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quinta, 26 de agosto de 2010

Mato Grosso do Sul na rota dos gaviões

Para os entusiastas do futebol, o título da matéria pode sugerir que a equipe do Corinthians esteja vindo disputar alguma partida em Campo Grande acompanhada da sua fiel torcida... Porém, os gaviões a que me refiro são aqueles de verdade, as aves de rapina que para nós, biólogos, se enquadram na família dos chamados acipitrídeos.

Dois fatos ocorridos nas últimas semanas merecem destaque no que se refere à ocorrência destes animais em território sul-mato-grossense. No meio da semana passada (mais precisamente dia 18 de janeiro) fomos presenteados com uma bela foto do gavião-real (Harpia harpyja) em seu ninho localizado em uma propriedade particular de Bonito, às bordas do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. A imagem, de autoria do fotógrafo mineiro João Marcos Rosa, ilustrava a primeira página do jornal de maior circulação em Mato Grosso do Sul. O registro merece especial destaque por se tratar de uma espécie em extinção e que, pela primeira vez, tem um ninho localizado no Estado.

Alguns dias antes, enquanto eu realizava trabalho fotográfico para a Conservação Internacional (CI), me deparei com situação semelhante em uma reserva particular situada na região centro-norte do Estado. Só que desta vez a espécie era outra, o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), e – melhor de tudo – estava com um filhote no ninho! Tive o privilégio de fotografar ambos interagindo por mais de duas horas, e no último final de semana voltei ao local novamente e permaneci por mais de 20 horas observando e fotografando adulto e filhote enquanto se alimentavam, treinavam vôo ou simplesmente descansavam nas horas mais quentes do dia. E nesta situação, praticamente pendurado à beira de um precipício, eu fiz a imagem que ilustra a presente matéria.

Os dois relatos acima merecem atenção e reflexão especiais, uma vez que as aves chamadas de rapina – e não só elas – estão ameaçadas devido a ações humanas como a destruição de seus ambientes naturais e a caça. No caso específico dos dois gaviões citados, algumas pessoas os matam pelo fato de supostamente atacarem animais de criação como galinhas e carneiros, sem se lembrar que estas aves também nos ajudam ao se alimentarem de animais “indesejáveis” como cobras e roedores. Ou seja, ainda que os gaviões eventualmente cacem um animal que nos pode ser útil, será que não vale a pena evitar agredi-los para que eles também nos ajudem ao desempenharem seu importante papel na natureza?

COLUNISTA

Daniel De Granville

daniel@portalbonito.com.br

Daniel De Granville, Biólogo formado pela USP e pós-graduando em Jornalismo Científico pela Unicamp, reside em Mato Grosso do Sul desde 1994, onde tem se dedicado ao ecoturismo e à fotografia de natureza. Seu site pessoal é www.fotograma.com.br, e o dia-a-dia do seu trabalho pode ser conferido em www.fotogramablog.blogspot.com.

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