terça, 03 de agosto de 2010
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O Festival de Inverno de Bonito que terminou neste domingo ofereceu aos espectadores a oportunidade de ver, em um mesmo espaço, a arte popular de mágicos, mamulengos, malabaristas, pernas de pau, e a arte refinada de reconhecidos artistas plásticos nacionais. Na mesma praça onde era possível assistir a teatro sentado no chão, uma galeria estava de portas abertas para receber amantes da arte e pessoas que não têm o hábito de visitar museus ou galerias tradicionais.
Convidados para expor seus trabalhos, os artistas Angella Conte (SP), Flavio Lamenha (PE), Rodrigo Moriz (MG) e Raul Leal (RJ) passaram a semana em Bonito, montando as exposições, conversando com visitantes da mostra, e se deslumbrando com a natureza do município.
"Foi uma semana maravilhosa. E essa idéia da galeria na praça que acontece no festival é uma proposta muito interessante", diz Angella Conte, que já esteve a Bonito a passeio nove anos atrás, e agora voltou com uma exposição que tem muito a ver com o lugar, porque propõe um olhar crítico para a paisagem e os problemas ambientais. A mostra trouxe vídeos e videoinstalação que instigam. Na obra maior, uma sala ganha coloração de luz azulada e reflexos espelhados enquanto se vê e ouve uma queda dágua. Da área principal da galeria, o ruído inconfundível da correnteza atraía os visitantes para esse espaço, separado por uma leve divisão de tecido, provocando uma descoberta surpreendente.
Também não dava para ficar impassível diante da arte bordada do mineiro Rodrigo Mogiz. A técnica de bordar não é tão incomum como possa parecer, segundo o próprio artista, e o diferencial em seu trabalho é o uso de sobreposição de camadas de entretelas para compor a peça. Em cada camada, uma parte do desenho, do bordado, da estória vai se desenhando; juntas, seus botões, linhas, pontos se tornam, ao fim, um único painel, onde o bordado também é a técnica para expressão textual. "É um trabalho que às vezes atrai pela beleza, mas que tem mais coisas por trás, elementos para fazer uma provocação, como discutir as relações pessoais, por exemplo. Existe uma relação poética entre a imagem e o que está escrito", explica Mogiz.
No trabalho de Raul Leal, não é o acréscimo, mas a subtração de elementos que ganha destaque. Com emprego associado de tecnologia e meio artesanal, fotografias servem de base para a construção de pinturas que sintetizam cenas urbanas, dando foco a elementos essenciais. "Na verdade, eu aproveito pouca coisa do elemento fotográfico. A fotografia é só o ponto de partida", explica o artista. Nas obras dessa série, o que ele busca representar o cotidiano da cidade grande, e a figura humana inserida ali. A pacata Bonito não se encaixa nessa proposta, mas nem por isso a cidade passou despercebida ao olhar atento do artista. Leal, como os demais expositores, diz ter gostado muito do cenário natural que Bonito proporciona a qualquer visitante.
Fotografia e tecnologia são instrumentos também do trabalho que o fotógrafo Flavio Lamenha trouxe para a exposição. Nas obras da série "Força de Expansão", ele próprio é visto diante das lentes, como personagem. A manipulação digital une retratos tirados individualmente, criando a ilusão de interação entre o que são, na verdade, vários do mesmo. "Foi interessante que algumas pessoas me viam na sala, olhavam os retratos, me olhavam de novo, em dúvida se era eu mesmo ali", conta, sobre situações que ocorreram durante as visitações na Galeria.