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segunda, 20 de janeiro de 2003

Bonito: um lugar para se embasbacar

Zip Travel

por Nica Camargo (redacaotravel@zip.net)
Fotos: Governo do Mato Grosso do Sul

"O que é isso, meu Deus?". O turista não resistiu. Teve de subir à superfície para extravasar a sua emoção ao dar de cara com um cardume de dourados logo na primeira curva do Rio da Prata. Não encontrava palavras para expressar o que via.

O guia, já tarimbado, sorriu orgulhoso. Sabia que aquela euforia iria se repetir na próxima curva, e na outra, e na outra, e em tantos outros passeios que o grupo ainda estava por fazer.

Uma reação perfeitamente compreensível quando se trata de um cenário como o de Bonito (MS), um daqueles lugares onde a natureza perdeu a modéstia. Pelo contrário: fez questão de mostrar toda a sua exuberância, das formas mais diversas possíveis: na água, na terra, e até debaixo dela.

Por isso mesmo Bonito é o destino ideal para os amantes do ecoturismo, que lá encontram um cardápio completo de tudo o que a natureza pode oferecer: belas caminhadas, grutas surpeendentes, plantas e animais exóticos, águas cristalinas e azuladas, peixes coloridos, cachoeiras de todas as formas e tamanhos. Portanto, se você também sentir vontade de tomar fôlego na superfície diante de tanta admiração, não se preocupe. Bonito é mesmo assim, um lugar extasiante, um lugar para se embasbacar.

Peixes de aquário... e você lá no meio!

A descida do Rio da Prata é uma boa forma de começar uma viagem a Bonito - e, logo de cara, adaptar-se ao "choque de beleza" que lhe acompanhará em todos os outros dias. O passeio começa fora dágua, numa trilha de cerca de uma hora onde é possível encontrar tamanduás, cutias, tucanos e outros animais exóticos, árvores suntuosas como a peroba, a aroeira e o jatobá - que além de colorirem e perfumarem, são responsáveis pela sombra ao longo de todo o caminho.

Ao chegar a nascente do rio - na verdade um afluente, chamado "Olho dÁgua" -, não há quem não se impressione com a quantidade e a diversidade de peixes. Parece um aquário em tamanho gigante. Só que com uma diferença: você vai mergulhar - e nadar - dentro dele. Dali em diante, são cerca de 2,5 km seguindo o curso do rio, deixando-se levar pela correnteza - uma técnica chamada flutuação. A cena se repete em outros rios, como o Sucuri - um passeio que, em noites de lua cheia, pode ser feito sob as estrelas, o Baía Bonita - onde está o Aquário Natural - e o Formoso - que, por ter uma correnteza mais forte, atrai uma moçada radical, que além dos peixinhos quer encontrar corredeiras, troncos e outros obstáculos. No mesmo Formoso pode-se praticar rafting, um passeio de bote bem tranquilo, com quedas pequenas, ideal para iniciantes.

A "setenta palmos do chão"

As grutas são outra atração imperdível. Primeiro, porque são uma boa oportunidade de entender melhor a geologia da região. Segundo, porque são dotadas de uma beleza tão impressionante quanto à dos rios cristalinos. A mais famosa de todas elas é a Gruta do Lago Azul, escavada há milhões de anos em uma rocha calcária.

Já quem tem um pouco mais de coragem e preparo físico pode se aventurar no Abismo Anhumas, uma enorme cratera que esconde no seu interior um lago azul - e gelado! - do tamanho de um campo de futebol. Só há um detalhe: para chegar até ele é preciso descer 72 metros por uma corda - numa técnica conhecida como rapel, que é ensinada lá mesmo pelos instrutores. Apesar do medo e da câimbra que às vezes faz com que as pernas não obedeçam, a manobra é muito segura e compensadora. Quem chega lá embaixo tem o privilégio de presenciar um dos mais inusitados cenários da natureza. Imagine só: você, a 72 metros do chão, nadando num lago azul turqueza que ninguém sabe onde termina - até hoje não se chegou ao fundo! - repleto de cones de calcário gigantes, iluminado pelos poucos - mas precisos - raios de sol que entram por uma fenda de pouco mais de 5 metros de diâmetro. Belezas que só Bonito pode reunir.

Ninguém é de ferro

Para quem prefere um programa mais pé no chão - nesse caso, literalmente - Bonito oferece uma infinidade de cachoeiras e outras belezas, digamos, a céu aberto. A maior de todas elas é a do rio Aquidabã, com 120 metros de altura, que pode ser alcançada por uma trilha de duas horas passando por pinguelas e trechos íngremes. Também são famosas as cachoeiras e os poços do rio do Peixe, do Parque das Cachoeiras e da fazenda Ceita Corê - onde você ainda pode andar a cavalo e conhecer algumas grutas. Na Serraventura - um paraíso para amantes de esportes radicais, como vôo livre, off road e mountain biking - você pode ir de bicicleta até a cachoeira Santa Marta.

Depois dos passeios, há sempre um gostoso almoço esperando pelo grupo de famintos na sede das fazendas. E, no final do dia, uma típica roda de Tereré - a bebida típica da região, feita com erva mate, água fria e limão, que hidrata e ajuda a manter o pique. Além, é claro, de ser uma boa desculpa para fazer amigos, bater papo sobre as aventuras do dia e já ir formando a turma para o passeio da manhã seguinte.

Dicas:

- Para conhecer as atrações de Bonito - que ficam todas em propriedades particulares -, você precisa estar acompanhado de um guia local credenciado pela Embratur.
- A melhor época para conhecer a região é de agosto a novembro, quando chove menos e os rios ficam mais transparentes. A época das chuvas vai de novembro a março.
- Seja qual for o passeio do dia, vista sempre uma roupa de banho por baixo. Nunca se sabe quando pode aparecer aquela deliciosa cachoeira para se refrescar. Tenha sempre a mão uma toalha e uma muda de roupa seca.
- Máquinas fotográficas são itens indispensáveis num lugar tão cheio de surpresas. Experimente levar um daqueles modelos descartáveis, que podem ser usados debaixo dágua.
- É proibido mergulhar nos rios da região usando filtro solar. Passe o protetor apenas quando sair da água.
- Todos os passeios ficam longe do centro. Se você chegou sem carro, pode juntar uma turma e fretar uma van (cerca de R$130 a diária). Outra opção - para grupos de até quatro pessoas - são os táxis, que fazem preços fechados para ir até os passeios, ficar esperando e trazer de volta.
- Há alguns meses, o mergulho em caverna foi suspenso na região de Bonito, devido a uma portaria do Ibama que proibiu a exploração turística de grutas subterrâneas. Apenas o Abismo Anhumas continua aberto, graças a uma liminar.

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