terça, 30 de setembro de 2008
Campo Grande News
Pesquisador da Embrapa em Corumbá identificou quanto vale o Pantanal. Segundo estudo, uma tese de doutorado, a região intacta, sem exploração do homem, vale US$ 112 bilhões por ano, no mínimo.
Valor anual da mata em pé é 270 vezes maior do que o lucro da pecuária, defende o levantamento.
A pesquisa, divulgada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, faz comparativo com o que se perde todos os anos com a devastação na região: cerca de US$ 414 milhões de prejuízo.
É a primeira vez que os recursos naturais são avaliados desse modo, com a comparação do que os recursos ambientais podem gerar, diante do prejuízo produzido pela pecuária, principal atividade local.
O oceanógrafo e economista gaúcho André Steffens Moraes estuda a região há quase 20 anos e chegou a conclusão de que um hectare preservado vale entre US$ 8.100 e US$ 17.500 por ano.
Nos cálculos do pesquisador entram valores da madeira, plantas, o ecoturismo e até a polinização feita por aves e insetos, o controle de erosão e a oferta e regulação de água, produtos e serviços que são perdidos quando a vegetação é derrubada. "Eu analisei quanto a sociedade perde quando se desmata", disse Steffens em entrevista à Folha.
O fornecimento de água garantido pela vegetação e a regulação de cheias e secas valem mais de US$ 3 mil por hectare ao ano, estima o pesquisador.
Ele também calculou aspectos como armazenagem de carbono e regulação do clima, mas de maneira menos precisa, já que há poucos estudos sobre o ciclo do carbono no Pantanal.
Dados do IBGE dão conta de que no Pantanal estão 5,3 milhões de cabeças de gado, Steffens alerta que a pecuária tradicional pode significar uma coexistência pacífica, já que o capim existe e não é preciso desmates, mas o risco está na pecuária extensiva, intensificada nas últimas décadas.
Devastação - O estudo mostra que desde os anos 70 houve um aumento na demanda por carne, associado a uma inundação no rio Taquari que diminuiu a área de pasto natural e fez os fazendeiros começarem a derrubar as matas nas chamadas cordilheiras, as áreas de floresta que ficam secas o ano todo, para aumentar a rentabilidade para US$ 28 por hectare ao ano.
As técnicas mais lucrativas também significaram destruição. Até 1991, apenas 545 mil hectares de mata nativa pantaneira haviam tombado. Em 2000 já era 1,2 milhão de hectares, ou 30% da área do Pantanal.