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quarta, 31 de dezembro de 1969

Uma nova proposta para Bonito

Meio Ambiente dá lucro – agora é para valer!
Uma nova proposta para Bonito

Muita gente já se encontra totalmente desiludido com a afirmação de que meio ambiente dá lucro, afinal, nas últimas décadas essa frase foi intensamente propagada, mas sem mostrar claramente como esse lucro viria.

O ideal seria que a preservação e conservação ambiental resultassem apenas da iniciativa por um mundo melhor, mas são poucas as pessoas que ainda pensam assim, principalmente em Bonito, onde a busca pelo lucro sempre foi uma constante.

Não faz muito tempo que se via plantação de soja nas margens dos rios de águas transparentes e límpidas (até a primeira chuva), e não havia o que convencesse de se reverter essa situação.

Hoje, com o lucro advindo do turismo, é claro que ninguém mais vai plantar nas áreas de preservação permanente mas, por outro lado, há resistência ainda à limitação do número de turistas nos atrativos – a tão falada, e pouco praticada, capacidade de carga dos atrativos turísticos.

Por um outro lado, é crescente o número de pessoas preocupadas com a questão ambiental, ainda mais com o aumento das catástrofes climáticas dos últimos meses.

Encontramo-nos perante um novo tipo de ambientalista, não mais aquele que luta apenas pela causa e por seu ideal, e sim um consumidor cada vez mais preocupado com sua própria sobrevivência no Planeta e o mercado vem se preparando, rapidamente, para essa nova situação.
Muita gente vem se perguntando se será possível reverter o atual quadro do efeito estufa, que eu não diria catastrófico, mas que certamente já vem comprometendo a qualidade de vida. Ai cabe a questão de se acreditar ou não na inteligência e criatividade humana na busca de uma solução, com relação ao que sou otimista.

Meu otimismo advém do fato das pessoas passarem a ver as coisas de forma global. Estamos cada vez mais pensando no planeta como um todo, e assim é que iremos resolver esse impasse. Outro aspecto dessa atual situação é a de que os agressores do meio ambiente não são mais apenas aqueles que derrubam as matas ou que cortam indiscriminadamente árvores. Todos nós, sem exceção, estamos contribuindo com o efeito estufa em praticamente todas atividades diárias que realizamos. Somos todos, portando, degradadores.

O que comento acima foi apresentado, de forma muito didática, em recente matéria da BBC, veiculada no programa do Fantástico, do dia 20 de janeiro de 2007. Nesse mesmo programa, havia sido divulgado que o Grupo Rappa contabiliza a quantidade de gás carbônico emitida em cada show para, em seguida, plantar o número de árvores correspondentes capazes de compensar essa emissão, e essa parece que será uma prática crescente, a qual vejo que passará a ser até uma obsessão.

O motivo de se plantar árvores deve-se ao fato dessas, ao crescerem, irem incorporando átomos de carbono em sua estrutura lenhosa a partir da absorção de gás carbônico, no processo de fotossíntese. Desta forma, uma árvore, no processo de crescimento, diminui a quantidade do gás carbônico na atmosfera.

Mas até ai, onde fica de fato, de forma clara e objetiva, a geração de lucro com a atividade ambiental, além da boa imagem que o grupo musical passa para a sociedade. O exemplo acima mostra que estamos perante uma sociedade cada vez mais consciente da questão ambiental, mas de uma forma diferente da que víamos no movimento ambientalista de alguns anos atrás. Cada vez mais vemos pessoas querendo salvar o meio ambiente por entender que, se não for assim, o futuro da humanidade na Terra está comprometido e até mesmo a sua própria vida ou a de seus descendentes.

É só esperar para ver que, daqui alguns meses, produtos nas prateleiras de supermercado estarão indicando quanto de gás carbônico foi gerado para produzi-los e não vai demorar muito para termos consumidores que vão optar pelos que emitiram menos, a despeito do preço. Essa situação já é uma realidade no Reino Unido, onde também o primeiro-ministro Tony Blair já vem contabilizando quanto emite de gás do efeito estufa em suas viagens para, em seguida, plantar o número de árvores que compensem essa emissão.

