quinta, 26 de agosto de 2010
Aguapé - Planta Aquática no Controle e Remoção de Nutrientes e Outros Compostos em Piscicultura e Pesqueiro
Devido a necessidade de alta produção, rápido crescimento e obrigatórias correções químicas e orgânicas, a capacidade de auto-depuração em sistemas de manutenção e criação de peixes, tende a diminuir.
Uma das alternativas a serem utilizadas é a aplicação de plantas aquáticas, do tipo aguapé (Eichornia crassipes), suculento vegetal, (95% de água), com raízes longas, (até um metro), rizomas, estolões, pecíolos, folhas e inflorescências, podendo atingir uma altura variando desde alguns centímetros fora dágua, até um 1metro. Se apresentam suspensas (flutuando livremente) ou mesmo enroscadas em obstáculos e prezas ao solo em locais de água rasa e até enraizadas em áreas consideradas secas. Todas as partes, com exceção da semente, têm gravidade específica inferior a 1, e, por conseqüência, com enorme poder de flutuar. A reprodução ocorre num processo vegetativo, ou seja, novas plantas são produzidas por estolões, e o seu crescimento lateral ocorre a partir do rizoma.
Duplicam-se em até duas semanas, portanto quando em situações ideais, 10 dessas plantas podem cobrir 1 acre (pouco menos de ½ hectare,) em apenas 10 meses. Apresentam grande capacidade de regeneração, mesmo quando trituradas ou quebradas (o rizoma regenera nova planta, dependendo do tamanho do fragmento).
Quando as flores murcham, ocorre também uma autopolinização, através do dobramento, espiralamento e afundamento das suas espigas na água, dispersando suas sementes que só se liberam no início da estação fria, embora a planta floresça o ano todo. Tais sementes permanecem viáveis por mais de 7 anos.
O aguapé serve de abrigo natural à organismos de vários tamanhos e aspectos, oferecendo habitat a uma fauna bastante rica, desde microrganismos, moluscos, insetos, peixes, anfíbios, répteis e até aves.
A planta é utilizada como depuradora, retentora e removedora de nutrientes como o fósforo e o nitrogênio, com acentuada redução do DBO/DQO das águas; também de metais como o cádmio, o níquel, o mercúrio, o chumbo, a prata, o cobalto, o estrôncio e dos fenóis, por exemplo, além de diminuir consideravelmente a concentração de algas e coliformes, por adsorção em suas raízes, tornando as águas mais limpas e adequadas.
O aguapé removido de sistemas de manutenção e criação de peixes, é utilizado como alimento para outros animais, fertilizante e adubo para solos e matéria prima do biogás. Atenção: plantas originárias de sistemas receptores de efluentes agrícolas, esgotos domésticos e/ou industriais, não devem ser utilizadas como alimento/ração ou fertilizantes.
Com todos esses aspectos, o aguapé torna-se uma boa alternativa na piscicultura/pesqueiro, desde que se tenham condições adequadas de retenção ou cercado, (a planta deve sempre estar concentrada em um ponto final da correnteza ou ação do vento); de colheita ou remoção manual ou mecânica, com a utilização de ancinhos, dragas, forquilhas, condutores flutuantes, esteiras, etc..
Lagoa de filtração, preenchida por aguapés, recebedora das águas de lançamento (oriundas dos tanques), pode ser instalada, em forma simples de um tanque (mínimo de 10% do volume total das águas dos tanques de criação) ou em ziguezague, que promove um tempo de filtração maior pelo aumento da retenção e comprimento na circulação das águas, além de facilitar o acesso para remoção e controle das plantas.
Não se aconselha a utilização e presença de aguapés em lagos extensos, em represas com possíveis remansos ou mesmo tanques de dimensões maiores, pelas dificuldades de remoção e controle.
O material destruído ou retirado não deve permanecer à beira do lago de criação ou dentro deste, evitando-se sua decomposição, disponibilização orgânica e conseqüente desoxigenação (diminuição do teor de oxigênio dissolvido) e eutrofização (aumento de nutrientes) das águas.
O controle biológico é efetuado por espécies de peixes, como a própria "carpa capim". A utilização de produtos químicos (herbicidas, etc.) não é recomendado e deve ser evitado quando em sistemas de criação e manutenção de peixes comestíveis.
Bibliografia de referência
Biraghi, F.L., 1977. Estudo da cobertura de aguapé (Eichornia crassipes [Mart.]Solms) sobre as condições físicas, químicas e biológicas da água de tanques de criação de peixes, Fac.Ciênc. Agr.Vetr. Jaboticabal. Monografia obtç. Graduação em Zootecnia:47pp.mimeogr.
Brooker, M.P. & R.W. Edwards, 1975. Aquatic herbicides and control of water weeds. Water Res, 9:1-15
Mosse, R. A , J.M. Chagas & A R.S. Terra. 1979. Utilização de aguapé em lagoas de maturação para remoção de algas e coliformes em efluentes de lagoas de estabilização. 8º Congresso Latino-Amaericano de Microbiologia. Chile, out/1979 (resumo)
Perazza, M. C. D. , D. Navas-Pereira & M.T. Martins,.1981. O Aguapé: meios de controle e possibilidades de utilização. Revista DAE, 18-25.
----------------------, 1981. Problemática do controle de plantas aquáticas. Anais do 2º SIMPÓSIO Nacional de Ecologia (no prelo-CETESB/SP)
helcias@portalbonito.com.br
Professor Helcias Bernardo de Pádua, Biólogo-C.F.Bio 00683-01/D; Conferencista em "Qualidade das águas"; Especialista em Biotecnologia-C.R.Bio 01; Analista Clínico - Hosp.Clínicas SP; Professor de Biologia e Ciências-L-94.718-DR 5 - MEC, desde 1975; Consultor, professor e colunista; Memorista-AGMIB/Assoc. Grupo de Mem. do Itaim Bibi/SP; Graduando em Jornalismo/FaPCom