segunda, 11 de maio de 2009
Campo Grande News
"Na vida tem dois caminhos: o de ida e o de volta", trecho do filme Paralelos, sobre o Trem do Pantanal
A imponência da Serra de Maracaju, as formas do cerrado, o infinito número de dormentes abandonados às margens do caminho, a felicidade dos que saem de casa correndo para acenar um tchau. Imagens que podem ser avistadas da janela panorâmica do Trem do Pantanal.
Depois de mais de uma década distante dos trilhos, o som do apito, na estação de Indubrasil, soou às 7h45 de sábado, pondo em marcha a primeira viagem com destino a Miranda.
O ritmo dos sete vagões, sendo cinco para passageiros, é ditado pela locomotiva a diesel, sob o comando do maquinista Claudemir Sabbo. A velocidade média de 27 km/h, imposta pelo estado de conservação da malha ferroviária, evidencia que esta e viagem para quem não tem pressa.
Dentre os vagões de passageiros, dois se tornam atrações: o vagão bar (destinado às apresentações culturais) e o camarote. O primeiro, que reproduz tuiuiús, ipês floridos e o céu azul do Pantanal, será acessível para passageiros que pagarem a partir de R$ 39, valor mínimo para embarcar no trem.
Já o segundo só será conhecido pelos que desembolsarem R$ 126. No vagão camarote, as cabines de madeira, as luminária e fotos antigas do trem, ainda em preto e branco, garantem o clima de nostalgia.
Nas classes turística e econômica , há ar condicionado e poltronas em courino. O vagão turístico ainda inclui lanche, guia e apresentação cultural. Serviços ausentes na classe econômica. A classe executiva tem bancos em couro, guia bilíngüe e janelas amplas, que proporcionam melhor visão ao viajante.
No percurso até Aquidauana, o trem vai parar apenas em Piraputanga. Contudo, o breve tempo de dez minutos para embarque e desembarque promete frustrar os comerciantes locais. No caminho até a cidade "Portal do Pantanal" ainda há o distrito de Palmeiras, mas o cronograma de paradas do trem deixa os moradores do pequeno povoado na saudade.
No trajeto, apenas araras e bois se mostram ao olhar do viajante, que finda a viagem sem ver moradores ilustres do ecossistema, como o tuiuiú. Cabe frisar que o trajeto mais próximo da maior planície alagada do planeta foi feito no fim da tarde, quando a penumbra dificulta visualizar a paisagem.
O passeio se torna quente quando o sol do meio dia leva os seis ares condicionados à exaustão. Prestativos e diligentes, os guias ainda não dominam os pontos de passagem do trem, como o equívoco de confundir a estação de Piraputanga com a de Camisão.
Comovente - Pelo caminho, a população expressa alegria, carinho e esperança com a volta do velho trem. Adultos, crianças, idosos: todos se apressam para olhar, acenar, fotografar e aplaudir. Na estação de Aquidauana, inaugurada em 1911, a banda de musica recepciona os passageiros com o clássico composto por Paulinho Simões e Geraldo Roca: "Trem do Pantanal".
Lá, gente como Moisés Alencar, motorista de van de turismo, comemora. "O turismo é muito importante para a cidade, que não tem industrias, grandes empresas", afirma. "Estou muito feliz", resume o aposentado, Gerson de Alencar, que viajou no tempo da Maria Fumaça.
"A cidade é o que é por causa do trem. Quando o trem deixou de funcionar, uma parte da alma de Aquidauana também se fragmentou", enfatiza o prefeito Fauzi Suleiman. Às 16 horas, o som do apito põe o trem novamente em marcha.
No trajeto para Miranda, o viajante é brindado com a beleza do rio Aquidauana e pelo pôr do sol que avermelha o horizonte. Em seguida, a lua cheia imensa e amarela passa a boiar no céu.
Ultima parada, Miranda fez festa para ver o Trem do Pantanal. As pessoas se aglomeraram no entorno da ferrovia, pondo fim aos anos de espera. Na estação, fundada em 1912, cerca de duas mil pessoas aguardavam pelo trem, que chegou às 19h30.
A cidade investe em divulgação na imprensa nacional para atrair turista: jornalistas vão passar o domingo na cidade, hospedados em famosas pousadas do município. "Das cinco melhores pousadas do Brasil, duas são de Miranda. Temos 824 leitos disponíveis", salienta o secretário de Turismo, Duty Paiva.
Segundo ele, a expectativa é que o Trem do Pantanal reforce a economia da cidade.
Mil passageiros - De acordo com Adonai Aires de Arruda Filho, diretor comercial da Serra Verde Express, que administra o trem, o objetivo é chegar a vinte vagões em 2011, transportando mil passageiros.
No segundo semestre do ano que vem, o trem deverá chegar a Corumbá, trajeto que apresenta a paisagem mais bonita, conforme o relato de antigos viajantes.
"Corumbá e um dos destinos turísticos mais consolidados do Estado", reforça Adonai.
Segundo ele, no feriados, o trem fará apenas o roteiro até Aquidauana, para acelerar o retorno a Campo Grande. Neste dia, haverá parada no distrito de Palmeiras. Passagens para o trem já foram comercializadas no exterior, com grupos agendados, inclusive, para janeiro de 2010.
Desafios - Jornalista da revista "Viaje Mais", Victor Andrade, avalia que a baixa velocidade e o problema no ar condicionado do trem pode comprometer o passeio. "Esta velocidade não está com nada. É por uma questão de segurança, mas se torna chato", observa.
Ele conta que tinha o desejo de fazer a viagem e acredita que a mesma vontade motivará a procura pelo passeio turístico. "Minha tia fez essa viagem ainda no antigo trem", recorda. O gerador dos ares condicionados deverá ser remanejado do fim para o começo do trem.
Sebastião Rosa, dono de agência de viagem e integrante do conselho da Abav/MS (Associação Brasileira de Agências de Viagem), considera que o Trem do Pantanal é um produto vendável. "Mas precisa de um bom plano de marketing. Sob pena de não ter número suficiente de turista para manter o trem em atividade". Para ele, a estadia em fazendas da região será o ponto forte para atrair os turistas.
A viagem para jornalistas e operadores de agência de viagem foi oferecida pela Serra Verde Express, prefeituras de Aquidauana e Miranda, e governo do Estado.