sábado, 14 de agosto de 2010
EPTV
Maior planície alagada do planeta é um conjunto de jóias da natureza.
Uma viagem repleta de belezas naturais e muitos bichos no Terra da Gente deste sábado (14). A equipe do programa, formada por Helen Sacconi e José Ferreira, se aventura pelo Pantanal, na região do município de Barão de Melgaço, no Mato Grosso. Esta área, a maior planície alagado do mundo, revela contornos diferentes. O repórteres do Terra da Gente se deparam com montanhas e grandes baías. A aventura começa a pé. Nas trilhas pantaneiras de Barão de Melgaço é possível observar a variedade de vegetação que domina essa região e forma áreas de capões e florestas-anãs. Nas lentes do programa, répteis, aves, bando de capivaras, jacarés, antas e o curioso ouriço-cacheiro. Em cada canto o visitante encontra também a gente pantaneira. Nossos repórteres chegam a um vilarejo às margens do Rio Mutum e acompanham um dia de pescaria com um grupo de mulheres ribeirinhas. Entre elas, dona Escolástica da Silva, de 77 anos. Na trilha da pesca esportiva, a equipe do Terra da Gente encara ainda o Rio Cuiabá e se dá bem. Na ponta da linha têm pintados, piraputangas e o valente dourado.
Barão de Melgaço, Pantanal
A maior planície alagada do mundo abriga o rei do rio, o dourado. Em 2000, o local foi considerado pela UNESCO a reserva da biosfera da humanidade. Na contramão do desenvolvimento urbano, ainda sobrevivem por lá centenas de aves, mamíferos, répteis e muitos, muitos peixes.
Para quem visita a região pela primeira vez, o que mais impressiona é a diversidade de espécies e isso acontece porque o relevo pantaneiro facilita a visualização dos animais. Em Barão de Melgaço, tudo isso se confirma. Mas o lugar tem um diferencial: estamos diante de uma montanha. Essa variação aumenta ainda mais a diversidade de espécies e faz da cidade ser bem especial.
Do alto, o relevo montanhoso se destaca na imensa área plana. Além dos morros, Barão de Melgaço se distingue também pelas imensas baías. A mais extensa delas, conhecida como Xacororé, chega a 15 quilômetros (superando a baía da Guanabara, no Rio de Janeiro). E nesta porção de terra que se adapta às idas e vindas das águas, o melhor meio de conhecer suas belezas é caminhando.
Fauna pantaneira
Entramos por uma trilha de 3 quilômetros. Nosso guia local é Raul Guarnizo. O que vamos encontrar é uma área de transição de mata com cerrado, capão e floresta amazônica, que compõem o Pantanal. A primeira fase é de capão, uma vegetação que vai de rasteira a médio porte e resiste aos alagamentos no período das cheias.
As folhas secas caídas no solo formam o ambiente perfeito para uma espécie de anfíbio. Só mesmo o olho treinado do guia para encontrar uma perereca. O Pantanal tem cerca de 40 anfíbios catalogados.
Adiante um clarão entre as árvores: o que parece desmatamento são as pastagens naturais do Pantanal. Durante a cheia o local fica alagado e passam até peixes. A cadeia florestal forma um ambiente repleto de vida. As gramíneas são verdadeiros bosques em miniatura.
Mais alguns passos, outra mudança. Começamos a adentrar na floresta amazônica. Entre os galhos mais altos, pulando de um lado para outro, eles nos observam. E como são curiosos! A cabecinha gira pra lá e para cá em busca do melhor ângulo para vigiar os invasores da área.
São os saguis, rápidos que só eles. Aliás, gravá-los é um desafio. O corpo leve e pequeno permite malabarismos nos troncos das árvores. Viram de lado, ficam de ponta cabeça. Quando resolvem parar, até mesmo para se coçar, fazem tudo rapidinho.
Um pouco mais tranqüilos, os macacos prego fazem de galhos secos um banquete. Enquanto come, a mãe carrega o filhote nas costas. Mas tranqüilidade mesmo, quem tem, é o macaco-da-noite. O nome justifica a razão de seu comportamento pacato durante a luz do dia.
Ribeirinha boa de pesca
Nabileque, Miranda, Aquidauana, Abobral, Nhecolandia, Paiaguás, Poconés, Cáceres e Paraguai, em pleno coração do continente sul americano. O Pantanal é tão imenso que praticamente se subdivide em dez.
E Barão de Melgaço é considerado o município mais pantaneiro do Mato Grosso. A 146 quilômetros de Cuiabá, tem apenas 2,5% de seu território em terra firme. O restante são os famosos alagados. E tão preciosas quanto a flora e a fauna deste lugar, estão as pessoas que vivem por lá.
Da mistura com os índios, o chamado homem branco daquela região herdou um trabalho que é sinônimo de lá: a pesca artesanal. A prática, aliás, é rotina também entre as mulheres. É justamente atrás delas que o Terra da Gente vai. A informação é de que existe uma vila de mulheres pescadoras.
