sábado, 06 de junho de 2009
MidiaMax News
A divulgação intensiva sobre o Pantanal e sobre o Turismo em Mato Grosso do Sul deve suprir a necessidade de reconhecimento do Estado no restante do País. Para o prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha (PT), outras batalhas, como a publicidade do Estado, são mais importantes do que discutir a mudança do nome.
Ele afirma ainda que já é possível perceber que projetos que usam a chancela do Pantanal não se refletem em benefícios à cidade. Ruiter entende que além de não trazer benesses, a mudança ainda resultaria em um conflito de identidade, tendo em vista que o Pantanal diz respeito a uma região geográfica específica. Ele acredita, ainda, que mudança não agradaria os moradores da região. "O povo pantaneiro tem suas próprias características, cultiva sua própria cultura e gosta de ser reconhecido por esse diferencial", diz.
O prefeito de Corumbá destaca ainda que existe no município uma grande expectativa com a aprovação de um projeto de lei do deputado federal Vander Loubet, que denomina a cidade de Capital do Pantanal. A matéria já passou pela Comissão de Constituição e Justiça e aguarda agora a votação em plenário. Uma eventual mudança no nome do Estado prejudicaria a denominação.
Parece contraditório, mas as queimadas controladas, autorizadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) contribuem para a redução dos grandes incêndios no Pantanal. Tanto que, nesses meses de estiagem, o procedimento não está sendo autorizado pelo órgão federal, que só libera as queimadas controladas na época das chuvas, a partir de setembro. "Não tem sentido tocar fogo agora porque o pecuarista vai deixar o gado sem ter o que comer, vai acabar até com a bucha, que é como chamamos o capim seco", afirmou ao Diário a engenheira agrônoma Sandra Mara Araújo Crispim, pesquisadora especializada em áreas de Pastagens Nativas e Cultivadas da Embrapa Pantanal.
Com base na regulamentação na época imprópria para queimadas, as pesquisadoras da Embrapa Pantanal, entre elas, Sandra Crispim, constataram que os recentes incêndios no Pantanal não foram provocados por pecuaristas. "Ocorreram em uma área devoluta da União, desabitada há mais de 20 anos, sem gado, sem pecuarista. O que pode ter acontecido é alguém ter ido pescar e deixado uma brasa acesa. Há muito material seco, de combustão no Pantanal. E quando o fogo começa, é difícil controlar", destacou. A pesquisadora revelou ainda que cientificamente ficou comprovado que o incêndio ocorrido no ano passado na serra do Amolar foi provocado pela queda de um raio. Sandra Crispim disse que as queimadas controladas são seguras porque seguem todos os procedimentos legais do Ibama, com a utilização de aceiro (roçada com trator para isolar a área), comunicado aos vizinhos, maior número possível de pessoas para acompanhar a queima e observação à velocidade e direção do vento. Segundo ela, estudo elaborado pela Embrapa Pantanal em 2002 comprovou a eficácia da queimada controlada como ferramenta de manejo para prevenção de grandes incêndios e, a partir daí, o pecuarista ficou isento de pagar taxa de R$ 3,50 ao Ibama por hectare queimado. Veja os principais pontos de sua entrevista.
Seca propicia mais incêndios
"Teoricamente, só deve voltar a ter chuva em setembro, outubro ou novembro. Teremos junho, julho e agosto com tempo seco. E a quantidade de grama seca, que é combustível, vai ser maior no Pantanal. Com isso podemos recomeçar a ter focos de incêndio. E depois que começa o incêndio é difícil controlar. Em alguns casos queima por cima e tem água por baixo, é complicado. Está se prevendo uma grande quantidade de incêndios. E dependendo do local da queimada, brigadistas podem gastar no mínimo quatro horas para chegar."
Pecuaristas
"Nesses últimos dois meses comprovadamente não foram os pecuaristas os culpados pelos incêndios. A queimada ocorreu em uma área devoluta do governo, há 20 anos desabitada, sem gado, sem pecuarista. Eles não tiveram nada a ver. E os pecuaristas sabem que não adianta fazer queimada agora, porque sem chuva, sem umidade, não vai nascer nada de bom depois. Lembra a experiência do feijão no algodão, ele só brota se tiver umidade. É a mesma coisa o solo do Pantanal. Seco, não germina. É melhor deixar o capim seco, pelo menos o gado tem o que comer."
Aceiros previnem incêndios
'É importante a questão dos aceiros, a roçada manual, ao se fazer a queimada controlada. Tira-se todo o material morto, limpa-se as áreas em volta. Passa-se dois metros de trator na área externa da fazenda para dificultar a entrada do fogo. E às vezes mais dois metros de trator na área interna. Mesmo com aceiro dos dois lados o fogo pode chegar por meio das palmas, dos galhos que se desprendem das palmeiras durante um incêndio. Por isso, nessa época de seca, tudo é mais complicado. Quando começa um incêndio, é difícil controlar."
200 espécies de gramíneas
"A queimada controlada funciona como prevenção aos grandes incêndios, porque no Pantanal existe uma quantidade imensa de capim. Há cerca de 200 espécies de gramíneas. Dessas 200 espécies, as preferidas para consumo dos animais são apenas nove. O animal seleciona o que vai comer. E uma grande quantidade de matéria seca vai ficando no solo. Quando você faz a queima controlada, elimina essa gramíneas secas, que o animal deixou de comer. Com isso reduz-se o combustível, a matéria morta que tem na área."
Área se recupera após incêndio
"Para manter a diversidade das espécies não devemos queimar a mesma área todo ano seguido. Se queimar agora, deve dar uma pausa de dois anos, para maior aproveitamento das sementes. Quando temos um incêndio como agora, a questão é duração e intensidade. Quando mais tempo e mais intenso, maior é o impacto. Na queima controlada se faz com o solo com umidade, para o banco de sementes germinar depois. Quando ocorre o incêndio acidental, sem umidade, não ocorre isso. Na área queimada, com certeza ela vai voltar ao que era antes. Demora mais tempo para retornarem espécies de teor nutritivo mais elevado. Dependendo do clima, da quantidade de chuva, o solo pode se recuperar em até dois meses."
Pantanal possui 85% intactos
"De acordo com o levantamento da Embrapa Pantanal, 85% da vegetação nativa do Pantanal estão intactos. Mas isso não significa que os outros 15% foram degradados. Ocorre que essa porcentagem inclui a pastagem cultivada, ou seja, aquele quadrilátero de cultivo de grama plantada pelo pecuarista, que também pode conter mata nativa. E existem áreas alteradas que não foram aferidas pelo levantamento e não significam desmatamento. A Embrapa Pantanal preconiza que é interessante cada fazenda ter sua pastagem cultivada, porque são muito úteis aos fazendeiros para alimentar categorias específicas - como touros após estação de monta, novilhas, vacas após o parto, situações que necessitam condição melhor de pastagem."