em diferentes áreas, Luis Antonio Franco também ficou conhecido por sua simplicidade e por sua grande religiosidade.

A ação de Luiz Antônio nessa área ainda despertou a atenção de um dos mais admirados intelectuais do Brasil, o escritor e presidente da Academia Brasileira de Letras, Austregésilo de Athayde. No ano de 1989, após passar seis dias no Pantanal na companhia de Luiz Antônio, Austregésilo, à época com 92 anos de idade, qualificou o advogado de o "Bandeirante da Ecologia". Em artigo publicado em vários jornais brasileiro, Austregésilo ainda afirma queLuiz Antônio Franco desenvolve uma verdadeira cruzada patriótica em defesa da preservação da natureza, fato, que, segundo ele, "é motivo de orgulho para todos os brasileiros".