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KADIWÉUS - NARRATIVAS

A sociedade Kadiwéu teve na guerra de captura o fundamento de sua organização. A memória da guerra é bastante presente e acionada sempre nos discursos de auto-definição, bem como fonte de recursos a serem usados na sua relação atual com a sociedade nacional. O ideal do guerreiro é fonte de valores que ainda norteiam as suas práticas. Vários mitos Kadiwéu fazem menção aos Godapoagenigi, aqueles guerreiros que se sobressaíam por sua coragem e força física.

Dentre as narrativas que ouvi de seu rico repertório, os Kadiwéu distinguem pelo menos duas classes. A uma delas chamam de "histórias de admirar", ou "histórias que fazem milagres", "histórias sagradas", mais próximas da categoria de mitos propriamente ditos. Outra classe seria a das "histórias que aconteceram mesmo", que se apresentam como "descrição histórica" de eventos tais como as guerras do passado.

É nas "histórias de admirar" que os Kadiwéu vão buscar seus nomes pessoais -chamei-as "mitos de nominação". Muitos destes mitos são de propriedade de famílias de capitães, e os nomes pessoais que deles advêm podem ser usados por seus descendentes e cativos. Em muitas destas histórias, os protagonistas são ancestrais mitológicos de famílias de capitães. Algumas outras contam também com personagens míticos ancestrais de cativos, cujos descendentes lhes usam os nomes. Nestes mitos estão contidos ensinamentos, conselhos e prescrições. Cada um vem a explicar e a prescrever um costume: o ato da guerra de captura de crianças, a iniciação feminina, o uso da bebida feita do mel, determinados remédios, tabus alimentares. O mito de criação, também incluído nesta categoria, fala do início da sociedade Kadiwéu e daquilo que a distingue das demais sociedades com que mantêm ou mantiveram contato, tecendo comentários sobre as mesmas e sobre esta relação.