Mas como obter lucro? Talvez estejam se perguntando quem se sentiu atraído por essa perspectiva, através da leitura do título do presente texto.

Quem melhor responde a essa pergunta é o Prof. Jacques Marcovitch em seu recente livro “Para mudar o Futuro – Mudanças climáticas, políticas públicas e estratégias empresariais”, editado pelas editoras Saraiva e EDUSP.  Nesse livro, além de um detalhado e completo histórico da questão das mudanças climáticas, são apresentadas diversas estratégias empresariais brasileiras na área de alimentos, produção de papel, siderúrgicas e de produção de energia, na utlilização de MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Prestem atenção nessa sigla, ela passa a ser tão importante como muitas outras ligadas à questão ambiental.

O Mecanismo de Desenvolvimento limpo ocorre por ações e procedimentos que geram os chamados “crédito de carbono”. Esses créditos são certificações da quantidade de gás carbônico, em toneladas, que se deixou de emitir para atmosfera ou que tenha sido seqüestrado, como com a plantação de árvores. Segundo consta do livro do Prof. Marcovitch, em junho de 2006 o preço médio da tonelada de carbono era de 14,96 euros, tendo sido comercializadas 1,619 milhões de toneladas. Dentro dessa promissora perspectiva de mercado, dezenas de empreendimentos estão operando, inclusive no Brasil, com crédito de carbono.

O turista que vai a Bonito é cada vez mais consciente, do tipo que vai buscar comprar produtos que emitem menos gás carbônico ou fabricados por empresas que mantêm mecanismos de desenvolvimento limpo. Não vai demorar muito para que essa exigência chegue aos serviços turísticos. Nesse sentido, por que não iniciar um processo criativo de mostrar que os empresários de Bonito se encontram atentos a essa nova tendência mundial?

Muitas idéias podem surgir, como a diminuição de emissão de metano – outro gás responsável pelo efeito estufa – da área de disposição do lixo da cidade, onde não sei se já não foi construído o necessário aterro sanitário. Mas gostaria de deixar aqui minha contribuição.

Sugiro que alguns hotéis e agências, ou consórcio dessas, venham a adquirir uma área na Serra da Bodoquena, de preferência próxima ao Parque Nacional, ou nas áreas desmatadas entres as grutas do Monumento Natural Gruta do Lago Azul, ou outras degradas pela erosão. Essas áreas seriam destinadas ao plantio de árvores. Poderia ser feito um cálculo de quanto é emitido de gases, geradores do efeito estufa, por um turista que se desloca, por exemplo, a partir de São Paulo e permanece na região por cinco dias. A partir desse cálculo, seriam estimadas quantas árvores plantadas seriam necessárias para compensar essa emissão. O turista seria então informado que, ao vir a Bonito, sua emissão de gás de efeito estufa seria compensada.
Ao retornar a sua cidade, o turista poderia receber uma fotografia das árvores plantadas, identificadas com seu nome.

Tal atitude, além do ganho ambiental mundial (diminuição do efeito estufa) resultaria num ganho ambiental local (diminuição da erosão e turvamento das águas), além de chamar atenção para o turismo de Bonito.

E tem mais, o mencionado empreendimento (plantação de árvores) pode vir a ser certificado e possibilitar a venda dos créditos de carbono obtidos, o que não é assim tão fácil, mas também não é impossível.

Se essa idéia vier a ser implementada, teremos mais uma vez Bonito se sobressaindo no cenário turístico nacional.

COLUNISTA

Paulo Boggiani

boggiani@portalbonito.com.br

Paulo César Boggiani, Geólogo formado e com doutorado pela Universidade de São Paulo, foi professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Diretor Científico da FUNDECT - Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul. Atualmente é professor do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental do Instituto de Geociências da USP. Foi o coordenador do primeiro curso de formação de guias de turismo de Bonito.

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