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quinta, 26 de agosto de 2010

Enxergar

Conversava dias atrás com um amigo fotógrafo de São Paulo sobre nosso papel e da importância da fotografia no inconsciente coletivo. Muitas vezes não nos damos conta de quão fundo podemos influenciar o humor e a visão das pessoas. Dependendo do olhar que colocamos no momento do click, e do sentimento que nos conduz ao registrar a imagem, a fotografia final transmitirá inegavelmente todo um estado de espírito, e uma visão do mundo. Uma visão para o mundo.

Desde muito jovem acompanho o trabalho de Sebastião Salgado, e de outros fotógrafos que seguem a sua escola. É um trabalho primoroso. Sua técnica é única. São imagens perfeitas esteticamente. Mas há um lado de seu trabalho, e provavelmente, o mais importante de sua obra, que repugno. Provavelmente serei muito criticado por escrever isso, mas sustento minha opinião.

A visão pessimista (alguns a chamam de realista) do fotógrafo é muito predominante, forte. Todas suas fotos carregam a dor, a exploração, o sofrimento das pessoas e comunidades de todo os cantos do planeta. Independentes do tema abordado, essa visão “realista” é presente a todo momento.

Já tive acalorados debates com colegas sobre isto, mas continuo firme na minha opinião sobre o papel do fotógrafo e da fotografia.

Todos os dias vemos pela janela de nossos carros, ou pelas telas da TV, ou em revistas e jornais, enfim, por todo lado, muita miséria, sofrimento humano, mortes, corrupção, maldade humana. O homem tem um lado sanguinário muito forte, talvez seja uma herança biológica da época das cavernas. Sei lá, não entendo. Mas sinto que o mundo precisa de boas energias. Estamos todos carentes.

O fotógrafo tem um papel muito importante ao trazer alegria e mostrar o belo com seu trabalho. Sempre pensei assim, e faço meu trabalho buscando esse prisma.

Em todos os cantos deste mundo há beleza, cultura, música, dança, arte, alegria. Há nascimentos, sorrisos, cores, gente que mesmo com todas as dificuldades, sempre tem um sorriso no rosto e uma mão a estender.

O mundo ainda tem cores belas e nativas, “ainda tem”. Lindos pores-do-sol brilham no horizonte. Existe um outro lado da vida, mesmo no nosso dia-a-dia, que precisamos enxergar e seguir.
O homem ainda pode viver amores, chorar de alegria, ou de paixão, pode sentir a brisa do mar, ou a chuva em seu corpo. Existe muita felicidade espalhada por aí, às vezes um pouco escondida, mas perfeitamente acessível, talvez mais acessível do que você imagina.

Valorizo o papel de quem consegue enxergar as injustiças e dor no mundo e transmitir isso em suas fotografias. Mas penso que uma fotografia que faz sorrir, que passe a beleza deste mundo, tem um efeito mais profundo na alma das pessoas.

Li outro dia algo muito precioso, as palavras diziam mais ou menos o seguinte: “viva sua vida ao máximo, aproveite cada momento e de o seu melhor para o mundo que o cerca, não tente mudar o mundo, apenas viva o melhor que puder”.

COLUNISTA

Arlindo Namour Filho

namourfilho@portalbonito.com.br

Arlindo Namour Filho, 28 anos, residente em Campo Grande - MS. Formação superior em Direito e Turismo, fotógrafo profissional e repórter e articulista de turismo desde 1999, escreveu nos jornais O Palanque e A Crítica, e escreve atualmente na revista O Palanque VIP e no portal Campo Grande News.

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