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terça, 19 de julho de 2005

Viagem às entranhas do Brasil

O Estado de S. Paulo

Caderno Viagem e Aventura
Bonito - Nas entranhas do Brasil


Viagem às entranhas do Brasil

Exploração do Abismo Anhumas exige técnica e concentração. Recompensa são paisagens surpreendentes

Para os instrutores é só mais um dia de trabalho. Para quem pisa naquele território pela primeira vez, é a chance de superar um limite e de ter uma história para contar por toda a vida.

Se depender da motivação dos instrutores e de quem já passou por essa inesquecível experiência, considere-se lá dentro. O instigante Abismo Anhumas é uma das maiores aventuras do País. Ele fica na área do Vale Anhumas, a mesma em que há outras atrações que merecem a visita, como a famosa Gruta do Lago Azul.

Quem se aproxima da "boca" da estreita fenda não imagina que poucos metros abaixo irá se deparar com um salão de dimensões similares às de um campo de futebol. Ali dentro, um novo mundo se revela. Tenha consiência de que, para desbravá-lo, você terá de encarar um rapel negativo - sem contato com o paredão - de 72 metros de altura. Isso na hora de descer e, obviamente, na de subir!

A descida não leva mais que cinco minutos, mas é tempo suficiente para sentir o coração disparar, as mãos suare e os olhos buscarem detalhes escondidos. O ponto de chegada é num deck flutuante onde outros monitores esperam para dar o apoio necessário. Nele, há tempo para repor as energias com um leve lanchinho e se preparar para dar uma volta de bote ao redor do lago. Mas não é só isso. Também é possível fazer uma flutuação ou até mergulhar nas águas cristalinas da caverna.

Preparativos

A equipe de instrutores chega cedo para preparar os equipamentos. O clima é de total alegria. Parece até que vai rolar uma grande festa. E não deixa de ser! Na véspera do passeio, todos os participantes são obrigados a fazer um treinamento indoor, onde receberão as recomendações para a experiência.

Geralmente, as pessoas descem em dupla. Aos que não se sentirem seguros, o ideal é descer na companhia de um dos instrutores. Cada um vai numa corda. É bom estar preparado para as brincadeiras e testes de coragem que os instrutores promovem durante o percurso. Mas basta seguir as instruções que tudo flui naturalmente. Como se todos fossem especialistas.

Só não vale se esquecer de curtir cada centímetro que os olhos possam alcançar nesse espetáculo revelador da natureza. São imagens que ficarão gravadas para sempre na memória.

Escalada

Cada "explorador" controla seu ritmo. Para voltar ao topo, serão muitas paradas para conferir a paisagem, olhar para baixo, para cima, descansar... O tempo médio da subida é de 30 a 40 minutos. O importante é ficar atento. Paciência e decicação não faltam aos instrutores. Tudo é muito bem explicado, repetido e conferido para dar segurança ao aprendiz. Só não vale tocar nas rochas.

E eles ajudam os turistas a soltar a imaginação para enxergar as mais variadas figuras formadas nas rochas. "Veja o rosto do índio", diz Aladdin, um dos instrutores, apontando para uma rocha. "Olha aquela estalactite". E por aí vai.

E, quando sentem que a pessoa está relaxando, os guias logo soltam alguma piada, mas em tom de completa austeridade. "Meu avô desceu mais rápido porque ele gosta de adrenalina", brinca Vadu, numa tentativa de colocar mais emoção no trajeto. E quando alguém pergunta sobre o histórico acidente... "O mais grave foi quando quebrei a unha", ironiza ele.

Uma coisa que eles não se cansam de avisar é para não encostar no "stop", que freia a corda. O aparato aquece e pode queimar a pele, os cabelos, a roupa... "O perigo é entrar alguns fios de cabelo no stop, quando a pessoa olha para baixo", conta Maiko. Esse tipo de ocorrência para eles é um incidente, acidente nunca!

Eles contam que certa vez um "gringo" - que não falava nem água em português - enroscou a camisa no stop e os instrutores tiveram de içá-lo. "Ele aprendeu a falar rapidinho: me tira daqui", lembra Maiko, entre gargalhadas.

E o que acontece se a pessoa parar, por medo, no meio do caminho? "A gente desce junto e vai acalmando, conversando", conta Maiko. E funciona mesmo! "Eles passam muita segurança, não senti medo em momento algum", diz a catarinense Joana Farias, de 21 anos.

Registros

Toda pessoa que quer praticar qualquer esporte de aventura tem de assinar um termo de responsabilidade, que leva o título de Declaração de Conhecimento de Risco. Mas, no fim dessa aventura, quem completar a façanha vai assinar o livro dos sobreviventes. O melhor é saber que todos os que assinaram o tal termo também assinaram o livro dos sobreviventes. Ufa!

Nos registros do último livro, que começou em 2002, há assinaturas de gente de todo canto do Brasil e do mundo (do Rio Grande do Sul a Pernambuco e do Paraguai à Nova Zelandia). Entre os corajosos que encararam a aventura, segundo o livro dos sobreviventes, o mais novo tem 11 anos e o mais velho, pasmem, 72. "Quem entra no abismo sai outra pessoa", resume o guia Rogério Alves.

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