A ilha mantém tradições antigas como as casas de barro, mas há que se reconhecer: aos poucos os moradores aproveitam também algumas vantagens tecnológicas. A energia elétrica chegou em 2008. E a TV ligada na sala já virou um hábito.
Quem recebe a equipe do programa é a matriarca da vila, dona Escolástica Dias da Silva. Antes de sair, ela nos convida para conhecer a cozinha. E chega o momento mais esperado: a decisão de nos acompanhar na pescaria. Tal resolução encheu de cuidados os filhos e netos da comunidade.
Partimos nos barcos a motor até o melhor ponto para fisgar os peixes. Zumira, a caçula dos 9 filhos, vai no comando da canoa da mãe. A repórter Helen Sacconi, na companhia da outra filha Joana.
Os primeiros movimentos de dona Escolástica ainda são um pouco contidos, mas logo a experiência fala mais alto e ela fica exigente. Até que vem a primeira fisgada. As piranhas dão trabalho, mas dona Escolástica traz outro.
Enquanto isso, Joana e Helen ainda tentam fugir das piranhas. Quase uma hora depois do inicio, Escolástica dá sinal de que está gostando de reviver a experiência. Sem parar de trabalhar a linha, Escolástica fisga mais um.
Na volta para vila, dona Escolástica fez questão de contar tudo para o marido. E também aproveita para tirar uma foto com parte da família que está presente na ocasião.
A graça do ouriço-cacheiro
Ele é tímido, solitário, se movimenta devagar e vê-lo assim, à luz do dia, é um privilégio. Ameaçado de extinção, o ouriço-cacheiro tem hábitos noturnos. Por isso, nem precisa dizer, é uma raridade observar um adulto assim, sob o Sol. Quando ele aparece, está em busca de uma árvore para descansar. O nome cacheiro vem de cachar, que significa "esconder-se".
Que susto...
Bem maior e menos espinhosa, uma anta aparece todas as manhãs. Ainda adolescente, ela se delicia com as folhas das árvores plantadas aqui. Como é herbívora (não come carne), os brotos são um banquete na hora do café.
Na América do Sul, a anta é o maior mamífero terrestre nativo. Alcança um metro de altura, dois de comprimento e pode pesar até trezentos quilos.
Na companhia do guia de pesca, Jamilson Retes da Silva, somos apresentados oficialmente a Nina, como é conhecida a anta pelas redondezas.
"E até faço um carinho nela!". Mais uma surpresa do pantanal matogrossense! E o dia estaca só começando!
Em busca dos peixões
Depois dos encantos na terra, saímos para nos divertir nos rios da região. No período de cheia, o volume de água no Pantanal alcança até 2 milhões de metros cúbicos.
Neste imenso alagado estão mais de 100 espécies diferentes de peixes. E é justamente atrás desta variedade que embarcamos.
Saímos do rio Mutum, entramos no rio Cuiabá. De cima dá para ver a diferença entre as águas. O primeiro é mais escuro. O segundo possui águas barrentas.
Ao nosso redor, pescadores profissionais se equilibram em canoas atrás dos pintados. O trabalho é na linhada de mão e quando não tem medida, os peixes voltam para água. Enquanto eles dispensam as fisgadas, as piranhas vão levando nossas iscas...
Mudamos de estratégia. Vamos em busca do dourado. E a sorte parece mudar! Ao invés do rei do rio, Jamilson traz uma surpresa. Um pintado pequeno. Insistimos atrás dos dourados e o guia mostra habilidade. Helen concentra as energias para trazer o dela. Mas o peixe só quer saber do Jamilson. A decepção é explicada pela força do rei do rio.
Ânimo redobrado
O despertar do Pantanal é um convite para voltar a pescaria. No caminho atrás dos peixes, a vida se exibe. A pescaria recomeça... Quando parece que vem o rei do rio, Jamilson traz um pintado. O guia não desiste e alcança o resultado. Enfim, o dourado. A isca foi substituída pela sardinha. Será que chegou a vez da Helen?
Buscamos um novo ponto e, logo e logo, tem rei na linha. E ele acerta a mão. Helen tem algumas oportunidades, mas falta firmeza na fisgada. O bicho é bom de briga.
Dia seguinte... A atividade parece melhor! Jamilson fisga rapidinho. E embala numa sequência de dourados na linha. No barco ao lado, o guia Djalma também traz o dele. Já no fim da manhã, quando Helen está quase desistindo, chega a sua vez.
Depois de uma semana correndo atrás do troféu, ela chegou ao podium dos pescadores. O comportamento da espécie confirma a fama de esportividade.
Ao longo dos dias tivemos a prova da riqueza desta região. Na água, no ar, na terra e na gente que vive aqui... O Pantanal é um conjunto de jóias da natureza.