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quinta, 26 de agosto de 2010

Molhando as Rodas

Quando falamos em mergulho, logo associamos a atividade com pessoas de porte físico atlético, barcos, mar e um certo tom de aventura. Tudo isso imaginamos estar distante de nós e acessível apenas a um pequeno número de pessoas.



Quando olhamos uma pessoa em uma cadeira de rodas, logo associamos a uma condição de inatividade e impossibilidade de fazer muitas coisas. Se pensarmos um pouco mais, vamos nos recordar de já tê-los visto ao vivo ou pela televisão, praticando esportes tais como basquete, jogos com bola ou corridas. Porém se a pessoa numa cadeira de rodas nos diz que quer mergulhar, certamente pensamos que é impossível, pois a nós mesmos, a idéia parece absurda!!



O engano é duplo ! Primeiro por que o mergulho atualmente é acessível a maior parte das pessoas, sejam elas atletas ou não, mulheres, idosos, gordinhas e gordinhos. Segundo por que o deficiente físico não é totalmente incapaz. É óbvio que as limitações são muitas e em várias atividades, mas jamais podemos presumir que alguém seja incapaz de fazer alguma coisa somente por que nós mesmos, muitas vezes não temos coragem de faze-lo. Mesmo que esse alguém seja um portador de deficiência.


O mergulho ao contrário do que muitos pensam, não exige grande esforço físico. Quando estamos na água, não temos a sensação do peso. Mesmo que os  movimentos sejam mais lentos por causa da resistência da água, o esforço para se manter flutuando é bem menor do que para se manter em pé na terra. A impressão é a de estar voando, pois o equipamento auxilia o mergulhador a se manter neutro sob a água. Por estes e outros motivos o mergulho é uma atividade que pode ser praticada também pelos portadores de deficiência física.


Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro existem inclusive cursos direcionados para este público, que adotam técnicas e procedimentos especializados para ensinar mergulho aos portadores de vários tipos de deficiência.


Quando o deficiente físico se liberta da cadeira para um meio totalmente novo ele não está apenas mergulhando, está vencendo medos da mesma forma que nós tivemos de vence-los, pois também não nascemos na água. Ele tem a possibilidade de integração total com um ambiente que reduz drasticamente suas limitações físicas e o coloca em igualdade com qualquer um de nós, pois teremos as mesmas limitações que ele. Como por exemplo; adaptação ao meio aquático, dificuldade de comunicação, dificuldade de locomoção e a grande limitação que é o tempo que podemos permanecer sob a água. Este limitante é praticamente o mesmo para todos, independente da condição física. Quanto menos movimentos fazemos, quanto mais controlamos nossa ansiedade, tanto mais conseguimos permanecer sob a água.


Molhar as rodas significa também lavar a alma, é praticamente impossível sair de um mergulho e continuar sendo a mesma pessoa que antes. O medo, o desafio superado, o trabalho em equipe, a confiança e a disciplina fazem desta atividade uma grande ferramenta de crescimento pessoal.


OBS; As fotos deste artigo foram feitas com Divina Célia Garcia 30 anos, portadora de Poliomielite (paralisia infantil). O mergulho foi realizado no Rio Formoso em Bonito-MS e foi a primeira experiência de Divina com mergulho. Segundo ela foi uma das melhores experiências de sua vida. Divina está no 4º ano de Psicologia na UCDB e trabalha com o projeto “4 rodas e 1 coração. Fotos: Damian Jonh Harper.

COLUNISTA

Ismael Escote

ismael@portalbonito.com.br

Ismael Escote, Instrutor de Mergulho PDIC. Cave Diver - Trimix Diver - Technical Diver. Guia de Turismo e empresário.

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